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Nº 1905 - Ano 41
25.05.2015

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opiniao

Precisamos falar sobre
educação a distância

Wagner José Corradi Barbosa*

Nos próximos dias 28 e 29, o Centro de Apoio à Educação a Distância da UFMG (Caed/UFMG) promove a primeira edição do PromovEaD: discutindo a visibilidade da EaD pública no Brasil. Sediado no Centro de Atividades Didáticas – Ciências Humanas (CAD2), o evento terá mesas-redondas, apresentação de trabalhos, conferências e painéis de boas práticas de comunicação. O objetivo é reunir profissionais de comunicação, coordenadores de centros e núcleos de educação a distância das instituições públicas de ensino superior e outros interessados, para debater a visibilidade da modalidade no Brasil.

Alternativa para reduzir parte do déficit de vagas e assegurar a democratização e interiorização do ensino superior público e de qualidade, a Educação a Distância (EaD) ainda é alvo de preconceito e desinformação, o que impede a ampliação e o aprofundamento da discussão sobre sua importância.

Anúncios que destacam mensalidades a baixos preços e a facilidade para ingressar nos cursos e acompanhar as disciplinas, assim como a proliferação de atividades a distância durante os anos 2.000, contribuíram para a desconfiança que ainda marca os discursos sobre o ensino a distância. Há quem duvide do nível de dificuldade das avaliações – as provas são sempre feitas presencialmente, nos polos de apoio presencial – e mesmo da validade do diploma, que, cabe reafirmar, é exatamente a mesma de qualquer curso presencial.

Quando o debate não é desestimulado por visões estereotipadas e negativas, as iniciativas relacionadas à EaD não recebem a projeção que merecem e de que precisam para se firmar. Ainda há integrantes da comunidade acadêmica que não sabem que a própria UFMG oferta cursos a distância ou que há um centro de apoio à modalidade que, há quase dez anos, presta assessoria pedagógica, tecnológica e de gestão de recursos para o desenvolvimento de disciplinas ou cursos.

Esses serviços são disponibilizados tanto a unidades da Universidade, quanto a organismos externos. Firmamos parcerias com o Hospital das Clínicas, com a Fundação Israel Pinheiro, com a Rede Nacional de Pesquisas Clínicas e com o Ministério da Justiça. Com o último, oficializamos acordo para a oferta de cursos de capacitação para servidores do Departamento Penitenciário Nacional, em temas como resolução de conflitos, gerenciamento de crises e direitos humanos. Mais de nove mil funcionários foram capacitados, e uma nova oferta, para outros 2,3 mil, foi iniciada neste mês.

Em quase uma década de existência, os números alcançados pela área de educação a distância da UFMG demonstram a importância e o sucesso de sua atuação. Viabilizando a presença da Universidade em 43 polos localizados em municípios de Minas Gerais, já foram ofertadas, desde 2008, mais de 40 mil vagas que resultaram na formação de 18 mil alunos – 600 de graduação, cerca de 2.800 de especialização e outros quase 15 mil de aperfeiçoamento, atualização e extensão. Por meio de convênios com a Universidade Aberta do Brasil (UAB), Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), Secretaria de Educação Básica (SEB) e outras instituições, a UFMG oferta 30 cursos – cinco de graduação, seis de especialização, 12 de aperfeiçoamento e sete de atualização. Um dos destaques é o Laboratório de Criação de Materiais Didáticos para a EaD, aberto a servidores docentes e técnicos administrativos em educação que desejam ofertar disciplinas a distância.

Por meio de seus cursos, o Caed possibilita o alcance dos objetivos da Universidade em relação ao ensino e empreende iniciativas para contemplar os outros dois pilares da educação superior: a pesquisa e a extensão.

Na extensão universitária, destaca-se o programa Aproxime-se, que promove atividades acadêmico-culturais em algumas das cidades-sede dos polos de apoio que mantêm cursos da UFMG, com o objetivo de tornar a Universidade mais próxima de seus alunos e das comunidades em que está presente. Com palestras nas mais diversas áreas do conhecimento, a iniciativa tratou da violência em sua primeira edição, em 2013, do meio ambiente, em 2014, e, neste ano, possibilitou que integrantes da equipe, alunos e ex-alunos da UFMG e moradores sugerissem temas de interesse para cada uma das suas cidades.

Ainda no que se refere a iniciativas pioneiras na área da extensão, o Caed/UFMG promoveu, em 2014, a primeira edição do Colóquio de Extensão Universitária na Educação a Distância (Conexed) a fim de debater a extensão no ensino a distância, seus desafios, potencialidades e experiências bem-sucedidas.

No campo da pesquisa, o Caed estimula a produção acadêmica por meio da criação de grupos – o Núcleo de Pesquisas em Educação a Distância e o Grupo de Pesquisa em Custos e Eficiência Financeira do Ensino a Distância – e planeja a criação de programa de iniciação científica nos polos para incentivar o envolvimento dos alunos com a pesquisa.

Mais importante, no entanto, do que dar projeção aos números é tornar visíveis as histórias de pessoas que passaram a ter novas perspectivas porque tiveram acesso a uma formação com a qualidade que caracteriza uma das melhores universidades do país, o que contribui para transformar as comunidades em que vivem. Cidades que não possuíam professores nas áreas em que a UFMG oferece cursos de graduação contam hoje com profissionais formados por uma instituição de primeira linha e conhecedores da realidade local. Isso evita que o aluno seja retirado de seu local de residência e promove, além da democratização, a interiorização do ensino superior público.

Ao organizarmos eventos como o PromovEaD, esperamos compreender o porquê de as iniciativas de EaD na UFMG e no Brasil ainda não despertarem o interesse, a atenção e o respeito que merecem. Precisamos falar mais e melhor de educação a distância.

*Diretor de EaD na UFMG e professor associado do Departamento de Física do Icex