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Nº 1749 - Ano 37
19.9.2011

SEM CARRO por um dia

UFMG adere ao movimento mundial de reflexão sobre o
uso consciente do automóvel

Ana Rita Araújo

V encer o trajeto de cerca de 10 quilômetros entre o centro de Belo Horizonte e o campus Pampulha a pé, de ônibus, de bicicleta e de carro é a tarefa que algumas pessoas vão enfrentar nesta quinta quinta-feira, 22. Com chegada em frente ao prédio da Reitoria, todos terão o tempo de percurso cronometrado e irão relatar as dificuldades encontradas no caminho. A atividade integra a programação da campanha Bocados de Gentileza, que aderiu ao movimento Dia mundial sem carro.

“A ideia não é estabelecer uma competição, mas observar as diferentes experiências e entender os pontos positivos e negativos de todas essas formas de deslocamento”, explica a pró-reitora adjunta de Administração, Eliane Ferreira. Durante todo o dia, ações serão realizadas no campus, com o intuito de mostrar como o ambiente da Universidade pode ser utilizado de forma mais consciente, proveitosa e saudável. A programação acontece em uma das pistas da avenida Mendes Pimentel, no quarteirão mais próximo à Praça de Serviços, que será fechado ao trânsito.

A preparação para o Dia sem carro inclui publicação, no site institucional (www.ufmg.br), de pesquisa sobre hábitos de locomoção de integrantes da comunidade universitária, bem como instalação de faixas que sugerem uso racional de veículos particulares, especialmente na data. Para o servidor Roger Ferreira da Silva, do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), compartilhar o carro não será experiência nova. Morador do bairro Milionários, na região do Barreiro de Baixo, adaptou sua rotina para trazer passageiros que trabalham ou estudam no campus Pampulha.

“Eles me ajudam com o combustível e chegam de forma mais rápida e confortável do que se viessem de ônibus. Penso que com esse tipo de iniciativa todos saem ganhando, incluindo o meio ambiente”, avalia Roger, ao lembrar que esta atitude tem potencial para reduzir o congestionamento das vias da cidade em geral e da UFMG em particular.
Eliane Ferreira comenta que a Universidade sozinha não pode fazer muito, já que o problema de trânsito sentido por quem vem ao campus é um reflexo da cidade, em especial da falta de transporte público de qualidade. “Temos feito gestões junto à prefeitura, além de adotar iniciativas próprias”, informa, ao citar demanda encaminhada à professora Heloísa Barbosa, do Departamento de Transporte e Geotecnia da Escola de Engenharia, para que oferecesse panorama da circulação e da mobilidade no campus. O resultado do trabalho, que será apresentado ao Conselho de Diretores, prevê, por exemplo, ocupação diferenciada da avenida Mendes Pimentel, com a construção de um bulevar e de ciclovias.

Outra medida em andamento é a compra de serviço terceirizado de estudo do tráfego interno, que oferecerá dados para revisões na sinalização e nas áreas de estacionamento do campus. “O edital está em fase de conclusão”, adianta Eliane Ferreira, ao destacar que a análise realizada pela equipe da professora Heloísa Barbosa ofereceu subsídios para que a Universidade soubesse o que incluir no edital. “Eventos como o do dia 22 têm o intuito de sensibilizar a comunidade para o uso adequado de automóveis no campus, pois tudo o que fizermos pode ser neutralizado pelas circunstâncias, se as pessoas continuarem a aumentar o número de veículos particulares – em especial aqueles para uso individual – que chegam em busca de vagas de estacionamento”, adverte a pró-reitora adjunta de Administração.

Novo paradigma

Autora de diversos estudos sobre trânsito, a professora Heloísa Barbosa afirma que só a existência de transporte público de qualidade e confiável é capaz de reverter o atual quadro, que não é exclusivo da UFMG nem de Belo Horizonte. Entre as técnicas de gerência da mobilidade, ela cita como importantes fatores a carona programada, a promoção do uso de bicicletas e do modo a pé, além da melhoria do transporte coletivo.

O estímulo à carona programada ganhou impulso em junho, com o programa Caronas UFMG, criado pela Empresa Júnior Emas Consultoria, vinculada à Escola de Engenharia. A base da iniciativa é o site www.caronasufmg.emasjr.com.br, que aceita alunos e funcionários com endereço eletrônico provido pela Universidade. Os usuários declaram informações que possibilitam cruzamento de interesses. Segundo os responsáveis pelo projeto, o sistema pretende dar segurança a muitos motoristas, que deixam de oferecer caronas por não ter referências de quem pede.

Com relação ao uso de bicicletas, Heloísa Barbosa cita os exemplos de instituições como as universidades do Rio Grande, de São Paulo, de Brasília, e a Fundação Oswaldo Cruz, do Piauí. A pesquisadora explica que as tendências atuais de intervenção têm como base uma mudança de cultura, em que o predomínio deixa de ser do automóvel e passa a ser do pedestre e do ciclista.

É também esta visão que norteia pesquisa do professor Dimas Alberto Gazolla, do mesmo Departamento. Ele defende medidas de restrição ao uso e circulação de automóveis e a priorização de recursos em transporte público e não motorizado. “É preciso mudar o paradigma”, ressalta.