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Nº 1805 - Ano 39
28.01.2013

Inteligência para planejar

Professora visitante da ECI propõe software para solução de problemas de redes urbanas

Gabriela Praça

Imagine um gestor de uma região geográfica, estruturada em rede de dezenas de municípios interligados por malha rodoviária. Seguindo determinada política de investimentos estabelecida pelo governo federal, o papel desse profissional é descobrir quais municípios devem receber a instalação de estabelecimentos de ensino, de forma que a população estudantil tenha que se deslocar, no máximo, para uma cidade vizinha. Esse é o tipo de problema para o qual se volta o aplicativo computacional GeoGrafo, idealizado pela professora visitante da Escola de Ciência da Informação (ECI) Miriam Cristina Pontello Barbosa Lima.

Fruto de pesquisa desenvolvida em seu curso de doutorado, concluído em 2011, na PUC Minas, a proposta foi premiada no Simposio Ibero-Americano de Aplicaciones y Tecnologías de Información y Comunicaciones, realizado em novembro, na Flórida. No estudo de Miriam, a área escolhida para análise foi a mesorregião do Vale do Mucuri, em Minas Gerais, acrescida do município de Novo Cruzeiro.

A partir de modelagem matemática produzida de acordo com a teoria dos grafos, o programa computacional resolve problemas de otimização relacionados às redes analisadas. O usuário deve inserir dados sobre a região, como variáveis físico-geográficas, socioeconômicas, populacionais, de PIB e IDH, entre outras, que alimentarão o dispositivo para que ele faça o mapeamento da rede e determine de que tipo ela é, em função de seu índice de conectividade. Com base nessa análise, o programa determina que municípios da região são mais ou menos vulneráveis, indicando quais deles devem ser priorizados em termos de investimentos e políticas públicas.

De acordo com Miriam Pontello, as redes geográficas brasileiras, em geral, estão centralizadas em um polo, cercado de municípios que dependem dele – no caso da messorregião escolhida como objeto de pesquisa, o núcleo é a cidade de Teófilo Otoni. A autora observa que esse é um tipo vulnerável de rede, já que a disparidade entre municípios não propicia o desenvolvimento econômico equilibrado da região e do país. “Seria melhor que tivéssemos cidades médias e, de preferência, fisicamente próximas, para que houvesse maior fluxo de informações, mercadorias, bens e serviços”, ressalta ela, comparando a situação brasileira com a realidade urbana da França. Lá, segundo a professora, as redes são mais evoluídas e complexas. “A diferença entre pequenos centros e grandes metrópoles não é marcante, o que proporciona maior harmonia entre as cidades.”

Conhecimento integrado

O GeoGrafo, cuja patente já foi depositada junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), será disponibilizado gratuitamente para cópia. A ferramenta poderá ser utilizada tanto por pesquisadores quanto por profissionais ou gestores públicos interessados em agregar rigor científico ao planejamento urbano. “Meu intuito foi desenvolver um projeto acadêmico que integrasse ensino, pesquisa e extensão, e que pudesse contribuir, de maneira efetiva, para o desenvolvimento social, econômico, ambiental e humano de diferentes regiões geográficas”, salienta Miriam. Assim, priorizou-se a busca por soluções de problemas concretos, por meio da aplicação prática do conhecimento gerado na academia. “A universidade deve ter o compromisso de retribuir à sociedade o investimento que recebe, desenvolvendo projetos que proponham a resolução de questões ‘reais’”, destaca.

Graduada em Matemática e mestre e doutora em Análise Espacial, campo de estudos da Geografia, a autora também se preocupou em explorar a interdisciplinaridade. “O trabalho envolve Matemática, Computação e Geografia, em conformidade com minha própria formação”, revela.