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Nº 1817 - Ano 39
22.4.2013

Ajuda para equilibrar

Projeto de pesquisa do Hospital das Clínicas oferece tratamento gratuito a pacientes de Transtorno Afetivo Bipolar (TAB)

Matheus Espíndola

“Imagine que o equilíbrio emocional seja representado por uma régua de 30 centímetros. O centro dessa régua é o ponto ideal e ilustra um nível inalcançável pelos seres humanos. No caso de pessoas consideradas equilibradas, a emoção oscila, na maior parte do tempo, pouco abaixo de 14, ou ligeiramente acima de 16, nessa escala. O portador do Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), no entanto, atinge, sem controle ou critério, as extremidades dessa régua, e não consegue se estabilizar.”

Parecem palavras de um especialista explicando didaticamente um tema complexo a um interlocutor leigo, mas essa analogia foi feita por um dos pacientes de TAB atendidos no Ambulatório Borges da Costa, no Hospital das Clínicas (HC). O rapaz, que tem sua identidade preservada nesta reportagem, é beneficiado por um projeto de pesquisa e extensão na área de psiquiatria realizado gratuitamente e voltado para portadores do transtorno. O tratamento consiste, além da medicação, em intervenções psicossociais direcionadas entre outras coisas para o esclarecimento sobre o TAB – como se pode notar pela descrição feita pelo paciente.

Riscos e intervenções

Uma das intervenções prestadas aos diagnosticados com o transtorno bipolar é a chamada psicoeducação, feita em grupo, em oito encontros (um por semana), e consiste em informar os pacientes sobre o distúrbio, expor as situações de risco de crises e os respectivos fatores de proteção. “O uso de bebida alcoólica ou drogas e o sono irregular podem contribuir para a crise de desequilíbrio emocional”, afirma a mestranda em Medicina Molecular pela UFMG Isabela Lima. “Por outro lado, a disciplina no tratamento farmacológico é importante para a melhora do quadro de quem sofre o transtorno”, contrapõe sua colega de mestrado, Cristina Sediyama. Ambas são pesquisadoras do Laboratório de Investigações Neuropsicológicas da UFMG e participam do projeto.

Isabella Lucas
Cristina Sediyama: serviço aberto à comunidade externa
Cristina Sediyama: serviço aberto à comunidade externa

Outra possibilidade de intervenção é a terapia ­cognitivo-comportamental, procedida individualmente, geralmente com 12 encontros previstos, um por semana. Nessas sessões, o paciente recebe informações e tem acesso a estratégias que lhe propiciam autonomia para estabilizar o próprio humor, evitar as crises e, consequentemente, melhorar sua qualidade de vida.

Por fim, a reabilitação cognitiva é um mecanismo que visa lidar com os prejuízos cognitivos do paciente, aprimorando ­aspectos como memória, atenção, organização e planejamento, tornando-o apto a lidar com as tarefas do cotidiano.

Criado em 2009, o projeto é coordenado pelos professores do Departamento de Saúde Mental da UFMG Fernando Neves, Humberto Corrêa, Leandro Malloy-Diniz e Tatiana Mourão. “Cerca de 80 pacientes já passaram por tratamento conosco”, estima Isabela. “Entre as pessoas recebidas pelo nosso núcleo de pesquisa, estão aquelas encaminhadas pelo Ambulatório de Transtorno Bipolar da psiquiatria do HC, atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, as etapas de pesquisa de avaliação ­neuropsicológica e intervenções psicossociais são abertas a pacientes externos diagnosticados com TAB. Oferecemos nossas intervenções, sem custos, diretamente ao público, que deve nos contatar para fazer a avaliação neuropsicológica, etapa anterior às intervenções”, acrescenta Cristina.

Tal avaliação consiste na aferição dos níveis de atenção, memória, ansiedade e humor, realizada por meio de testes neuropsicológicos, com softwares próprios e autorrelatos, mediados por equipe composta por psicólogos, psiquiatras e terapeutas ocupacionais. Com essa triagem, é possível fazer um mapeamento das condições dos pacientes e distribuí-los entre os três tipos de intervenções ofertadas.

Mania, hipomania e depressão

Isabela Lima explica que a “depressão” é a fase predominante no TAB, e tem como sintomas tristeza profunda, desinteresse, alterações do sono, culpa, frustração, pensamentos suicidas, entre outros. Na fase de “mania”, o paciente apresenta estado de euforia demasiada, descontrole ao coordenar as ideias, compulsão para falar e comportamento agressivo. A “hipomania” é caracterizada pelos mesmos sinais, em menor intensidade.

“Tive momentos de extrema agressividade, em que chegava a quebrar os objetos na minha casa. Queria fazer muitas coisas ao mesmo tempo, de maneira perfeccionista, e acabava ficando confuso e desorganizado. Mas já há um ano não passo por essas situações”, testemunha o paciente, ainda em busca do equilíbrio que tão bem descreveu na abertura da reportagem.

Os interessados em passar pela avaliação neuropsicológica e submeter-se ao tratamento devem acessar o site do laboratório (www.labineuro.com), que contém as instruções para o cadastro, ou enviar e-mail para ntatranstornobipolar@gmail.com.