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Nº 1899 - Ano 41
13.04.2015

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opiniao

Diálogos entre educação e saúde

Kênia Rosiane Cunha*
Patrícia Cappuccio de Resende**
Fabíola de Oliveira Lima, Natália Fernandes Kelles e Simone Pinto Vasconcellos***
Valquíria de Oliveira Silva****

A reflexão acerca da inserção da saúde no processo educacional é uma temática pouco explorada no âmbito universitário no que diz respeito aos cuidados e atenção que se deve dispensar à saúde. Seria a universidade um espaço propício para essa reflexão? Consideramos o tema relevante, uma vez que as pessoas, no seu cotidiano atribulado, não têm priorizado os cuidados com a saúde, nem refletido sobre os impactos na qualidade de vida, tema que merece atenção nos processos educativos. Faz-se necessário o apoio da universidade a iniciativas que contemplem essa consciência crítica.

A professora titular da Faculdade de Saúde Pública da USP Nelly Candeias entende educação em saúde como quaisquer combinações de experiências de aprendizagem que resultem em ações que conduzem à saúde individual ou coletiva. A promoção em saúde, por sua vez, é definida como conjunto de ações somadas ao apoio educacional no âmbito institucional que visam alcançar condições de vida que propiciem a saúde.

Esses dois conceitos nos demonstram como a educação perpassa a saúde ou, em outras palavras, como ela pode contribuir para a construção de práticas individuais e coletivas que resultem em mais saúde para todos. O objetivo desse texto é provocar a reflexão sobre essa temática na UFMG, de modo a favorecer o intercâmbio de informações e práticas que contribuam para a melhoria da saúde biopsicossocial.

É importante ressaltar que as temáticas relacionadas à educação e saúde são vivenciadas diariamente no ambiente escolar. Logo, estão presentes também no cotidiano do Colégio Técnico (Coltec) da UFMG, que oferta cursos técnicos integrados, educação de jovens e adultos e formações do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Também contemplam diversos alunos da graduação e pós-graduação que realizam estágios, imersão na docência, pesquisas e atividades de extensão.

O público da escola é, portanto, bastante diversificado e apresenta demandas complexas. O colégio conta com equipe multidisciplinar formada por profissionais de psicologia, pedagogia, assistência social e enfermagem – reunidos no Setor de Atenção Escolar (SAE) – que acompanham os alunos dos cursos técnicos integrados, cuja faixa etária é de 14 a 19 anos.

Considerando que o público atendido pelo Coltec é prioritariamente formado por adolescentes, esses temas ganham maior relevância, uma vez que nessa fase o sujeito experimenta transformações corporais e psicológicas e simultaneamente se depara com diversas exigências sociais, tais como a escolha de uma profissão, construção da identidade e enquadramento em padrões culturais. A adolescência é considerada uma fase de descoberta de si e do mundo, em que os indivíduos enfrentam desafios e fazem escolhas. Esse momento da vida também pode ser vivenciado com desejo de agir, de fazer a diferença na comunidade local e na sociedade. Na busca por novas experiências, os jovens podem se expor a riscos, como dependência química, gravidez precoce e não planejada, violência, criminalidade e práticas sexuais que os predisponham a Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). No entanto, no cotidiano escolar, muitas vezes não é possível sistematizar discussões relativas à vivência juvenil, que vão sendo postergadas e que vêm à tona quando surgem demandas emergenciais e pontuais.

Nesse sentido, a equipe do SAE vislumbrou, com o lançamento do edital do Programa de Apoio Integrado de Eventos (PAIE), a possibilidade de apresentar à comunidade essas discussões. Assim, nos dias 17 e 18 de março, foi realizado o I Encontro de Educação e Saúde do Coltec. O evento foi organizado pela comunidade do colégio e coordenado pela equipe do SAE. Profissionais com formação e atuação em diversas áreas discutiram temáticas relevantes no contexto atual: alimentação saudável, qualidade de vida, sexualidade, drogas e DSTs.

O evento também contou com professores do Coltec e ex-alunos que debateram protagonismo e responsabilidade social aplicados à saúde com base nas experiências desenvolvidas pela própria escola. Os estudantes do Coltec compareceram em peso, assim como discentes de outras unidades, pais de alunos e servidores. Ao todo, participaram 340 pessoas. O encontro só foi possível devido ao Paie e ao apoio da Apubh e do Sindifes.

Acreditamos que as interlocuções sobre saúde e educação devem fazer parte do cotidiano universitário, e ações como a do I Encontro de Educação e Saúde devem ser estimuladas a fim de socializar o conhecimento produzido em nosso trabalho, que poderá ser aprimorado por meio do intercâmbio com outros profissionais e com a comunidade. São ações como essa que fazem o tripé ensino-pesquisa-extensão ser tão caro à universidade.

* Assistente social do Coltec, mestranda em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e e Teologia (Faje)
** Pedagoga do Coltec, mestre em Educação pela FaE/UFMG
*** Psicólogas do Coltec
****Técnica em Enfermagem do Coltec, mestranda em Microbiologia no ICB/UFMG