Busca no site da UFMG

Nº 1796 - Ano 39
29.10.2012

Desafio dos trópicos

Encontro na UFMG antecipa debates do Fórum Mundial da Ciência que o Brasil sediará em 2013

Itamar Rigueira Jr.

Os desafios para a ciência em escala global encontram nas regiões tropicais especificidades como a relativa abundância de recursos hídricos que pode ser mal explorada, doenças ainda ignoradas pelos avanços das investigações no campo da saúde no último século, grandes contingentes em situação próxima de pobreza e certa fragilidade dos sistemas de ciência e tecnologia. Essa é a lógica que rege a programação do segundo de sete encontros preparatórios para o Fórum Mundial de Ciência – que será realizado no Rio de Janeiro, no ano que vem –, sediado nesta semana pela UFMG, no auditório da Reitoria.

Bienal, o evento tem acontecido em Budapeste, Hungria, desde 2003, e chega ao Brasil como resultado de esforços do governo brasileiro, em parceria com países da América Latina e Caribe. “O encontro na UFMG reúne especialistas com reconhecida competência em suas respectivas áreas e nomes com participação política relevante no campo da ciência e tecnologia”, afirma o pró-reitor de Pesquisa Renato de Lima Santos, que integra o comitê local de organização. O primeiro encontro aconteceu em São Paulo, e os próximos serão em Manaus, Recife, Salvador, Porto Alegre e Brasília.

Cartazete que relata a história da invenção do elevador

Renato de Lima Santos: evento receberá especialistas reconhecidos

Após a abertura, que terá participação de representantes de governos e de entidades como ABC, SBPC e Fapemig, o reitor Clélio Campolina Diniz abordará em palestra as recentes mudanças geopolíticas mundiais e suas consequências para o Brasil, sob a perspectiva da produção científica e tecnológica. Campolina vai analisar causas da crise global, queda das economias desenvolvidas e ascensão da China, entre outros fatores, e a situação do Brasil, partindo do princípio de que ciência e tecnologia são elementos centrais para melhorar a posição relativa do país.

Manejo pela soberania

O debate de uma das mesas do encontro que vai encaminhar sugestões para o Fórum Mundial de Ciência deverá partir do pressuposto de que é prioridade avançar no conhecimento sobre doenças consideradas negligenciadas e desenvolver ferramentas tecnológicas para seu tratamento, controle e erradicação. Um dos participantes, o professor Manoel Otávio da Costa Rocha, da Faculdade de Medicina da UFMG, considera que as instituições públicas brasileiras não têm pecado por omissão e que conhecer e aprender a lidar com as doenças é fundamental para a soberania do país.

“Temos obrigação de estudar esses males endêmicos, e nossos cientistas têm avançado com relação a doenças como a leishmaniose. Nossa medicina tropical é considerada de ponta, temos pesquisadores considerados referência pela Organização Mundial de Saúde”, diz Manoel Rocha.

Outro tema do encontro desta semana é o agronegócio nos trópicos. De acordo com o documento de planejamento do evento, a plena exploração do potencial para produção de alimentos depende de adequações tecnológicas a características especiais de clima e solo.

Professor na área de genética animal e atual diretor da Escola de Veterinária da UFMG, José Aurélio Bergman pretende mostrar, em sua participação no encontro, como o investimento em tecnologia incluiu o Brasil no grupo dos maiores exportadores de alimentos. “As tecnologias desenvolvidas por países de clima temperado não se aplicam à nossa região. No caso do gado zebu, de origem indiana, o trabalho de melhoramento genético transformou o país em produtor de altíssima qualidade em carne e leite”, exemplifica Bergman.

Outros grupos de pesquisadores vão discutir caminhos possíveis para um modelo de gestão que concilie preservação dos recursos hídricos com concentração urbana e aumento populacional, o que fazer para que o desenvolvimento da ciência brasileira beneficie a sociedade como um todo e os dilemas éticos que envolvem a geração de conhecimento. O evento é aberto, e as inscrições devem ser feitas pelo site http://fmc.cgee.org.br.

Programação

Segunda-feira, 29

10h30 – Palestra magna
Crise mundial, mudanças geopolíticas e inserção do Brasil: os desafios científicos e tecnológicos, por Clélio Campolina Diniz, reitor da UFMG
13h30 – Mesa 1 – CT&I para gestão e preservação de recursos hídricos
Virgínia Ciminelli (UFMG, coordenadora) Francisco Barbosa (UFMG, relator), Nilo de Oliveira Nascimento (UFMG), José Galizia Tundisi (Instituto Nacional de Ecologia) e Carlos Eduardo Bicudo (Instituto Botânico de Pesquisa)
15h30 – Mesa 2 – CT&I para o agronegócio nos trópicos
Gilman Rodrigues (coordenador), José Oswaldo Siqueira (Vale, relator), Evaldo Vilela (UFV), José Aurélio Bergmann (UFMG) e Elíbio Rech Filho (UnB)

Terça-feira, 30

9h – Mesa 3 – Educação em ciência e acesso ao conhecimento
Renato de Lima Santos (UFMG, coordenador), José Fernandes de Lima (CNE, relator), Ildeu Moreira (MCTI) e Susana Dias (Unicamp)
10h45 – Mesa 4 – Contribuição da CT&I para a saúde nos trópicos
Ricardo Fujiwara (UFMG, coordenador), Reynaldo Dietze (Ufes, relator), José Rodrigues Coura (Fiocruz) e Manoel Otávio Rocha (UFMG)
13h30 – Mesa 5 – CT&I para o desenvolvimento urbano, sustentabilidade e inclusão
Márcio Basílio (Cefet-MG, coordenador) Heloísa Moura Costa (UFMG, relatora), Jupira Mendonça (UFMG) e Luiz Cesar Queiroz Ribeiro (UFRJ)
15h30 – Mesa 6 – Ética e ciência
Maria Carolina Nemes (UFMG, coordenadora), Sônia Vasconcelos (UFRJ, relatora), Volnei Garrafa (Unesco/UnB) e Maria Auxiliadora Carvalho (UFMG)