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Nº 1781 - Ano 38
25.6.2012

As bandas pedem passagem

Projeto da UFMG pretende contribuir para qualificação de músicos dessas corporações musicais

Com mais de 700 corporações musicais, algumas delas com dois séculos de existência, Minas Gerais é a terra das bandas. Agrupam milhares de regentes e instrumentistas que, autodidatas, carecem de formação musical mais apurada. Para ajudar a preencher essa lacuna, a Escola de Música da UFMG está retomando, em perspectiva ampliada, projeto que capacitou quase mil músicos entre 1999 e 2003.

Denominado Prática e Difusão do Ensino de Música em Apoio às Bandas de Música Civis de Minas Gerais, o programa pretende trabalhar a formação desses músicos em atividades que articularão ensino, pesquisa e extensão. Segundo o professor Anor Luciano, coordenador da iniciativa, a intenção é capacitar milhares de instrumentistas vinculados às bandas mineiras em nove polos: Ouro Preto-Mariana, Montes Claros, Governador Valadares, Pouso Alegre, Juiz de Fora, Uberlândia, Diamantina, São João del-Rei e Viçosa. “A ideia é reunir os músicos nessas cidades e promover as capacitações nos finais de semana”, explica o coordenador.

A base da iniciativa é uma banda constituída na Escola de Música, a Banda Sinfônica da UFMG, formada por cerca de 60 músicos, entre alunos da Unidade, servidores técnicos e administrativos com formação musical e convidados. Esses instrumentistas estão sendo preparados para atuar como multiplicadores. A partir daí, duas outras bandas serão formadas com instrumentistas treinados nos polos.

Um dos passos iniciais dessa retomada é a parceria que está sendo firmada entre a Escola de Música e o Colégio Militar de Belo Horizonte para a qualificação de sua banda. Os músicos do Colégio Militar já estão frequentando as aulas da disciplina Banda Sinfônica, ministrada pelo professor Anor Luciano.

Com a experiência de avaliador da prova de habilitação específica à qual se submetem os candidatos ao vestibular do curso de música, Anor Luciano observa que, em geral, os integrantes das bandas que fazem o teste possuem prática musical, mas ressentem-se de base teórica mais consistente, na comparação com outros vestibulandos. “Com o programa, acreditamos que será possível oferecer formação mais consistente a esses músicos antes mesmo de sua chegada à graduação”, avalia.

Segundo o professor, a capacitação envolve desde aspectos técnicos ligados, por exemplo, à regência e instrumentação até questões que aparentemente escapam ao fazer musical, mas que precisam de atenção, como reparos de instrumentos. “As bandas recebem instrumentos do Governo do Estado, mas, em muitos casos, eles são subutilizados porque não recebem a devida manutenção”, exemplifica o coordenador.

Videoaulas e patrocínio

O programa vai gerar outros produtos, como o que o professor Anor Luciano denomina de kit-banda, formado por videoaulas com demonstrações técnicas de cada instrumento e gravação dos chamados hinos patrióticos – Nacional, da Bandeira, da Independência e da Proclamação da República – para distribuição nas escolas e entre as bandas.

“Também pretendemos nos debruçar sobre a reorquestração de composições. Muitas bandas, algumas centenárias, têm peças engavetadas, que necessitam ser trabalhadas para fins de execução”, explica Anor. Já a frente da pesquisa terá como carro-chefe periódico voltado para publicação de artigos acadêmicos relacionados ao universo das bandas.

Para cumprir todo esse escopo, o professor Anor Luciano informa que está negociando com um patrocinador. “É um projeto de caráter permanente, não uma iniciativa para um ou dois anos de duração”, argumenta.
A Escola de Música tem tradição na capacitação de instrumentistas graças à disciplina Banda Sinfônica, criada em 1999 pelo professor Anor Luciano, a primeira a integrar o currículo de graduação de uma universidade brasileira. A partir dela, nasceu o Projeto Bandas, iniciativa de extensão que chegou a contar com três bandas, dois quartetos de metais e um quarteto de sopros, e que preparou, até 2003, quase mil músicos.

Audição inédita

Um marco da retomada do programa de apoio à formação de instrumentistas de bandas ocorrerá nesta quinta-feira, dia 28, com o concerto da Banda Sinfônica da UFMG, que vai executar, sob a regência de Anor Luciano, a peça Quadros de uma exposição.

A peça foi escrita originalmente para piano pelo russo Modest Mussorgsky, transcrita para orquestra pelo francês Maurice Ravel e vertida para banda sinfônica pelo norte-americano Mark Hindsley. “Será a primeira audição desta versão para banda em Minas Gerais”, afirma Anor.

A apresentação começa às 20h, no auditório da Escola de Música. A entrada é gratuita mediante doação de um quilo de alimento não perecível.