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Nº 1799 - Ano 39
19.11.2012

Malhação contra o diabetes

Parceria entre Escola de Educação Física e Santa Casa ajuda portadores da doença a vencer o sedentarismo

Luana Macieira*

O uso de medicamentos e a aplicação de insulina sintética não são a única forma de tratar o diabetes tipo 2. Agravada pelo sedentarismo, a doença precisa ser combatida com atividade física, e essa convicção inspira parceria entre o Laboratório do Movimento, da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, e a Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte.

Montado na Faculdade de Medicina, o Laboratório – uma academia de ginástica convencional, equipada com esteiras, bicicletas ergométricas e equipamentos de musculação –, é usufruído por 15 portadores da doença tratados na Santa Casa de Belo Horizonte, além de dezenas de pacientes do Hospital das Clínicas da UFMG.

“O grande problema relacionado ao diabetes tipo 2 é o sedentarismo. Os pacientes costumam ser orientados a fazer atividade física, mas normalmente não sabem como, nem onde fazer”, afirma a doutoranda em Ciências do Esporte da UFMG Alessandra Garcia, uma das profissionais envolvidas no projeto. Além do exercício físico orientado, os pacientes do programa recebem cuidados sobre o tratamento do diabetes.

A iniciativa, intitulada Promoção de hábitos saudáveis por meio do exercício físico em pacientes com diabetes tipo 2, venceu o Prêmio de Incentivo ao Controle do Diabetes Mellitus, promovido pela Bristol-Myers Squibb Farmacêutica e pela Sociedade Brasileira de Diabetes, entregue na semana passada.

Atendimento integrado

A parceria prevê o atendimento integrado da Santa Casa e do Laboratório do Movimento da UFMG a pacientes que realizam o acompanhamento da doença pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As pessoas que não conseguem tratamento nos postos de saúde da cidade são encaminhadas ao Centro de Referência do hospital. A equipe coordenada pela médica Adriana Bosco realiza a avaliação dos doentes, que são direcionados para a prática de exercício físico no Laboratório, onde passarão pelo menos seis meses, sob orientação de profissionais de educação física.

“Partimos do pressuposto de que leva certo tempo para que o paciente seja educado sobre o tratamento da doença. No caso do diabetes, por mais que se tomem os medicamentos, se a alimentação não é regulada, e a pessoa não faz exercício, não adianta nada. Se um dos pilares do tratamento não for bem cuidado, a doença avança”, explica a mestranda em Educação em Diabetes da Santa Casa Débora Cristina Jubilini. Segundo ela, para viver bem com diabetes tipo 2, é só manter os hábitos saudáveis de qualquer outra pessoa que não tenha a doença: comer bem e ser fisicamente ativo.

Débora Jubilini informa que os pacientes escolhidos são justamente os que apresentam alguma complicação associada, como hipertensão ou obesidade, que, se não for bem cuidada, pode resultar em grandes problemas caso comecem a fazer exercícios físicos sem orientação. “Os pacientes mais jovens ou que não têm outra complicação podem procurar uma academia por conta própria. O mesmo não ocorre com o perfil de paciente que atendemos”, explica.

Prevenção

O diabetes tipo 2 costuma aparecer ao longo da vida e está associado a fatores ambientais e hereditários. Diferentemente do diabetes tipo 1, o organismo continua produzindo a insulina, mas não consegue metabolizá-la.

Segundo Alessandra Garcia, a prática de exercícios físicos, além de complementar o tratamento, pode ter caráter preventivo, uma vez que o sedentarismo favorece o aparecimento da doença. “Todos os pacientes que atendemos são obesos ou hipertensos. Fazer exercícios ajuda a pessoa a controlar o peso e diminui a resistência do seu corpo em relação à insulina que o organismo produz, mas não consegue aproveitar”, explica.

A equipe do programa trabalha para aumentar o número de diabéticos que se exercitam no Laboratório do Movimento, além de incluir profissionais e estudantes de fisioterapia, enfermagem e nutrição para que o atendimento passe a ser multidisciplinar.

Quinhentos casos por dia

Segundo dados do Ministério da Saúde divulgados este ano, pessoas com mais de 65 anos são as que mais sofrem com a doença, que hoje atinge cerca de 5% da população brasileira. Aproximadamente 10 milhões de brasileiros são diabéticos e surgem 500 novos casos todos os dias.

Os números, que integram a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico de 2011, mostram que, entre os principais fatores responsáveis pelo crescimento da doença no Brasil, está o aumento da incidência de obesidade e da população idosa.

A preocupação com a doença é global, tanto que foi instituído o Dia Mundial do Diabetes, comemorado sempre no dia 14 de novembro. Este ano, o tema da campanha foi Educação e prevenção em diabetes.

*Publicada originalmente na página www.ufmg.br, seção Pesquisa e Inovação