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Nº 1899 - Ano 41
13.04.2015

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Interação para o desenvolvimento

Consórcio com participação da UFMG publica obra sobre papel das universidades na construção dos sistemas nacionais de inovação

Itamar Rigueira Jr.

Acervo da pesquisa
Linhas mais espessas indicam maior frequência de citações de universidades e instituições de pesquisa em patentes publicadas
Linhas mais espessas indicam maior frequência de citações de universidades e instituições de pesquisa em patentes publicadas

A expressão catch up, do inglês, é muito usada por economistas quando o assunto é o grau de desenvolvimento dos países. É comum se falar do esforço daqueles que estão atrás da fronteira tecnológica para alcançar (catch up) o nível dos países desenvolvidos. E esse esforço está estreitamente relacionado a amplo estudo internacional, que acaba de ser divulgado em livro, sobre a importância da interação de universidades e empresas para a construção dos chamados sistemas nacionais de inovação.

A pesquisa, levada a cabo por consórcio que tem participação da UFMG, mostrou o papel fundamental das universidades na rede de relações entre diversos agentes que tem como resultado a inovação e impulsiona os países na direção do desenvolvimento. O trabalho, que cruza dados de 12 nações da Ásia, África e América Latina, com níveis distintos de desenvolvimento, tem seus resultados descritos no livro Developing national systems of innovation – University-industry interactions in the global South (Edward Elgar Publishing, disponível em http://idl-bnc.idrc.ca/dspace/bitstream/10625/53627/1/IDL-53627.pdf), organizado por Eduardo Albuquerque, professor da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG e pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), Wilson Suzigan, professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, Glenda Kruss, do Conselho de Pesquisa em Ciências Humanas da África do Sul, e Keun Lee, da Universidade Nacional de Seul, na Coreia do Sul.

“Não é possível pensar em catch up sem dar atenção às universidades, sempre nos contextos local e internacional, considerando sua interação com a indústria e a cooperação entre as próprias instituições”, afirma o professor Gustavo Britto, da Face, que participa da pesquisa e coassina um dos capítulos do livro. O trabalho é financiado pelo International Development Research Center (IDRC), com sede no Canadá, e a participação da UFMG também foi viabilizada pelo projeto Ingineus, fruto de acordo da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) com a Comissão Europeia.

Os capítulos da obra refletem as diferentes formas de interação. Na África, muito heterogênea, observa-se ampla variedade de relações. Na Ásia, por sua vez, a cultura de cooperação internacional está mais arraigada. “Coreia do Sul, China e Índia foram muito bem-sucedidos no esforço de emparelhamento com os países desenvolvidos. Na Coreia, o intercâmbio é muito comum, empresas financiam pesquisas, e iniciativas como parques tecnológicos estão consolidadas”, afirma Gustavo Britto, chefe do Departamento de Economia da Face.

Britto acrescenta que o país se beneficiou de ações, como o esforço coordenado pela universalização do ensino, que contribuíram para o desempenho de papel crucial pelas universidades. Essa é uma diferença importante com relação aos países latino-americanos, onde os níveis básico e superior de ensino ainda carecem de vinculação mais forte. “No Brasil, as ligações entre universidades e empresas dependem muito das relações pessoais. Por essa e outras razões, estamos apenas começando a estruturar essa parte do nosso sistema nacional de inovação”, diz o professor.

Patentes e artigos

O trabalho, que conta com pesquisadores de áreas diversas, lança mão de dados sobre patentes e artigos científicos, combinados a informações fornecidas por empresas. Gustavo Britto enfatiza as vantagens de conhecer a vinculação entre empresas para se ter ideia mais clara das relações de grandes grupos com instituições de pesquisa. Parte do projeto de pós-doutorado do professor Eduardo Albuquerque, no King’s College, em Londres, é dedicado a destrinchar as redes corporativas e sua atuação no processo de interação que incrementa os sistemas nacionais de inovação.

No Brasil, a professora Márcia Rapini, da Face, trabalha na ampliação das bases de dados locais, e, em outra vertente, o projeto busca definir a relação do esforço pela inovação com a complexidade do sistema produtivo dos países. “A pesquisa mostra com clareza que a inovação é o resultado de uma rede de interações institucionais e pessoais que, por sua vez, emerge de formas diferentes nos diversos países”, afirma Gustavo Britto.