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Nº 1856 - Ano 40
24.03.2014

Perfil/Jaqueline Mourão

Suor e ciência

Ex-aluna da UFMG é a primeira atleta no mundo a participar das Olimpíadas de verão e inverno, em três modalidades diferentes

Itamar Rigueira Jr.

Chega ao fim mais um ciclo olímpico, o quinto, e ela está de volta ao Canadá, onde mora, depois de participar dos Jogos de Inverno em Sochi, na Rússia. E entre as possibilidades, Jaqueline Mourão, que cursou graduação e mestrado em treinamento esportivo na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Educacional da UFMG, inclui um doutorado. Isso tem muito a ver com as lembranças dos anos que passou no campus Pampulha.

“Foi uma fase muito boa da minha vida, e apesar de ser cansativo conciliar as aulas e pesquisas com minha carreira esportiva, a experiência foi muito válida, pois parte do que eu aprendia aplicava imediatamente no meu esporte”, rememora Jaqueline, que na época competia no mountain bike. Mais tarde, passou ao esqui na neve e, há poucos anos, adotou o biatlo (que une esqui ao tiro). A mineira transformou-se na primeira atleta no mundo a participar das Olimpíadas de verão e inverno em três modalidades diferentes.

“Como não havia um clube ou escolinha de mountain bike onde pudesse buscar informações específicas, acabei criando minha própria estrutura, por meio do estudo e dos excelentes profissionais que estavam à minha volta”, conta Jaqueline. “Quando tinha dúvidas ou queria me aprofundar em certos aspectos da minha preparação, consultava professores como Leszek Smuchrowski, Emerson Silami e Dietmar Samulski. Na Escola também encontrei meu porto seguro quando me machuquei em uma etapa do Brasileiro de 1998. Fiquei fora das pistas por quase um ano, e os estudos me ajudaram a me manter forte e me desenvolver em outros domínios enquanto me recuperava.”

Ex-bolsista de iniciação científica no Laboratório de Avaliação de Carga (LAC), ela lembra que viu o Centro de Excelência Esportiva (Cenesp) ser construído. Frequentou também as faculdades de Medicina e Educação e o ICEx, onde adquiriu gosto especial pela Bioestatística. “A Jaque iniciou toda sua trajetória científica e esportiva no LAC, colaborando com projetos de pesquisa dos quais hoje podemos nos orgulhar. Ela não se cansa de colecionar conquistas que fazem dela uma das mais importantes atletas olímpicas na história do Brasil”, derrete-se o professor Leszek, que orientou a pupila no LAC.

Ex-colega de Jaqueline na graduação e no mestrado, Camila Nassif ressalta que a amiga conseguiu manter o foco na carreira acadêmica enquanto corria atrás do sonho olímpico. “Ela segue à risca a metodologia científica porque sabe dos benefícios para ela como atleta e alia a isso muita sensibibidade”, diz Camila, que hoje vive na Nova Zelândia.

Novas modalidades

Primeira mulher a competir no mountain bike do Brasil nas Olimpíadas (em 2004, em Atenas), Jaqueline Mourão aprendeu a esquiar um ano depois com o marido, o canadense Guido Visser, também atleta olímpico, que mais tarde assumiu seus treinos e a acompanha em todas as viagens. Jaque se divide entre Quebec, a Europa – durante o inverno, para competições – e Belo Horizonte, aonde vem todos os anos para rever família e amigos, além de pedalar nas trilhas de Rio Acima e cumprir compromissos com a Confederação Brasileira de Desportos da Neve – testes, exames e planejamento.

Depois de diversas competições no esqui XC (cross-country), incluindo os Jogos de Vancouver, no Canadá, em 2010, Jaqueline Mourão teve oportunidade, meio por acaso, durante a gravidez do filho Ian, em 2011, de aprender a atirar de carabina. E logo passou a obter bons índices no biatlo. “Passei então a me dedicar apenas a esse esporte, já que a rotina é muito exigente, são oito horas por dia. Além da parte física, é preciso trabalhar o tiro, que demanda concentração, conhecimento do corpo e interação com a arma”, explica a atleta.

Jaque Mourão diz que, por natureza, gosta “de desafios e de trabalhar duro”. Até hoje, não houve outra atleta olímpica no mountain bike, e foi parecido com o esqui e o tiro. “Quando vi que teria chance de me classificar no esqui, me dediquei 100%. O biatlo foi sem dúvida o maior desafio, comecei do zero e aprendi ainda grávida. Sou muito detalhista, e aprendi rapidamente os fundamentos”, ela conta.

O pessoal da Escola de Educação Física torce para que Jaque faça o caminho de volta e traga sua experiência múltipla para novas pesquisas no campus Pampulha.