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Nº 1856 - Ano 40
24.03.2014

opiniao

Continuidade renovada e transformação ousada*

Jaime Arturo Ramírez**

Na história da Universidade Federal de Minas Gerais, cada novo reitorado encontra-se diante de um novo desafio. De um lado, deve-se responsabilizar pelo crescimento dos padrões de excelência que caracterizam esta Casa, na diversidade dos domínios em que atua. Esse é o traço da continuidade, de uma continuidade sempre renovada. De outro, deve se esforçar para acolher, na instituição, as novas possibilidades que a história, a sociedade e o avanço do conhecimento, sem cessar, apresentam. Esse é o traço da transformação, de uma transformação sempre ousada.

(...) A Universidade Federal de Minas Gerais é uma universidade pública. E não é pública apenas em virtude de sua vinculação ao Estado. É pública porque não se submete a quaisquer interesses que se oponham à sua identidade maior, é pública por sua lealdade à razão, ao debate argumentado, à deliberação sustentada (...) É pública pelo seu compromisso com a produção e difusão de conhecimentos em um espaço crítico de pensamento sobre a realidade do país.

(...) Não podemos admitir que haja diferença de oportunidades entre nossos alunos, por princípio iguais. Que, em seu tempo conosco, não sejam apenas treinados, mas que vivam seus anos de UFMG como um período de imersão intelectual. Que tenham acesso à herança cultural da humanidade que se faz requisito da cidadania plena.

(...) É o momento de mobilizar a comunidade universitária para que aqui sejam gestados novos modos de geração do conhecimento, de maior alcance científico e de maior repercussão na sociedade.

(...) É necessário ampliar o leque dos contatos diretos com a comunidade externa e aumentar a participação das diversas áreas nesses programas (de extensão), fazendo com que o conhecimento aqui gerado se nutra, pelo caráter dialógico dessa relação, das questões que a interação com a sociedade pode fazer emergir. É urgente a UFMG assumir a sua parte e envolver-se no debate das grandes questões nacionais, propondo soluções aos difíceis problemas derivados da concentração populacional em grandes metrópoles, da mudança rápida do perfil etário e de consumo da sociedade, bem como da crescente substituição da economia baseada em mão de obra e riquezas naturais por uma sociedade de informação e do conhecimento.

(...) Somos hoje uma comunidade de mais de 50 mil pessoas que convivem no campus Pampulha, no campus Saúde e no campus de Montes Claros. É urgente revermos a política da UFMG de uso do seu espaço, articulando de maneira integrada uma política de gestão que contemple mobilidade e acessibilidade, serviços e sustentabilidade com o meio ambiente. (...) A Reitoria não é apenas um prédio ou uma instância de poder. Nós a percebemos, e gostaríamos que todos a percebessem, como um espaço vivo, capaz de acolher as questões presentes na vida universitária e incentivar a discussão substantiva e consequente de cada uma delas. Também é desse modo que percebemos nossos órgãos colegiados.

(...) Em parceria e colaboração com os diretores de unidades, entendemos que a extensão da ideia do planejamento ao campo acadêmico deve ser retomada. Com o recurso constante às instâncias colegiadas, devemos nos voltar para a necessidade de estabelecer metas de longa duração no ensino, na pesquisa, na extensão e na administração de uma forma geral. (...) Necessitamos de uma política acadêmica de longo prazo e não apenas de iniciativas circunscritas a uma ou outra gestão.

(...) Reiteramos o compromisso de dedicar o melhor de nossa energia a uma universidade de qualidade, mais inclusiva. Solidária, com uma gestão mais humana. Como diria a mineira Adélia Prado, “desdobrável. Cada dia mais rica de humanidade.” Que possamos, ao longo desse reitorado, a equipe que hoje está assumindo o comando da instituição e a comunidade universitária como um todo, dar continuidade à história dessa Casa, caracterizada pelos reiterados serviços prestados ao estado de Minas Gerais e ao desenvolvimento do nosso país. (...) Como é próprio das coisas humanas, os traços que singularizam cada gestão deram lugar a uma obra coletiva, apaixonadamente construída, a Universidade Federal de Minas Gerais. Que a essa história possamos nós, por nossa vez, ser fiéis.

(...) Termino, eu que me considero de Montes Claros, recorrendo a um mineiro, Guimarães Rosa, que um dia disse: “... o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando”. Talvez as universidades devam e possam ser vistas assim também, sempre mudando, sempre inacabadas, sempre mudando, sempre melhorando... Esse é o nosso compromisso, esse é o nosso desejo.

*Trechos extraídos do discurso proferido na cerimônia de transmissão de cargo, em 19 de março de 2014

**Reitor da UFMG