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Nº 1749 - Ano 37
19.9.2011

O termo surgiu em 2004 com Thomas Vander Wal, para designar uma classificação popular que se origina das ações de representação da informação desempenhada pelos usuários de diversos serviços na web. É uma inovação que explora o uso da linguagem cotidiana e o potencial das redes sociais na organização da informação.

Fisgada pelo CÉREBRO

Com formação em Física, pós-doutoranda da UFMG conta como enveredou para as neurociências

Gabriella Praça

Para muitos, a cena seria de embrulhar o estômago. Mas quando viu, ainda na infância, um cérebro de boi a hoje neurocientista Danielle Santos foi tomada pelo fascínio. Mais tarde, já graduada em Física, o interesse pelo cérebro ganhou contornos mais elaborados. Durante o mestrado na Universidade de São Paulo, no início da década passada, quando pesquisava ecologia de populações, uma indicação bibliográfica do orientador foi a faísca que faltava para reacender seu interesse pelo órgão. “Li uma obra sobre redes neurais, me aprofundei no tema e percebi que o formalismo que eu vinha aplicando à ecologia de populações poderia ser empregado, também, na pesquisa em neurociências”, recorda-se.

A nova perspectiva trouxe Danielle ao programa de Pós-graduação em Física da UFMG, onde desenvolveu seu projeto de doutorado, a partir de 2005, sob orientação do professor Ronald Dickman. Seria o primeiro grande desafio de sua carreira. A proposta era trabalhar em um modelo matemático que descrevesse a geração de atividades epileptiformes em uma região do cérebro. O modelo foi desenvolvido no Laboratório de Neurociência Experimental e Computacional, coordenado por seu coorientador, o professor Antônio Carlos Guimarães de Almeida. Na prática, a tarefa de Danielle era passar cerca de oito horas diárias em frente ao computador, trabalhando em um programa que simulava essas atividades e fazia os cálculos.

Partindo do zero

Segundo Danielle, há um movimento mundial de entrada em massa de físicos no campo das neurociências. Isso porque a área carece de um arcabouço de leis para descrever os fenômenos estudados nos moldes dos princípios que regem a Física. Para ela, no entanto, a migração não foi simples. A pesquisadora precisou aprender Biologia por conta própria. “Comecei do zero, estudando a literatura básica de neurociências e lendo artigos”, relembra.

Para quem costumava estudar eletromagnetismo e mecânica quântica, o novo campo causou um estranhamento inicial. “Físicos estão habituados a ler artigos fazendo as contas para entendê-los, então não foi fácil estudar papers em Biologia”, confessa. Já no final do doutorado, em 2009, Danielle fez uma escola de inverno em Neurociência Computacional em Ribeirão Preto, que serviu como revisão dos conceitos que aprendera sozinha. O curso tinha um mês de duração e uma carga horária pesada. Além do aprendizado, seu maior ganho foi o contato com pesquisadores brasileiros e estrangeiros. “Foi uma das melhores coisas que me aconteceram no doutorado”, confessa.

Portas abertas

Em 2009, a pesquisadora iniciou uma colaboração com o professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG, Jader Cruz, especialista em biofísica e eletrofisiologia. Ele abriu o laboratório para a então doutoranda em Física, ainda que ciente de que ela nunca havia feito experimentos antes. “Mais uma vez aceitei o desafio, por acreditar que me faria crescer”, justifica. Era nas conversas com o professor que Danielle definia seu projeto de pós-doutorado. Em uma delas, Jader sugeriu que ela apresentasse um trabalho na terceira edição do Simpósio de Pós-graduação em Neurociências da UFMG. A pesquisadora submeteu um resumo no último dia das inscrições, recebeu o aceite e apresentou o trabalho – um pôster que seria premiado como o melhor do evento.

Ainda no mesmo ano, Danielle aprendeu a fazer experimentos de eletrofisiologia com neurônios cultivados em laboratório. A experiência mostrou que ela tinha perfil para atuar não apenas no computador, mas também com experimentos, pois gosta de preparar culturas de neurônios e de fazer registros eletrofisiológicos. “Esse trabalho tem uma parte experimental e uma de modelagem, o que resulta em uma rotina dinâmica”, explica. Atualmente em fase de conclusão do pós-doutorado na UFMG, a pesquisadora já vislumbra o próximo desafio. “Gostaria de trabalhar com simulação, fazendo meus modelos no computador, e com experimentos, registrando os sinais elétricos originários de células nervosas.”

Esta semana, ela participa pela terceira vez do Simpósio de Neurociências da UFMG – que agora ganhou status de Semana de Neurociências. Danielle integrará mesa-redonda sobre modelagem.