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Nº 1736 - Ano 37
02.05.2011

Quando o POSTO DE SAÚDE vira
SALA DE AULA

UFMG coordena videoconferências do Telessaúde
pelo terceiro ano seguido

Léo Rodrigues*

Diz o ditado popular que a vida é um aprendizado constante. O trabalho na saúde atesta a força dessa definição. Longe da academia, profissionais da área convivem com a necessidade permanente da atualização, o que levou o Ministério da Saúde a lançar o Projeto Nacional de Telessaúde, que se materializa principalmente nas videoconferências. O objetivo é promover a integração das equipes de atenção básica espalhadas pelo país e as instituições de ensino de referência. A Faculdade de Medicina da UFMG coordena as videoconferências do estado de Minas Gerais pelo terceiro ano consecutivo.

As transmissões, realizadas pelo Centro Tecnológico em Saúde da Faculdade de Medicina (Cetes), são divididas em três áreas: medicina, enfermagem e odontologia. Os municípios recebem equipamentos e treinamento. Segundo Gustavo Pena, coordenador das videoconferências da área de medicina, o objetivo é capacitar os profissionais para lidar com variadas situações. “Hospitais de cidades maiores têm recebido muitos pacientes de municípios pequenos. Se as equipes forem mais bem instruídas poderão evitar deslocamentos desnecessários e tornar mais eficazes os encaminhamentos realmente essenciais”, explica ele.

Cinquenta municípios foram cadastrados a partir de seleção que considerou a carência das regiões. Em média, são duas transmissões por mês, no posto de saúde local. Os profissionais se reúnem para a exposição teórica de 40 minutos realizada por palestrante convidado. Em seguida, há um debate interativo de 20 minutos, no qual todos podem levantar questões e ouvir comentários e dúvidas de colegas de outros municípios.

A participação dos estudantes do Internato Rural também é incentivada. Antes de se deslocarem para o interior de Minas, eles recebem instruções na UFMG sobre a telessaúde. Entre os alunos do curso de Enfermagem, a presença nas videoconferências é considerada atividade integrante do internato rural desde o ano passado. “A capacitação a distância dribla as dificuldades da complexa geografia do país. Os novos profissionais que entenderem isso poderão contribuir mais com a melhoria da saúde da nossa população”, diz Eliane Palhares, coordenadora das videoconferências da área de enfermagem. Essa também é a aposta do curso de Odontologia, cujo novo currículo propõe disciplina optativa ligada à telessaúde.

Interatividade

Não é só durante as transmissões que os profissionais locais se manifestam. Eles participam do planejamento das videoconferências e, ao final de cada semestre, votam em quais temas serão discutidos nos próximos seis meses.

Caso autorizadas pelos palestrantes, as videoconferências são disponibilizadas posteriormente no sítio eletrônico www.telessaude.ufmg.br, somente para profissionais dos 50 municípios cadastrados. Entretanto, Gustavo Pena considera que o recurso só deve ser usado por quem realmente não puder comparecer às transmissões ao vivo. “As pessoas precisam acompanhar na data marcada, pois o diferencial é a interatividade. Os integrantes das equipes de saúde podem discutir em tempo real a partir de acontecimentos específicos que vivenciaram”, argumenta.

Debruçar-se sobre as experiências práticas locais – ao invés de depender exclusivamente da teoria – tem sido uma estratégia adotada pelo telessaúde. “Além das videoconferências, há outras ferramentas que trabalham no mesmo sentido. Na teleconsultoria, por exemplo, a opinião de um outro profissional sobre um caso específico é fornecida a distância”, conta Simone Lucas, coordenadora das videoconferências da área de odontologia. O cronograma das videoconferências no primeiro semestre de 2011 está disponível no portal www.telessaude.ufmg.br.

Das montanhas para a floresta

As videoconferências produzidas pela UFMG na área de odontologia já não são um privilégio único dos municípios incrustados nas montanhas mineiras. Convênio assinado com o Núcleo de Telessaúde do Amazonas também permite a transmissão para cidades dispersas ao longo da maior floresta do mundo. A proposta começou a ser estudada há um ano, segundo Márcia Costa, coordenadora de Teleodonto do Amazonas e professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Este é o primeiro semestre das transmissões, que ocorrem mensalmente. A expectativa é que a partir do próximo semestre a periodicidade seja quinzenal. Seis municípios participam das atividades: São Gabriel da Cachoeira, Tefé, Autazes, Itacoatiara, Tabatinga e a capital Manaus. “É uma ferramenta que oferece suporte importante aos dentistas e contribui para que eles se fixem em locais onde a distância e a dificuldade de contatos resultam em falta de profissionais e carência de atendimento”, diz Márcia, que acredita ser possível, no futuro, estender as transmissões para todos os 62 municípios do estado.

* Jornalista da Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG