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Nº 1889 - Ano 41
15.12.2014

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Uma trupe em defesa dos diretos humanos

Projeto de extensão usa o teatro como instrumento de transformação social

William Campos Viegas*

Há 18 anos, estudantes de cursos da UFMG se juntaram em defesa dos direitos humanos. De caras pintadas, roupas coloridas e instrumentos nas mãos, eles saem às ruas para alertar os cidadãos sobre problemas sociais como violência contra a mulher, exploração e abuso sexual infantil. Os jovens são os protagonistas da Trupe A Torto e A Direito, um dos projetos de extensão do Programa Polos de Cidadania da Faculdade de Direito da UFMG, que usa o teatro como meio de mobilização, emancipação e transformação social.

Em 2014, o grupo montou quatro espetáculos, e parte dessa história ganhou as páginas do livro Não precisa tremer! e outros esquetes. Escrita por Fernando Limoeiro, professor de teatro, diretor e coordenador do projeto, a obra, lançada em novembro, reúne três esquetes criados para o projeto Fortalecendo as escolas na rede de proteção à criança e ao adolescente e evidencia formas de violência contra crianças e adolescentes relatadas pelos pesquisadores do projeto.  “Os textos foram apresentados pela trupe em diversas escolas da periferia e tratam de abuso sexual infantil e doméstico, bullying e autoridade no ambiente escolar”, explica Limoeiro.

Com ilustrações de Aleixo da Cruz e prefácio da professora Miracy Gustin, o livro, disponível para download gratuito no http://polosdecidadania.com.br/biblioteca/livro-2/, foi distribuído em escolas da Região Metropolitana de Belo Horizonte e para cidades do Vale do Jequitinhonha. “Para os educadores é instrumento de alerta, pois aprendem a perceber sinais de que algum aluno está sofrendo violência. Além disso, queremos estimular reflexão sobre essas temáticas, formar cidadãos melhores e encorajar as pessoas a denunciar e enfrentar os problemas”, afirma Limoeiro.

Educar divertindo

Em parceria com o Teatro Universitário da UFMG, a Trupe, formada por alunos de Teatro, Direito, Psicologia, Ciências Sociais, entre outras áreas, estimula o diálogo entre a Universidade e os grupos em situação de vulnerabilidade social. “De maneira lúdica, construímos o aprendizado e abordamos, de forma cômica, irônica e informativa, questões polêmicas. É educar divertindo e divertir educando, como postula Bertolt Brecht”, afirma o coordenador.

As peças carregam elementos da cultura popular, do circo, do teatro nordestino e de rua. “Todos os espetáculos têm a estrutura de folguedos populares, como o cordel, o mamulengo, o coco, entre outros”, explica Limoeiro.

Para Dudu Nicácio, que integrou o grupo por cinco anos e é membro da coordenação do Polos de Cidadania, as peças e intervenções da Trupe possibilitam que as comunidades reflitam sobre suas realidades e se mobilizem para lutar por direitos que, muitas vezes, lhes são negados. “Os temas relacionados aos direitos humanos e às questões sociais são sensíveis, e a população também é sensível. As pessoas ficam mexidas e, de formas diversas, articulam ações para mudar as condições e o local onde vivem”, explica. Para ele, o humor é essencial na construção e apresentação dos esquetes. “A realidade já é dura por si só. Não podemos abordar esses temas de forma tão sisuda”, defende.

Pé na rua

Os esquetes são desdobramentos das pesquisas e demandas realizadas pelas equipes de outros projetos do Polos de Cidadania, que atuam em comunidades da periferia de Belo Horizonte. As situações são transformadas em textos dramáticos e apresentadas na própria comunidade. Entre os assuntos abordados estão legalização fundiária, redução da maioridade penal e luta antimanicomial.

A Trupe também atua na formação e capacitação de grupos teatrais, como o Morro Encena, no bairro Serra, em Belo Horizonte. “Ministramos oficinas gratuitas sobre técnicas de teatro e exercícios para o desenvolvimento da expressão corporal e sentimental e promovemos discussões sobre a realidade da cidade e da região onde vivem e atuam, sobre o universo juvenil e da arte popular, com ênfase na literatura de cordel”, conclui Limoeiro.

*Bolsista de Jornalismo da Assessoria de Comunicação da Pró-reitoria de Extensão