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Nº 1789 - Ano 38
10.9.2012

Na categorização pediátrica, a ­adolescência se ­estende dos 10 aos 20 anos de vida.

Campus da Mobilidade

Construção de ciclovia é uma das alternativas estudadas pela UFMG para melhorar a circulação em suas vias

Ana Rita Araújo e Luana Moreira

No dia 21 de setembro, véspera da campanha mundial Dia sem Carro, o campus Pampulha terá um ponto de empréstimo de bicicletas. A ideia é oferecer a integrantes da comunidade universitária a oportunidade de experimentar outros caminhos além das vias construídas para veículos motorizados e refletir sobre formas alternativas de deslocamento. Promovida pelo projeto Bocados de Gentileza com o apoio da Pró-reitoria de Administração (PRA), a iniciativa integra a programação da Semana de Mobilidade, que tem início na próxima segunda-feira, 17 (detalhes no endereço www.ufmg.br/bocadosdegentileza).

As atividades da semana revelam preocupação em melhorar a convivência e a qualidade de vida no campus, espaço que recebe diariamente em torno de 60 mil pessoas. Com base em diretrizes de mobilidade, elaboradas pela professora Heloísa Barbosa, do Departamento de Transporte e Geotecnia da Escola de Engenharia, a UFMG licitou empresa que se prepara para iniciar estudos de tráfego para futuras alterações na circulação viária. “Nossa expectativa é que os dados levantados nos ajudem a tomar decisões”, explica o pró-reitor de Administração, Márcio Baptista.

Com a retomada das aulas e a normalização do fluxo de pedestres e de veículos, a empresa poderá realizar o estudo, cujos resultados serão usados, por exemplo, em revisões da sinalização e definição de áreas de estacionamento. Antes mesmo dessa etapa, as diretrizes traçadas pela professora Heloísa Barbosa já sugerem ocupação diferenciada da avenida Mendes Pimentel, com a construção de um boulevard e de ciclovias. “Levantamentos anteriores revelam aceitação e disposição desse público, composto sobretudo por jovens, para o uso de bicicletas dentro do campus”, comenta Heloísa Barbosa.

A UFMG avalia duas propostas para intensificar a utilização desse meio de transporte – a construção de ciclovia na avenida Mendes Pimentel e o empréstimo de bicicletas para uso restrito no campus Pampulha. Márcio Baptista explica que o assunto ainda depende de levantamento de dados e de posterior avaliação pelos órgãos de deliberação da Universidade, mas ressalta que o conceito já está aprovado pela instituição. “Com base nas diretrizes elaboradas pela professora Heloísa Barbosa, tivemos autorização da Reitoria para prosseguir nessa linha de ação”, explica.

Já o empréstimo de bicicletas é objeto de parceria recentemente estabelecida entre a PRA e o Diretório Central de Estudantes (DCE). “Pretendemos instalar bicicletas comunitárias”, explica o coordenador do DCE, Guilherme de Lima. A entidade estudantil foi autorizada a fazer contato com empresas especializadas no serviço a ser custeado com recursos de patrocínio.

Perspectiva do Boulevard Mendes Pimentel, que prevê espaço para ciclovia
Perspectiva do Boulevard Mendes Pimentel, que prevê espaço para ciclovia

“Achamos importante investir em um meio de transporte que traz o conceito de ecologicamente correto, não poluente e incentiva a prática de esportes”, diz Guilherme, que é estudante de Medicina. Embora o projeto ainda esteja em fase inicial, ele prevê a instalação de estações de retirada e devolução das bicicletas, mediante cadastro que, no caso do corpo discente, deverá utilizar a carteira do DCE. “Nossa ideia é contemplar toda a comunidade universitária”, completa.

Heloísa Barbosa afirma que iniciativas adotadas pela Universidade têm reflexos positivos no restante da cidade, por ser uma Instituição “espelho”. Em sua opinião, o uso de um meio de transporte sustentável e não poluente pode estimular esse hábito “também lá fora”. Contudo, a professora destaca que são necessárias mudanças mais profundas de hábitos, acompanhadas de iniciativas concretas como plano de mobilidade para a cidade e melhoria do sistema público de transportes.

Pedalando contra a maré

Falta de ciclovias, pisos irregulares, aclives, desrespeito dos motoristas e trânsito intenso são algumas das dificuldades que os ciclistas enfrentam no ambiente urbano. “O que chama atenção no caminho que faço diariamente entre a Moradia Universitária e o campus é a falta de ciclovias e de educação dos motoristas”, comenta o estudante de Comunicação Social João Henrique Ferreira da Mata. “Corro o risco de alguém passar por cima da bicicleta e nem ver”, relata.

Segundo a colombiana Juliana Maria Navia Pelaez, aluna do mestrado em Ciências Biológicas (Fisiologia e Farmacologia), pedalar do bairro São Luiz, onde mora, para o campus também não é seguro. Ela comenta que a falta de ciclovias torna perigoso o trajeto entre automóveis, caminhões, ônibus e motoristas “que muitas vezes não têm consideração pelos usuários de bicicletas”. Talvez por isso, especula, poucas pessoas que moram nas proximidades do campus optam por caminhar ou pedalar até a UFMG. Juliana acredita que a construção de ciclovias incentivaria o uso da bicicleta e aumentaria o bem-estar das pessoas.

“Alguns motoristas acreditam que estamos atrapalhando o trânsito, por isso buzinam e não respeitam a distância exigida”, comenta Emanuelle Pinheiro Pessoa Ferreira, aluna de Teatro que diariamente pedala do bairro Liberdade, onde mora, à Escola de Belas Artes.

A conexão entre as condições de transporte dentro e fora do campus amplia a complexidade das medidas que a Universidade deve tomar para oferecer à comunidade um ambiente de boa convivência. “Trânsito congestionado e disputa por vagas de estacionamento são situações estressantes que o projeto Bocados de Gentileza quer ajudar a reduzir ou eliminar”, relata a pró-reitora adjunta de Administração, Eliane Ferreira.

Enquanto mudanças globais não vêm, a Universidade prepara-se para adotar dispositivos e intervenções que estabeleçam ordem de preferência nos deslocamentos dentro do campus. Na opinião da professora Heloísa Barbosa, a prioridade deve ser para pedestres, ciclistas e transporte público. “A ideia é não estimular o uso de automóvel dentro do campus nem investir mais em estacionamentos. “Se oferecêssemos mais vagas, haveria demanda maior do que a oferta. É fundamental adotar estratégias alternativas, como o compartilhamento de veículos, por meio das caronas e o uso de bicicletas”, diz a pesquisadora.

Outros caminhos

Se as condições para pedalar são difíceis fora do campus, as ruas internas recobertas por paralelepípedos e as subidas íngremes também não podem ser consideradas um estímulo à prática do ciclismo, comenta Emanuelle Ferreira. “Não há uma estrutura física que incentive o uso das bicicletas. Vejo isso com pesar, pois o campus é bem grande e nem sempre as escalas de horários dos ônibus internos atendem às necessidades de deslocamento”, diz a aluna de Teatro.

Heloísa Barbosa concorda que as vias usadas pelos veículos motorizados são inadequadas para o ciclismo, mas sugere o uso de outros caminhos, como os aceiros e as trilhas criados por pedestres. “Não se deve usar necessariamente o trajeto das ruas. Há muitas passagens arborizadas, com sombra e fora do contato com automóveis, que podem ser adotados”, diz a professora. Além da introdução de medidas de incentivo ao ciclismo, o estudo de sua autoria propõe a melhoria na mobilidade no campus com a adoção de estratégias de reformulação do sistema de circulação; aplicação de medidas de moderação de tráfego e padronização das existentes; melhorias para a operação do transporte coletivo; e definição de política de estacionamentos.

Outra opção é a carona organizada. A iniciativa, organizada há dois anos pela Empresa Júnior Emas Consultoria, vinculada à Escola de Engenharia, já cadastrou mais de dez mil usuários. O site www.caronasufmg.emasjr.com.br aceita alunos e funcionários com endereço eletrônico provido pela Universidade. Os usuários fornecem informações que possibilitam cruzamento de interesses. Segundo os responsáveis pelo projeto, a iniciativa proporciona segurança a muitos motoristas, que deixam de oferecer caronas por não ter referências de quem pede.

Carro é alternativa para quase metade dos usuários

Em consulta eletrônica realizada pelo projeto Bocados de Gentileza há um ano, mais de seis mil integrantes da comunidade universitária que opinaram sobre a campanha Dia sem Carro revelaram como chegam à UFMG e sugeriram alternativas para os problemas de trânsito. A maioria – 48,74% – disse que usa veículo próprio para se deslocar para o campus, enquanto 35,85% recorrem ao transporte público. Apenas 1,44% declarou o uso de bicicleta.

Ao responder sobre alternativas mais viáveis para resolver o problema de locomoção para UFMG, 16,82% sugeriram aumento das linhas de ônibus; 15,25% apontaram diminuição dos intervalos entre os ônibus; 56,43%, estações de metrô mais próximas das unidades da Universidade, enquanto 6,41% sugeriram construção de ciclovias e 5,10% outras alternativas.


Semana da Mobilidade