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Nº 1806 - Ano 39
4.2.2013

Inovação encorpada

Novo centro vai incrementar capacidade de geração e transferência de tecnologias na UFMG

Ana Rita Araújo

Um novo prédio – estrategicamente localizado em uma das principais portarias do campus Pampulha – revela a dimensão que os processos de inovação têm alcançado na UFMG. O Centro de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), cuja sede está em construção, simboliza a conexão entre a Universidade e a sociedade por meio da transferência de tecnologias que transformam conhecimento em novos produtos, processos e serviços.

Com portas voltadas para a Avenida Abrahão Caran, além de criar ambiente estruturado para a inovação, o edifício de 3,3 mil metros quadrados e de custo estimado em R$ 9,8 milhões vai oferecer condições para a expansão das atividades da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica e da Inova-Incubadora da UFMG. “A capacidade de incubação da Inova deve triplicar”, antecipa o pró-reitor de Pesquisa, Renato de Lima Santos.

Segundo ele, não se trata apenas de expansão quantitativa. “Com ambiente planejado especificamente para tais atividades – o que inclui normas construtivas e de biossegurança –, a Inova vai poder abrigar empresas de biotecnologia”, explica, ao lembrar que o novo Centro também será instrumento fundamental para programa de pós-graduação multidisciplinar em inovação, proposta atualmente em análise na Universidade.

No bojo das atuais mudanças, está em estudo a adoção de modelo de incubação que deve trazer maior retorno para as atividades acadêmicas. A ideia é que a UFMG se torne usufrutuária de fração das ações das empresas graduadas pela Inova, de modo a compartilhar benefícios de dividendos. Recursos dessa fonte se somarão aos oriundos de royalties, integralmente revertidos em ações institucionais de incentivo à pesquisa e à inovação.

Criada em 1996, oito anos antes da Lei de Inovação que definiu como regra a criação de núcleos de inovação tecnológica em todas as instituições de ciência e tecnologia do país, a Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG também funcionará no novo prédio. “Ao criar o Centro, a Universidade não quis perder a sigla, que hoje tem um respeito muito grande da comunidade nacional que trata desse tema”, explica o professor Ado Jorio, do ICEx, que até recentemente dirigiu a CTIT.

Importância estratégica

A clara tendência observada nos últimos anos de crescimento no registro de patentes e na transferência de tecnologias é fruto de planejamento institucional, com o intuito de ampliar a visibilidade da produção científica da UFMG e transformá-la em novos produtos, processos e serviços que gerem retorno para a sociedade. “O avanço na área advém de um esforço muito grande de estruturação da CTIT, com apoio constante da Reitoria, devido à visão do reitor Clélio Campolina para a importância estratégica da área de ciência, tecnologia e inovação”, afirma Renato de Lima Santos.

Para ele, mais relevante do que gerar tecnologias é transferi-las para o mercado, para que sejam traduzidas em benefícios socioeconômicos. O professor Ado Jorio informa que, de 2010 a 2012, foram assinados 20 contratos de transferência, número superior ao alcançado no período de 2003 (ano em que a UFMG inaugurou esse tipo de procedimento) até 2009. “Nesses sete anos foram formalizados 19 contratos”, contabiliza.

Com relação ao número de propriedades industriais solicitadas ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) pela UFMG, tem se mantido tendência de aumento consistente, sobretudo nos últimos cinco anos (2008 a 2012). Desde o início dos anos 1990, a Universidade fez 643 solicitações relacionadas à propriedade ­intelectual, dentre as quais 529 pedidos de patentes, 79 registros de marcas, 11 desenhos industriais e 24 programas de computador.

Nem todas as transferências geram retorno financeiro para a Universidade, mas os royalties obtidos com alguns licenciamentos podem custear estudos que vão resultar em produtos de grande interesse social, com o chamado licenciamento sem ônus. Esse modelo foi adotado pela UFMG em dois casos, ambos relacionados à leishmaniose, e as tecnologias acabaram absorvidas pelas fundações Ezequiel Dias (Funed) e Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O reitor Clélio Campolina afirma que ensino e pesquisa são elementos fundamentais para os processos inovativos, e que o conhecimento científico precisa ser transformado em conhecimento tecnológico e organizacional, capaz de induzir inovações. “Por outro lado, a Universidade, como instituição pública, deve estar permanentemente atenta, comprometida e articulada com o alcance social das inovações. Ciência e tecnologia devem estar voltadas para o benefício da humanidade e não apenas para a busca de lucros”.

Segundo Ado Jorio, a observação de grandes instituições internacionais permite entender a dinâmica do mercado de patentes. Como exemplo, cita o Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos: “Atualmente, 70% dos recursos arrecadados nessa área vêm de dez tecnologias, e, desse montante, 60% têm como fonte uma só transferência. Quase sempre, uma única tecnologia é o grande diferencial. Isso é histórico em qualquer instituição”, explica, estimando que o MIT mantém uma escala de depósitos de patentes e de transferências de tecnologia dez vezes superior à da UFMG.

Com o intuito de incrementar esse setor, a CTIT investiu na ampliação da equipe e criou o Núcleo de Inteligência de Mercado, que avalia o potencial mercadológico e de valoração de tecnologias produzidas na UFMG, aspectos importantes no processo de negociação com empresas que são potenciais licenciadoras. “É um trabalho relativamente lento, pois essa cultura demora a se consolidar, mas nossa meta é licenciar um número cada vez maior de tecnologias a cada ano”, comenta o novo diretor da CTIT, professor Pedro Vidigal.

Ele informa que outra iniciativa adotada no ano passado já começa a dar frutos: o projeto Agentes de Inovação preparou 20 estudantes de diversos cursos de graduação para disseminar informações relacionadas ao tema em todas as unidades acadêmicas. “Como resultado, tivemos em dezembro 35 depósitos de patentes, número recorde para um mês; e na Escola de Arquitetura alguns professores comentaram que não estavam atentos para o fato de que seus desenhos com aplicação comercial poderiam ser protegidos”, exemplifica Vidigal.

Formação

Disseminar esse olhar atento às questões da inovação e do empreendedorismo é uma das metas do novo Centro de Inovação, explica o diretor da CTIT, responsável pela disciplina optativa Introdução à Propriedade Intelectual, que está sendo oferecida pela primeira vez a estudantes de pós-graduação de todas as áreas. “Serão dadas noções básicas de propriedade intelectual, transferência tecnológica, empreendedorismo e relação universidade/empresa”, conta Vidigal.

Os jovens que atuam como agentes de inovação também têm recebido formação em todos os núcleos da CTIT. Com relação à nova pós-graduação em gestão da inovação, Vidigal explica que o intuito é preparar profissionais que tenham interesse no tema como gestores e aqueles que desejam trabalhar no desenvolvimento de tecnologias e inovação.

O novo prédio também oferecerá ambiente para a consolidação dos Centros de Tecnologia (CTs), definidos por Ado Jorio como geradores de novos negócios e de empresas de base tecnológica. A ideia é oferecer apoio institucional a grupos de pesquisa da UFMG que atuam em rede e revelam elevado potencial de geração de propriedade intelectual, tecnologia, negócios e produtos.

O suporte inclui área física e infraestrutura para instalação do setor administrativo dos grupos, além de palestras, cursos, workshops, consultorias e planejamento de negócios.

Quando a Inova se instalar no novo prédio, poderá receber simultaneamente até 25 empresas – a atual capacidade de incubação é de oito projetos. O prédio de quatro andares também terá auditório de 64 lugares, dois laboratórios multiuso e setor administrativo.

Visibilidade

Toda a capacidade dos laboratórios e grupos de pesquisa da UFMG, espalhada nas diversas unidades acadêmicas, é acessada instantaneamente por uma ferramenta de busca. Trata-se do Somos UFMG (somos.ufmg.br), que já está disponível a qualquer internauta. “O banco de patentes da Universidade está todo lá, e pode ser encontrado por uma instituição que esteja buscando colaboração ou por empresas que procuram especialistas ou laboratórios em uma área de interesse”, comenta Jorio. Ele explica que, além do acesso ao currículo Lattes dos professores, o programa oferece interface mais atrativa quando o usuário escolhe a opção “exibir gráficos”, que lhe permite visualizar as áreas de pesquisa preferenciais de cada especialista e os autores com os quais mais publica.

“Por meio do Somos, hoje temos condição de dizer exatamente quantos trabalhos a UFMG já publicou nos primeiros dias de 2013, e isso é uma ferramenta de gestão fabulosa para a Universidade”, afirma Renato de Lima Santos. Marca registrada pela UFMG, o Somos atraiu a atenção de outras instituições de pesquisa do país, que demonstraram interesse em adotá-lo.

Propriedades Industriais UFMG


Contratos assinados de transferência de tecnologia

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