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Nº 1814 - Ano 39
1.4.2013

Nem toda recepção é trote

Em vários cursos, calouros são recebidos com iniciativas que estimulam a solidariedade

Ewerton Martins Ribeiro

No passado, os trotes funcionavam como ritos de passagem: mecanismos para a afirmação e autoafirmação –
intelectual, mas por meio da subjugação física – de veteranos em relação aos calouros. Nos últimos tempos, porém, boa parte das iniciativas tem se voltado para a recepção dos novatos e para o fomento de práticas solidárias de boa convivência e interação acadêmica.

A UFMG conta com longo histórico de trotes solidários e recepções a calouros. Algumas unidades, como a Faculdade de Farmácia e a Escola de Veterinária, têm trajetória de incentivo à doação de sangue, com o apoio do Hemominas. A arrecadação de recursos e utensílios para instituições beneficentes também tem sido reincidente em algumas unidades. Em outras, como na Escola de Educação Física, veteranos costumam receber os novatos com jogos e brincadeiras.

Vários exemplos dão a medida dessa tendência. Neste semestre, veteranos da Faculdade de Medicina convidaram calouros para restaurar uma escola pública de uma comunidade de Belo Horizonte, que precisava de pintura e reparos gerais. A ação aconteceu no dia 16 de março. “Éramos mais de cem pessoas, entre calouros e veteranos. Todos pusemos a mão na massa. Pintamos a fachada, fizemos uma placa com o símbolo da escola, plantamos novas mudas no jardim, oferecemos oficinas de dança, esporte, origâmi e pintura às crianças”, enumera Pedro Menezes, aluno do segundo período e um dos organizadores da iniciativa.

Esta foi a terceira edição consecutiva do Trote Solidário da Medicina. “Na segunda edição, eu era caloura”, diz Jéssica Arantes, hoje no 2º período. “Lá eu tive a certeza de que participaria da organização da próxima edição como veterana. A ideia é promover uma interação que ultrapassasse a falsa hierarquia entre acadêmicos. Não é fácil acabar com certas tradições, mas optamos por nos engajar em um trote diferente. Foi uma iniciativa relacionada com o meio social no qual o calouro como cidadão – e, posteriormente como médico – está e estará eternamente inserido”, acrescenta.

Gincana

Já no 19º Trote Solidário realizado pela Cria UFMG Jr. e pelo Centro Acadêmico de Comunicação Social, veteranos e calouros se uniram em uma espécie de gincana com o objetivo de arrecadar livros para uma instituição beneficente. Entre os dias 18 e 22 de março, cerca de 30 calouros participaram da ação, arrecadando 53 volumes, que agora serão doados para uma biblioteca comunitária. “A ideia principal é fazer a recepção dos calouros na Universidade e propiciar sua interação com os veteranos. É uma ação que realizamos ininterruptamente, todo semestre, desde 2004”, conta Gabriella Braga, diretora de marketing da Cria. “Muitos calouros também não sabem como funciona uma empresa júnior. Nesse sentido, a ação serve também para já começarmos um processo de recrutamento de trainees.”

Antes, nos dias 5 e 6 de março, cerca de 15 alunos envolvidos com o Programa Ações Afirmativas na UFMG receberam, na Faculdade de Educação, mais de 250 calouros com uma série de oficinas temáticas, como de estêncil, trança e turbante. No primeiro dia, os calouros também participaram de sessão de narrativas de mitos africanos, ministrada pelos professores Josiley Francisco Souza, da FaE, e Cláudio Emanuel dos Santos, do Centro Pedagógico. No dia seguinte, assistiram a palestra sobre cotas e ações afirmativas na Universidade, ministrada por Rodrigo Ednilson de Jesus.

A professora Nilma Lino Gomes, coordenadora geral do Ações Afirmativas na UFMG e integrante do Conselho Nacional de Educação, sugere que a ideia de trote converta-se em uma ação em que todo calouro seja apresentado à área de conhecimento e ao curso escolhido. “Além da recepção geral programada pela UFMG, é importante que cada unidade se articule com os DAs ou CAs e realize atividades conjuntas com discussões, bate-papos, palestras, seminários, oficinas e atividades culturais para calouros e veteranos, proporcionando interação na chegada à Universidade e indicando aos novatos o que irão encontrar na trajetória acadêmica que se inicia”, afirma a professora.