Busca no site da UFMG

Nº 1793 - Ano 39
8.10.2012

Programa do Governo Federal que tem como objetivo arrecadar alimentos, por meio de doações, e distribuí-los para entidades assistenciais. Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social, o Brasil possui 74 bancos de alimentos, sendo 10 em centrais de abastecimento nos moldes da Ceasaminas. Lá o trabalho de manipulação e distribuição de alimentos beneficia cerca de 35 mil pessoas de 186 instituições, entre creches, asilos e projetos sociais.

Manipular com segurança e arte

Projeto de extensão do ICB prepara equipes de bancos de alimentos da Região Metropolitana de BH

Jordânia Souza* e William Campos Viegas**

Responsável pela manipulação e distribuição de 735 toneladas de alimentos apenas nos oito primeiros meses de 2012, a equipe do Banco de Alimentos das Centrais de Abastecimento (Ceasaminas), em Contagem, está ampliando sua competência para trabalhar de acordo com os mais rígidos parâmetros de higiene e segurança.

O grupo participa até semana que vem de treinamento de manipulação de alimentos que integra o projeto de extensão Ações educativas para a promoção da saúde no âmbito do programa Banco de Alimentos, desenvolvido há cerca de dois anos pelo Departamento de Morfologia do ICB em instituições da Região Metropolitana de Belo Horizonte beneficiadas pelo Programa Banco de Alimentos.

O projeto de extensão tem forte lastro no ensino e na pesquisa. Antes de estruturar o treinamento e as outras atividades, a equipe do ICB realizou estudos de viés microbiológico e parasitológico em uma hortaliça selecionada para monitorar todo o processo – da chegada do produto ao banco de alimentos até o momento em que ocorre a doação. “Fizemos avaliações do alimento em consonância com as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em três quesitos: operacional, higiene pessoal e adequação estrutural. Os piores resultados foram detectados no item higiene pessoal”, explica a professora Janice Henriques da Silva, coordenadora do projeto. Com base nessa constatação, surgiu a ideia do treinamento com os manipuladores de alimentos.

Abre-alas

Obras de Cândido Portinari, Di Cavalcante, Sandro Botticelli e de outros artistas são usadas como estratégias para disseminar o conhecimento sobre higiene pessoal, segurança alimentar e nutricional. “Programamos exposições semanais com réplicas de obras artísticas a fim de relacioná-las com o trabalho dos funcionários e com os hábitos de higiene pessoal. Cada exposição funciona como um ‘abre-alas’ dos assuntos a serem discutidos nas aulas”, conta a bolsista Daniela Coelho Ricardo, estudante do sexto período do curso de Enfermagem da UFMG, que também cursa Artes Visuais em outra instituição.

De Portinari foram usados como exemplos as obras Criança morta e Os retirantes, que retratam as mazelas do corpo humano em situações de precariedade. “As crianças com a barriga inchada, desnutridas, com olhos caídos, são representações de uma realidade brasileira, mas também evidenciam os sintomas de pessoas contaminadas por parasitos”, exemplifica a estudante.

A partir da experiência estética da apreciação das obras, que, segundo Daniela Coelho, “quebra a frieza dos conteúdos”, os trabalhadores identificam a necessidade de cuidados especiais com os alimentos: “Discutimos sobre os parasitos destacando as formas de contaminação e os hábitos necessários para prevenção, relacionando com o cotidiano de trabalho e as etapas que o alimento percorre entre o recolhimento e sua redistribuição”.

Os efeitos do treinamento já começam a se fazer notar na rotina dos manipuladores, como testemunha a nutricionista Gisele Melo, chefe do Banco de Alimentos do bairro Padre Eustáquio, o primeiro a receber a capacitação, em junho deste ano. “Eles estão mais conscientes quanto à higiene; sabem que os alimentos manipulados são destinados a diversas pessoas, por isso o cuidado deve ser extremo”, pontua. O auxiliar de cozinha Rubinstein de Souza concorda com a nutricionista. “O que aprendi no curso é essencial não só para minhas atividades no banco, mas também para a vida. Em casa, ponho em prática tudo o que aprendi”, ele conta.

*Bolsista de jornalismo da Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina
**Bolsista de jornalismo da Assessoria de Comunicação da Proex