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Nº 1865 - Ano 40
26.05.2014

Melhor, limpo e barato

Com base no uso de scanner de escritório, pesquisadores do ICEx desenvolvem método mais eficiente de quantificação de corantes artificiais em bebidas

Teresa Sanches

O teor de corantes artificiais encontrado em alimentos e bebidas é medido tradicionalmente pelas técnicas de cromatografia e espectrofotometria. Pesquisadores do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (Icex) desenvolveram novo método, mais rápido, limpo e barato, que se vale da análise de imagens digitais dos corantes.

O novo processo, desenvolvido pelo aluno de doutorado Bruno Gonçalves Botelho e pela aluna de iniciação científica Luciana de Paula Assis, sob a orientação do professor Marcelo Martins de Sena, substitui o uso de aparelhos caros, como o cromatógrafo, pelo popular scanner de escritório, e os métodos físico-químicos de separação dos componentes de uma mistura pela análise quimiométrica, baseada na separação matemática dos padrões de imagens digitalizadas das amostras.

Os pesquisadores analisaram o corante amarelo crepúsculo (sunset yellow), presente em isotônicos e refrigerantes de sabor laranja. Bruno Botelho explica que, além do baixo custo do equipamento utilizado, o método acelera a análise, diminuindo a intervenção do analista. “Pela cromatografia, entre o preparo da amostra e a análise, são necessários cerca de 30 minutos, enquanto pelas imagens digitais não passa de um minuto”, garante.

Pela técnica desenvolvida pelos pesquisadores do Icex, as amostras de refrigerantes de laranja são levadas primeiramente a um aparelho de ultrassom, para retirada das bolhas de gás, que interferem na qualidade da imagem. Depois são postas em placas de petri (recipientes usados em culturas de micro-organismos) e encaminhadas ao scanner para geração de imagens digitais, capturadas pelo computador e transformadas em gráficos de intensidade de sinais (histogramas de frequência), analisados automaticamente.

Embora eficiente, a análise convencional – feita a partir de cromatografia e espectrofotometria – apresenta restrições, de acordo com o professor Marcelo Sena. Uma delas é de natureza econômica, uma vez que o cromatógrafo pode custar de R$ 30 mil a 500 mil. O método tradicional também consome grande quantidade de amostras, exige uso de solventes, gerando resíduos, e gasta mais tempo para concluir a análise.

Foram examinadas 83 amostras de 25 marcas de refrigerantes e bebidas isotônicas nacionais e nenhuma delas apresentou teores acima da metade do limite permitido. Os procedimentos revelaram que as marcas mais baratas carregam maior quantidade de corante que as mais conhecidas no mercado. Os resultados do estudo foram publicados na revista Food Chemistry.

Nove corantes têm seu uso permitido no Brasil. A regulamentação desses aditivos está a cargo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que limita em 0,01 grama de corante por 100 gramas de alimento. No entanto, estudos sugerem a redução desse patamar, baseados na possível associação do consumo dessas substâncias a vários problemas de saúde, como crises de asma, alergias e imunossupressão.

Em balas

A partir deste projeto, a aluna de mestrado Kele Cristina Ferreira Dantas se integrou à equipe do professor Marcelo Martins de Sena e está analisando o corante vermelho 40 em balas. Mas desta vez o equipamento usado é artesanal, composto por uma pequena caixa de papelão, uma câmara de celular e um suporte feito com durepox, que permite medir os níveis dos aditivos tanto em produtos sólidos, como balas, quanto em líquidos. Um artigo que descreve os resultados do experimento está em fase de redação.

O projeto foi financiado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Bioanalítica (INCT–Bio/CNPq), do qual o professor Marcelo Sena é integrante, pelo programa Pronoturno, da Pró-reitoria de Graduação, que financiou a iniciação científica de Luciana Assis, e pelo programa de recém-doutores, da Pró-reitoria de Pesquisa.

Artigo: Desenvolvimento e validação de um método de calibração multivariada simples, utilizando imagens digitais de scanner, para a determinação do corante amarelo crepúsculo em bebidas não alcoólicas
Disponível em http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0308814614004397