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Nº 1834 - Ano 39
02.09.2013

Língua essencial

Livro de professor da Fale que prepara para o ensino do latim se mantém como referência e ganha quinta reedição

Itamar Rigueira Jr.

Não se trata de um campeão de vendas, e não é mesmo essa a pretensão. Mas o livro Latina essentia – ­Preparação ao latim (Editora UFMG), do professor da Faculdade de Letras da UFMG Antônio Martinez de Rezende, acaba de ganhar sua quinta reedição. Vinte anos depois de lançado, continua a ser muito requisitado e é considerado referência para o ensino da língua de que o português se origina.

A obra está baseada em conceitos como o de que também a organização estrutural e formal da língua constrói e expressa o entendimento de mundo de uma comunidade. “No latim, a associação entre forma e sentido é muito mais abrangente do que no português, que, em geral, exige muito do contexto para a compreensão de uma frase”, explica Martinez. Ele exemplifica: na sentença “O ladrão roubou o dinheiro do menino”, a estrutura do latim deixa claro se o menino era o dono (a palavra puer, menino em latim, assume a forma pueri) ou apenas o portador do dinheiro (neste caso, puero).

Outra preocupação que rege a natureza de Latina essentia é a de levar o aprendiz à consciência da língua por caminho diferente da metodologia da imersão, que se aplica às línguas em pleno uso. O livro trata do latim clássico, aspecto que não é mais produtivo. “Pode-se dizer que apenas esse estilo correto de falar e escrever o idioma está morto. O latim das camadas populares sobrevive em variantes como o português, o espanhol e o italiano”, explica o autor.

Mão dupla

Ele lembra ainda que, se é verdade que conhecer o latim contribui para a compreensão do português, numa dimensão mais ampla, o inverso também procede. “É importante que o aluno domine razoavelmente a gramática do português para aproveitar melhor os estudos do latim. Mas na maioria dos casos até mesmo o desempenho em leitura e escrita em língua portuguesa é precário, e o professor de latim deve saber lidar com essa deficiência”, ele diz.

Martinez acrescenta que o livro deve auxiliar o professor na preparação do aluno para compreender também a linguagem de obras técnicas mais avançadas da matéria. Nessa perspectiva, Latina essentia – Preparação ao latim funciona como uma iniciação ao estudo da língua.

O livro se divide em textos teóricos e exercícios de três tipos: sobre morfologia; com frases soltas, para comentários do professor; e a partir de textos (em versões originais e simplificadas). A obra contém ainda tabela que serve de referência para a morfologia de substantivos, adjetivos e verbos, e um glossário.

O estudo do latim, como sugere a obra, possibilita, por exemplo, entender, por meio da estrutura da língua, como se encaminhou para a noção de posse, que é relativamente recente. O latim arcaico não destacava o possuidor, mas a ideia de que a “coisa” existia em benefício de alguém. Assim, ter provém de tenere (“segurar, guardar”); e haver vem de habere, associado às ideias de “viver em” (daí habitar) ou “modo de ser” (daí hábito). “Isso mostra que a língua, como instrumento de representação, é também elemento de materialização das relações do homem com o mundo”, ressalta Martinez.

A obra foi publicada originalmente quando o latim era obrigatório para todas as habilitações em Letras – hoje, na UFMG, é matéria optativa ou de formação livre. A disciplina pode ser cursada como formação livre por estudantes de outras áreas e como curso de extensão ofertado à comunidade externa.

Livro: Latina essentia – Preparação ao latim
De Antônio Martinez de Rezende
Editora UFMG / 187 páginas / R$ 74 (preço sugerido)