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Nº 1834 - Ano 39
02.09.2013

Demasiado plural

Espaço da UFMG na Praça da Liberdade muda de nome, renova sua estrutura para também receber exposições temporárias e se prepara para ampliar parcerias

Ewerton Martins Ribeiro

Ao chegar ao Espaço do Conhecimento UFMG, o visitante vai direto para o quinto e último andar: de um lado o terraço astronômico, de outro um Planetário de última geração, onde o céu é projetado em 360 graus. Quando sai da cobertura, esse visitante segue para o térreo, explorando a cada andar a pluralidade de instalações da exposição Demasiado humano, a principal do museu: ela demonstra, de forma interativa e audiovisual, como a espécie humana vem construindo sua acidentada presença na Terra.

Mais de 240 mil visitantes já fizeram esse percurso instigante e, ao mesmo tempo, lúdico, desde que o Espaço do Conhecimento UFMG foi inaugurado em 21 de março de 2010. A partir deste mês, o local, que integra o Circuito Cultural Praça da Liberdade, deixa de ter em seu nome a referência à operadora de telefonia celular TIM, que, no entanto, continua sendo parceira do Espaço, aportando um terço dos recursos financeiros.

A decisão tomada pela TIM, Governo de Minas e UFMG visa abrir portas para novas parcerias, como a que está sendo negociada com a Fapemig, além de vislumbrar a perspectiva de envolver entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e o Serviço Social do Comércio (Sesc). “Trata-se de um amadurecimento institucional. No decorrer desses três anos e meio, percebemos que havia espaço para a diversificação das parcerias e para consolidar o nosso projeto de produção cultural e divulgação científica”, explica o professor Bernardo Jefferson de Oliveira, diretor científico-cultural do Espaço.

Ressignificação

A mudança acaba funcionando também como símbolo de uma ressignificação do Espaço do Conhecimento, que envolve algumas transformações nas instalações. O segundo andar, antes ocupado por parte da exposição Demasiado humano, será inteiramente dedicado a mostras temporárias, com duração estimada de quatro a seis meses. “O objetivo é que essa renovação regular estimule a volta de públicos que já conhecem o museu e atraia novos visitantes”, diz Bernardo Jefferson. Esse ambiente receberá em outubro a exposição Seu Lixandre: narrativas de catação, em parceria com a Associação dos Catadores do Papel, Papelão e Material Reaproveitável (Asmare) de Belo Horizonte, que tem como tema o trabalho da coleta seletiva e a trajetória dos catadores.

A estratégia do Espaço do Conhecimento UFMG de ampliar os públicos que frequentam as suas instalações está sendo reforçada por projeto de acessibilidade voltado para pessoas com surdez. A iniciativa, desenvolvida em parceria entre o Núcleo de Comunicação e Acessibilidades (NCA) da UFMG e o Cefet, será inaugurada no dia 26 de setembro. O plano apresenta o conteúdo da exposição Demasiado humano por meio de vídeos bilíngues concebidos em Libras e com legendas para os surdos não usuários da Língua Brasileira de Sinais. O Planetário e o Terraço Astronômico contam com acessibilidade por intermédio de intérprete de Libras e revistas em quadrinhos que apresentam o enredo de filmes. Ao todo, foram desenvolvidos cinco vídeos que proporcionam ao surdo uma visita guiada por monitores virtuais que apresentam o museu em Libras, com legendas em português.

Outra novidade diz respeito ao usufruto do prédio. “Desde a inauguração, essa era uma questão a ser resolvida. O imóvel é de propriedade do Governo de Minas Gerais. No convênio recém-firmado, o Governo cede o prédio por 20 anos para a UFMG abrigar formalmente o Espaço do Conhecimento. Isso descomplica o uso e proporciona mais tranquilidade para a adoção de medidas de longo prazo. A administração ficará a cargo da Universidade, e a Fundep cuidará dessa gestão”, detalha o diretor.

Diálogo em jogo

Bernardo Jefferson observa que o museu, inspirado em outras experiências contemporâneas, conjuga ciência e arte, explorando e instigando a curiosidade sobre teorias, tecnologias e práticas científicas. Segundo o diretor, o Espaço propõe um intercâmbio entre as culturas artística, humanística e científica, oferecendo aos visitantes experiências provocativas. “A ideia não é esgotar o conhecimento, mas convidar ao diálogo e gerar reflexão”, afirma.

Celton Oliveira
Telescópio da marca Celeron, instalado este ano no terraço astronômico, gera imagens de alta definição
Telescópio da marca Celeron, instalado este ano no terraço astronômico, gera imagens de alta definição

Para o diretor, uma atividade que ilustra essa tendência são os Jogos do conhecimento, que acontecem todas as quintas-feiras, a partir das 17h, em sessões abertas ao público. O evento é desenvolvido pelo UFMGames, núcleo de ensino, pesquisa e extensão em design de games que visa estimular a criação de jogos em diversas plataformas, desde o tradicional tabuleiro até o meio digital.

O núcleo é composto por alunos dos cursos de Design e de Cinema de Animação e Artes Digitais (CAAD) da Escola de Belas-Artes (EBA) e tem jogos premiados e traduzidos para outros países. Nos encontros, os pesquisadores experimentam com os frequentadores do museu os projetos em desenvolvimento, para assim obter feedbacks sobre suas funcionalidades, podendo aprimorá-los a partir das percepções dos jogadores.

Para Bernardo Jefferson, os Jogos do conhecimento exemplificam o tipo de proposta a ser desenvolvida no Espaço, que, além de abrigar conhecimento, deve ser um laboratório de experimentação de divulgação científica. “No caso dos Jogos do conhecimento, os pesquisadores e desenvolvedores não se limitam a expor as criações: eles fazem do museu um espaço compartilhado de criação com o público. A pesquisa acontece com a participação e o envolvimento da comunidade”, salienta.

Labirinto vertiginoso

A exposição Demasiado humano é resultado de pesquisas realizadas na UFMG em diferentes áreas do conhecimento, como astrofísica, paleontologia, genética, arqueologia, antropologia, literatura, linguística, história e ecologia. Com curadoria da professora Patrícia Kauark-Leite, do Departamento de Filosofia da Fafich, a mostra foi concebida sob o mote da busca humana por compreender o universo. Por meio de uma experiência visual, tátil e sensorial, ela aborda o conhecimento em suas diversas formas: poética, filosófica, científica e tecnológica.

O nome da exposição é inspirado na obra Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres, de Nietzsche. Ela começa no quinto andar com a instalação O Aleph, inspirada no conto de Jorge Luis Borges publicado em livro homônimo. Na obra, Borges propõe ao leitor percurso que se assemelha a um labirinto vertiginoso, em que uma imagem se reflete dentro de si como em um jogo de espelhos, indefinidamente.

Ainda este semestre, serão montadas seções itinerantes da exposição para serem exibidas em outros espaços.

Teto, escadas, parede: tudo é museu

Uma das peculiaridades do Espaço do Conhecimento é o aproveitamento de estruturas não usuais para também nelas as mostras serem instaladas. A exposição Esca(la)da: qual o tamanho disso? utilizará as escadas do prédio para mostrar, em cada lance, a relatividade dos tamanhos das coisas. Outra são as exibições que abrangem todo o teto do Planetário: nele, a projeção em 360 graus transforma o espaço em um cinema imersivo, gerando envolvente sensação de profundidade.

Em relação a esse tipo de aproveitamento arquitetônico, destaca-se também a Fachada digital, espaço revestido por vidro especial que transforma a parte externa do edifício em uma grande tela de projeção. As exibições acontecem todas as noites, das 18h30 às 22h30, e unem arte, ciência e experimentação em interface com a rua. “Esses painéis atraem os olhares de quem está na Praça da Liberdade, levando à rua e à cidade a experiência do conhecimento proposta pelo Espaço”, diz Bernardo Jefferson.

A partir do dia 12 de setembro serão projetados, no planetário e na fachada do prédio, os trabalhos selecionados no último edital de apoio à produção audiovisual.