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Nº 1771 - Ano 38
16.4.2012

Do minério à pele artificial

Ao comemorar sua milésima defesa, programa de pós-graduação em Engenharia Metalúrgica caminha para consolidar excelência na pesquisa de materiais avançados, como os que atuam
no sistema biológico

Ana Rita Araújo

O desenvolvimento de novos materiais – em especial aqueles que atuam nos sistemas biológicos – tem atraído para a engenharia profissionais da área de saúde, como dentistas, fisioterapeutas, veterinários, farmacêuticos e médicos, além de físicos e químicos. Eles compõem boa parte das turmas de alunos do Programa de Pós-graduação em Engenharia Metalúrgica, Materiais e de Minas, que está completando 40 anos e atinge esta semana mil dissertações e teses defendidas. Tais marcos serão comemorados nesta terça-feira, dia 17, tendo como ponto alto a defesa de número 1.000, uma tese de doutorado de autoria da engenheira e servidora Andréia Bicalho Henriques.

Atualizado recentemente, o nome do programa reflete a trajetória de uma área do conhecimento que começou com a exploração de minérios, alcançou o estágio do processamento dos metais e, a partir do final do século 20, incorporou a contribuição tecnológica e científica dos novos materiais. Com conceito A desde sua primeira avaliação pela Capes, o programa atingiu patamar de excelência em engenharia metalúrgica, nos segmentos de metalurgia extrativa, siderurgia e conformação mecânica, e em engenharia de minas. Nos últimos 15 anos, desenvolve pesquisas de ponta em ciência e engenharia de materiais, biomateriais, cerâmica, corrosão, polímeros, filmes finos e recobrimentos.

Entre as teses da área de materiais avançados – biomateriais e nanotecnologia – defendidas nos últimos anos junto ao Programa, está a de Ezequiel de Souza Costa Júnior, que desenvolveu sistemas sintéticos para possível substituição do tecido epitelial, ou seja, pele artificial. O estudo foi conduzido para preparar e caracterizar biomaterial híbrido à base de polímeros de origens natural e sintética.

O uso de nanotecnologia também esteve presente na tese de Nelício Faria de Sales, que trabalhou a caracterização e o desenvolvimento de sensores químicos, usando técnicas de deposições de filmes moleculares, para a detecção do gás dióxido de nitrogênio (NO2). Os mesmos sensores têm potencial para identificar outros gases tóxicos ou substâncias voláteis como alcoóis e herbicidas.

Já a tese de Hermes de Souza Costa focalizou a produção de material com morfologia e composição que permitam sua utilização na engenharia de tecido ósseo ou como material de implante, fornecendo estrutura temporária para a colonização e crescimento celular no processo de reparação de ossos medulares.

“Temos um objetivo claro: consolidar o curso como o melhor do Brasil e em dez anos estar entre os melhores do mundo”, anuncia o coordenador do programa, professor Herman Mansur. O caminho para atingir esse objetivo tem como base, segundo ele, o reconhecimento dos talentos do corpo docente, ao fomentar de modo orgânico as diferenças. “Para alcançar a excelência internacional, o Brasil precisa quebrar um paradigma: sair da indústria extrativista e passar aos produtos de valor agregado, como já ocorre com a agricultura nacional, que hoje é competitiva”, compara Mansur.

O coordenador comenta que, em linhas gerais, os metais atendem cerca de 70% das demandas mundiais por materiais, enquanto os cerâmicos respondem por aproximadamente 12%; os polímeros por 15%; e semicondutores e compósitos pelo restante. Ao apontar a nanobiomedicina como a “última fronteira” na pesquisa de materiais, Mansur destaca a importância do conhecimento transdisciplinar. “O grande desafio não é apenas o conhecimento, mas a maneira como nos comunicamos e nos entendemos com outras áreas”, afirma. Com 150 alunos matriculados e média de 60 defesas por ano, o programa tem grande número de estudantes não bolsistas, isto é, profissionais que já atuam no mercado.

Mérito e representatividade

A escolha da tese da engenheira Andréia Bicalho para se constituir na milésima defesa de doutorado do programa foi definida coletivamente pelos professores do curso, com base em critérios de relevância e de mérito científico e tecnológico. Segundo o coordenador, a autora atende também ao aspecto representatividade, por ser servidora de carreira da Escola de Engenharia. “É a coroação de uma trajetória marcada pela inquietude e pela busca do conhecimento”, avalia.

“Fico muito feliz, como aluna e como servidora, por estar envolvida nessa comemoração. Mas todas as teses anteriores têm igual mérito”, comenta Andréia. Técnica em Química pelo Coltec, graduada em Engenharia de Minas também pela UFMG, Andréia Bicalho é funcionária do quadro permanente desde 1993. “Gosto demais da pesquisa, e como servidora contribuo para o trabalho de outros pesquisadores, ao identificar materiais no laboratório de raios X do Departamento de Engenharia Metalúrgica”, afirma.

Mansur destaca que a tese de Andréia representa o programa, não apenas pela abrangência do estudo realizado, mas também por ter sido orientada pelo professor Antônio Eduardo Clark Peres, responsável por quase 10% de todas as defesas realizadas nessas quatro décadas.

Bolsista nível 1A de produtividade em pesquisa do CNPq, Clark Peres orientou quase cem dissertações e teses em sua trajetória como professor da Escola de Engenharia. Graduado e mestre em Ciências Técnicas Nucleares em Engenharia Metalúrgica pela UFMG, possui doutorado em engenharia mineral pela University of British Columbia. Seu principal campo de atuação é a físico-química de coloides e de superfícies em aplicações voltadas para a Tecnologia Mineral.

Sua linha de pesquisa, Recuperação de finos de minérios brasileiros, embasada em conceitos fundamentais dos fenômenos interfaciais, tem trazido relevantes contribuições para a produção de matérias-primas minerais, incluindo os tradicionais minérios metálicos – ferro, zinco, chumbo-zinco, ouro – e os minerais industriais empregados em tecnologias inovadoras.

Foca Lisboa
Análise espeleoscópica de materiais para nanobiotecnologia, área coberta pelo programa
Análise espeleoscópica de materiais para nanobiotecnologia,
área coberta pelo programa


Milésimo trabalho compara componentes do
minério de ferro

Principais minerais encontrados nos depósitos ferríferos conhecidos do Brasil, a hematita, a goethita e a magnetita são o objeto da tese que será defendida nesta terça-feira, 17, durante a solenidade de comemoração dos 40 anos da pós-graduação em Engenharia Metalúrgica, Materiais e de Minas da Escola de Engenharia, sendo 30 de implantação do doutorado.

Segundo a autora, a engenheira de minas Andréia Bicalho Henriques, conhecer a relação entre características dos três minerais pode significar melhor desempenho nos processos físico-químicos das etapas de beneficiamento do ferro. Ao destacar que a mineração “é o ramo de atividades que mais provê materiais para a humanidade”, Andréia aponta como benefícios da pesquisa na área a avaliação de novas rotas para processamento do minério; o aperfeiçoamento de técnicas capazes de minimizar impactos ambientais; e o conhecimento para enfrentar a complexidade mineralógica das jazidas que têm reduzidos teores de ferro se comparadas às antigas.

A pesquisadora trabalhou com amostras de hematita, goethita e magnetita colhidas nas duas maiores reservas brasileiras – a região mineira do Quadrilátero Ferrífero, responsável por 57% do ferro produzido no país, e a Serra dos Carajás, no Pará, de onde são extraídos 21,5%. A caracterização tecnológica e o estudo eletrocinético realizados nas amostras de diferentes gêneses enfocaram, sobretudo, parâmetros químicos, mineralógicos e microestruturais.

O trabalho revelou diferenças de propriedades cristalográficas, texturais, químicas, físicas e eletrocinéticas, algumas das quais já utilizadas, e outras com potencial para uso como características diferenciadoras na concentração de minérios de ferro. “Os resultados obtidos proporcionam maior conhecimento dos diferentes minerais e minérios que originaram as amostras e podem ajudar na compreensão do seu comportamento frente às etapas de processamento, podendo até prever possíveis impactos”, relata a pesquisadora, cujo mestrado foi realizado no mesmo programa.



Tese: Caracterização e estudo das propriedades eletrocinéticas dos materiais de ferro: hematita, goethita e magnetita
Autora: Andréia Bicalho Henriques
Orientador: Antônio Eduardo Clark Peres
Defesa: 17 de abril, às 13h, junto ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Metalúrgica, Materiais e de Minas
Local: Sala de Seminários 1012 (Bloco 3), da Escola de Engenharia