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Nº 1904 - Ano 41
18.05.2015

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O ator, o público e só

Mariana Muniz, do curso de Teatro, conta em livro a história da improvisação e sugere metodologias de treinamento

Itamar Rigueira Jr.

Pedro de Felipes
Grupo Impromadrid, em apresentação no Fimpro 2013
Grupo Impromadrid, em apresentação no Fimpro 2013

A improvisação, no teatro, é exercício fundamental para a formação do ator, pode funcionar como instrumento para a criação coletiva – apoiando a dramaturgia e a ­direção – e até se constituir no próprio espetáculo. No último caso, o ator, sozinho ou em grupo, encara o público sem uma história e sequer um tema definidos. Para isso, é preciso disposição e, principalmente, treinamento.

Práticas de preparação do ator para enfrentar esse tipo de situação estão entre as abordagens do livro Improvisação como espetáculo: processos de criação e metodologias de treinamento do ator improvisador (Editora UFMG), de Mariana Lima Muniz, professora do curso de Teatro da Escola de Belas-Artes. A obra, que será lançada no dia 23, em Belo Horizonte, é a primeira em português e de autor brasileiro sobre o tema.

A experiência e as pesquisas de Mariana Muniz seguem o movimento Impro, iniciado em 1979 com as ideias do canadense Keith Johnstone, com quem ela chegou a trabalhar. “Na improvisação como espetáculo, os atores dirigem e escrevem a cena no calor da ação, atentos aos estímulos do público, do espaço de atuação, dos outros atores e deles mesmos”, explica a pesquisadora, que é também atriz e diretora. “Os atores diante do público devem estar livres de ansiedade para criar com base nesses estímulos, contando com a técnica aprendida nos treinamentos para improvisação.”

Ainda de acordo com a pesquisadora, Johnstone entende a criatividade como habilidade inata, que pode e deve ser desenvolvida. E que a falha faz parte do processo criativo. “Se o ator entende isso, ele está pronto para experimentar mais, para escutar”, diz Mariana. “O treinamento oferece ao ator as técnicas e os recursos para superar desafios, ensina que ele pode fracassar e que isso pode ser positivo. A cada cena que não sai bem, aprendemos mais sobre a improvisação. Por outro lado, nas cenas bem-sucedidas, o público vai ao delírio por participar da criação.”

Transformação em três vertentes

O livro mostra que a improvisação teve papel importante desde o início do teatro ocidental, com destaque para a Commedia dell’Arte. Nos séculos 18 e 19, com a valorização do texto, ficou restrita aos cabarés e circos e voltou ao centro do palco com o Teatro da Espontaneidade, de J.L. Moreno (criador também do psicodrama), e com Jacques Copeau, no desenvolvimento do teatro gestual francês. As vanguardas na literatura e nas artes visuais do século 20 criaram ainda mais espaço para a improvisação.

A pesquisa de Mariana Lima Muniz, iniciada em seu doutorado em Madri, a partir de 1999, privilegia a segunda metade do século passado e encontra experiências como a do Living Theatre, a dos Jogos Teatrais, da norte-americana Viola Spoling, e a do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal. A autora relaciona o movimento Impro, nascido das ideias de Johnstone, a experiências simultâneas que, com propostas estéticas e políticas diferentes, encontraram na improvisação uma expressão do desejo de transformar. “São três vertentes que buscam a transformação da sociedade, do sujeito ou do próprio teatro”, completa a professora, que realiza o Festival Internacional de Improvisação (Fimpro) em diversas cidades brasileiras.

Em seu livro, Mariana questiona a improvisação feita na televisão e na internet. “Nos espetáculos com edição posterior ou mesmo ao vivo, com a escolha das câmeras, o risco é controlado, e perde-se parte da essência da improvisação”, comenta a pesquisadora, que atualizou suas pesquisas para a produção do livro, mencionando inovações oferecidas por diversos coletivos latino-americanos.


Livro: Improvisação como espetáculo: processo de criação e metodologias de treinamento do ator improvisador
De Mariana Lima Muniz
Editora UFMG
246 páginas / R$ 60 (preço de capa)
Lançamento: sábado, 23 de maio, às 11h, na livraria Café com Letras (Rua Antonio de Albuquerque, 781 – Savassi, Belo Horizonte)