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Nº 1830 - Ano 39
5.8.2013

Cor em teorias e história

Em dissertação, pesquisador propõe método que valoriza aspectos filosóficos e estéticos ligados ao uso da cor na pintura

Itamar Rigueira Jr.

Nos dias que correm, o pintor usa diferentes linguagens e tecnologia de ponta e explora diversos suportes e mídias – o que leva a cor a se comportar de formas variadas –, mas questões que remetem às origens do pensamento ocidental se mantêm atuais, como as de natureza estética. Preocupado com o que considera lacuna importante na formação do pintor, já que a maioria das obras sobre o tema trataria a cor de forma técnica e cientificista, Marcelo Albuquerque resolveu dedicar seu mestrado na Escola de Belas-Artes da UFMG ao estudo da cor na pintura.

“Investigo a presença dos questionamentos clássicos, estéticos e históricos na contemporaneidade, com análise dos principais referenciais teóricos”, informa Albuquerque, que é pintor e professor. Fartamente ilustrada, a pesquisa mostra, por exemplo, como o artista francês Yves Klein se vale de conceitos metafísicos medievais ou como David Batchelor, artista contemporâneo e pesquisador inglês, alia recursos eletrônicos a uma base filosófica que remete a Platão, Aristóteles e Cícero, além do gótico e da teofania da luz dos vitrais.

Para Marcelo Albuquerque, é fundamental para um artista da pintura conhecer temas como a disputa platônica entre o desenho, que representaria a alma, e a cor, que seria a expressão do corpo. “Essa disputa foi muito clara até o século 19; em certas épocas acreditava-se que um pintor não poderia se exceder na cor, tida como enganosa, pecaminosa, responsável pelo desvirtuamento da essência”, comenta o autor. Ele acrescenta que mesmo a explosão de cores do Impressionismo não eliminou de vez essa disputa, apenas a tornou velada.

Conceitos reconfigurados “Os clássicos deixaram problemas que ainda não foram resolvidos”, salienta Albuquerque. “Por isso achei importante criar uma espécie de história da cor na história da arte, valorizando como eixos centrais os aspectos filosóficos e estéticos.” Ele chama a atenção também para reconfigurações de conceitos e exemplifica: as capas de discos “lisérgicas” dos anos 1960 e 1970 fazem lembrar que os gregos associavam a cor a conceitos semelhantes a drogas (pharmakon) – o excesso pode causar prejuízos.

O autor enfatiza contribuições como a de Wassily Kandinsky, artista e professor que punha sua criação e suas aulas (na Bauhaus) em absoluta sintonia, lembra que Hélio Oiticica deixou referências escritas a conceitos consagrados e contextualiza a produção de Amilcar de Castro e do venezuelano Carlos Cruz-Diez, entre muitos outros artistas.

O “Laboratório de cor” que aparece no título da dissertação diz respeito ao método didático que Albuquerque propõe na conclusão do trabalho. Estruturado em quatro pilares – estética e história da arte, natureza física e química, percepção e pedagogia da cor –, o método, de acordo com o pesquisador, é flexível e prevê pesos diferentes para cada um dos pilares dependendo do público-alvo: pintores, restauradores, designers, publicitários etc.

“O trabalho é contribuição importante como levantamento histórico das diversas teorias da cor, desde a Antiguidade até a contemporaneidade. O Marcelo inicia uma abordagem crítica, que poderá ser aprofundada no doutorado, mas, sobretudo, usa seu estudo como ferramenta para sua carreira de professor”, comenta a professora Wanda Tofani, orientadora da pesquisa.