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Nº 1793 - Ano 39
8.10.2012

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Contra os mitos, documentos

Por ângulos diversos, pesquisadores enfatizam em livro importância dos arquivos para se entender a história da arquitetura latino-americana

Itamar Rigueira Jr.

Até pouco tempo atrás, no Brasil como em geral na América Latina, a história da arquitetura era contada por um viés ideológico. Entre nós, pioneiros como o russo Gregori Warchavchik e ícones como Lucio Costa e Oscar Niemeyer protagonizavam a saga da arquitetura contada pelos modernistas, e ficavam à sombra manifestações importantes com o art déco e a arquitetura eclética. Esse quadro está mudando, em grande parte sob o impulso da valorização de documentos e arquivos.

Diferentes abordagens desse movimento de revisão da história da arquitetura e do urbanismo estão presentes no livro Arquitetura e documentação: Novas perspectivas para a história da arquitetura, que reúne artigos derivados de seminário bianual homônimo, que vem sendo organizado pela UFMG desde 2008.

“Nosso esforço é no sentido de ajudar a reescrever a história da arquitetura na América Latina, para além de mitos como o que foi erguido em torno da arquitetura moderna, que culminou com a construção de Brasília”, explica o professor Leonardo Barci Castriota, coordenador dos seminários e organizador do livro.

Ao lado da gestora de coleções Carla Viviane Ângelo, Castriota conta, em um dos artigos, história que simboliza esse esforço pela valorização da documentação. Criado nos 1950 e 60 e desmantelado pelo regime militar, o Laboratório de Fotodocumentação Sylvio de Vasconcellos, da Escola de Arquitetura da UFMG, que contém mais de 50 mil imagens, teve seu acervo digitalizado. Fruto de parceria com a Escola de Ciência da Informação e o Departamento de Ciência da Computação da UFMG, o sistema permite consultas a informações valiosas sobre as cidades coloniais mineiras e capitais como Brasília, Salvador e Rio de Janeiro. Baseada em software livre, a plataforma já é utilizada também pelas universidades federais de Santa Catarina, Alagoas e Ouro Preto.

‘Bisbliotecar’

Um trabalho de paleontologia literária é a proposta do professor Hugo Massaki Segawa, da USP. O neologismo “bisbliotecar”, que dá título a seu artigo, representa a ideia de que é crucial investigar as leituras dos arquitetos. Como lembra Leonardo Castriota, é óbvio que os modernos, por exemplo, “beberam em alguma fonte”, o que é, de certa forma, escondido pelo mito. “Difundiu-se a ideia da tábula rasa, mas ninguém começa do zero, e é importante conhecer suas influências”, ele afirma.

O organizador de Arquitetura e documentação destaca também a necessidade de se garantir estrutura para a guarda e manutenção dos acervos. O assunto é abordado por Lourdes Cruz Franco, pesquisadora da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), que oferece em seu artigo um panorama do Archivo de Arquitectos Mexicanos, abrigado em prédio construído pela Unam para essa finalidade.

“Os acervos de arquitetos e urbanistas são incômodos, ocupam muito espaço. A tendência das famílias é descartar caso não contem com apoio de uma instituição como essa”, salienta Castriota, doutor em Filosofia pela UFMG e pós-doutor pelo Getty Conservation Institute, em Los Angeles (EUA).

A última parte do livro reúne textos que vinculam arquitetura e historiografia. Marco Aurélio Gomes, da Universidade Federal da Bahia, e Fábio Lima, da Federal de Juiz de Fora, mostram como se imbricam a história da arquitetura e a das cidades. Graciela Viñuales, fundadora do Centro de Documentação da Arquitetura Latino-americana (Cedodal), sediado em Buenos Aires, revela caminhos alternativos para se descobrir a história da arquitetura industrial, muito pouco preservada.

Já Carlos Alberto Lemos, arquiteto e historiador ligado à USP, defende abordagem para a história da arquitetura brasileira que considere menos os estilos importados e privilegie suas condições de adaptação no país. “Ele propõe uma compreensão dessa trajetória a partir das conjunturas social, ambiental e normativa que conformaram as soluções encontradas por arquitetos e urbanistas no Brasil”, explica Leonardo Castriota.

Livro: Arquitetura e documentação: novas perspectivas para a história da arquitetura
Organizado por Leonardo Barci Castriota
Editora Annablume e Instituto de Estudos sobre Desenvolvimento Sustentável (Ieds)
371 páginas / R$ 52,50 (preço em
www.annablume.com.br)