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Nº 1796 - Ano 39
29.10.2012

Múltiplas expressões

Programa do Centro Cultural abre espaço para manifestação de moradores e trabalhadores do seu entorno

Itamar Rigueira Jr.

Jovens trabalhadores e moradores do Centro de Belo Horizonte mostraram fotografias, vídeos e poemas em recente evento de lançamento do programa que passa a orientar as ações desenvolvidas no Centro Cultural UFMG. Não foi por acaso. As oficinas de que eles participaram entre maio e setembro representam o espírito do programa Muitas Culturas no Centro. A ideia é que a comunidade, especialmente a do entorno, se aproprie da instituição (localizada na esquina da avenida Santos Dumont com a rua da Bahia) e se expresse em contato com a arte contemporânea e a tecnologia.

“Nosso objetivo é promover o relacionamento da Universidade com a comunidade. Para isso, não basta exibir o que a UFMG produz, a cultura que vem do mundo letrado. Vamos dar espaço às expressões alijadas desse ambiente, e misturá-las ao que há de mais avançado no pensamento e na ciência”, explica a professora Maria Inês de Almeida, da Faculdade de Letras da UFMG, que dirige o Centro Cultural há pouco mais de um ano.

Maria Inês explica que, além do projeto Oficinas para Todos, o novo programa vai encontrar formas de envolver iniciativas como o Cinecentro (que promove mostras temáticas de filmes) e o projeto de restauração de figurinos dos espetáculos do Grupo Galpão. “Vamos trabalhar em dois eixos: formação de produtores e divulgadores de arte e cultura, e constituição e conservação de acervos culturais e artísticos”, anuncia.

As primeiras edições das oficinas de vídeo, fotografia e poesia reuniram 32 participantes, quase todos convidados entre pessoas que responderam a pesquisa realizada pelo Centro Cultural em seus arredores. As respostas a cerca de 500 questionários revelaram interesse, sobretudo, pela produção audiovisual e literária. “Descobrimos também que muitas pessoas que vivem e trabalham na região não frequentam ou sequer sabem que há um centro cultural aqui”, conta Maria Inês de Almeida.

Prática na rua

Com um encontro presencial por semana, a oficina de vídeo teve atividades concentradas na produção em ambiente externo. “Incentivamos os participantes a sair a campo e produzir filmes desde o início. A partir do material trazido é que passávamos orientações ligadas à técnica e à criatividade”, explica Rafael Fares, um dos orientadores da atividade, ao lado de Ana Carvalho.

Um dos vídeos produzidos pelo grupo abordou o universo de um salão de beleza na região. “O trabalho abriu a perspectiva de propormos como tema da próxima turma os ofícios típicos do Centro”, diz Rafael. As fotografias produzidas durante a oficina ministrada pela professora Patrícia Azevedo, da Escola de Belas-Artes, e pelo fotógrafo Murilo Godoy também retratam ambientes, atividades e figuras da região central de Belo Horizonte.

A implantação do programa Muitas Culturas no Centro coincide com a série de mudanças físicas por que passa o Centro Cultural. Este mês, o piso do prédio foi trocado e o projeto de reforma de seu pátio, elaborado; em novembro, terá início a restauração da fachada, que ganhará também iluminação; e antes do fim do ano as galerias receberão equipamentos adequados à iluminação profissional das exposições.

As reformas têm o intuito de tornar a instituição mais apropriada para os artistas e mais atraente para o público. Mesmo parte significativa da comunidade universitária, segundo a diretora, desconhece a existência do Centro Cultural. “Temos notícia por nossos bolsistas de que os alunos e professores mais recentes não sabem o que acontece por aqui”, revela Maria Inês de Almeida, que coordena o grupo de pesquisa Literaterras, dedicado a pesquisas com povos indígenas, quilombolas e outras sociedades tradicionais.

Inspirada pela experiência com a produção de livros em conjunto com povos indígenas, Maria Inês defende que o acesso a canais de expressão cultural seja cada vez mais universalizado. “Acredito em um jeito de fazer ciência que ainda é considerado estranho pela academia. Às vezes precisamos abandonar a postura clássica ocidental da análise e da crítica para deixar que as pessoas de fora do ambiente acadêmico manifestem seus saberes. O Centro Cultural é o lugar certo para que as artes e as ciências sejam pensadas de forma interligada, com tudo que as atravessa e as ultrapassa”, conclui Maria Inês de Almeida.