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Nº 1905 - Ano 41
25.05.2015

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As drogas como fenômeno social

Ciclo de debates da Escola de Enfermagem discutirá aspectos transversais da dependência química

Ana Rita Araújo

Mais do que capacitar profissionais de diversas áreas para lidar corretamente com usuários de drogas, o Centro ­Regional de Referência (CRR) da Escola de Enfermagem tem procurado compreender o fenômeno social da dependência química e analisar diferentes possibilidades de abordar o tema. Em evento no próximo dia 2, no campus Pampulha, especialistas da UFMG e de outras instituições do país vão discutir aspectos transversais desse fenômeno, como o estímulo da sociedade moderna ao consumo de drogas lícitas e ilícitas, a associação entre drogas e suicídio e o funcionamento das redes de cuidados que envolvem organizações não governamentais e outras entidades.

As inscrições para o 3º Ciclo de estudos em álcool e outras drogas estão abertas até sexta-feira, 29, em link disponível no endereço www.enf.ufmg.br. O evento será realizado no Centro de Atividades Didáticas de Ciências Humanas (CAD2), das 8h às 18h. Posteriormente, o CRR vai ministrar, em junho, seis cursos gratuitos de 60 horas-aula, destinados a médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, agentes comunitários de saúde, profissionais do Poder Judiciário, do Ministério Público, de entidades que atuam no atendimento e apoio a adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas e demais interessados.

“Os profissionais de saúde e de segurança pública não têm formação na graduação sobre a temática álcool e outras drogas”, observa a coordenadora do CRR da Escola de Enfermagem, professora Amanda Márcia dos Santos Reinaldo. Segundo ela, relatos de participantes de edições anteriores enfatizam a mudança na prática profissional com base em conhecimentos obtidos nas capacitações. “Cerca de 80% dos inscritos nos cursos atuam na área”, estima a professora.

A falta de preparo para lidar com o assunto no cotidiano dos serviços de saúde talvez possa explicar o que a pesquisadora Nadja Cristina Lappann Botti, da Universidade Federal de São João del-Rei, chama de “invisibilidades”. Em mesa-redonda no evento, a professora vai mostrar a associação entre suicídio e dependência química, que passa despercebida pelo sistema de atendimento.

Programação

O evento será aberto às 9h, com a presença do reitor Jaime Ramírez e da diretora da Escola de Enfermagem, Eliane Marina Palhares Guimarães. Em seguida, a terapeuta ocupacional Andrea Donatti Galassi, da Universidade de Brasília, fará a conferência Sociedade, saúde e dependência química: diálogos necessários. A política nacional sobre drogas: novos cenários e descentralização das ações será tema de mesa-redonda com a professora Maria Odete Pereira, da UFMG. “Ela desenvolveu, no doutorado, estudo sobre a política nacional e tem importantes contribuições a dar sobre o assunto”, destaca Amanda Reinaldo, que também ressalta o “enorme potencial” das redes de cuidado, objeto de palestra do pesquisador Pedro Henrique Antunes da Costa, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Na mesma mesa, Pollyana Santos Silveira, também da UFJF, vai discutir o estigma que acompanha o usuário de drogas. Como lembra Amanda Reinaldo, é notável a diferença de percepção da sociedade no que se refere aos dependentes de álcool na comparação com os usuários de crack, considerados perigosos.

À tarde, Danilo Polverini Locatelli, da Universidade Federal de São Paulo, fará a conferência Epidemiologia do uso de drogas no país e seu impacto nas políticas públicas para a área. A programação termina com a mesa-redonda Temas transversais em dependência química, na qual serão discutidos os temas Suicídio e dependência química, por Nadja Botti; Modernidade e dependência química, pelo psicanalista e professor da Fumec Jacques Akerman, e Crianças, adolescentes e dependência química, pela professora da UFMG Izabel Friche Passos. Ela e Amanda Reinaldo mapearam os serviços de apoio a jovens nos municípios de Belo Horizonte e Betim. O estudo constatou que, na maioria das vezes, “são feitos arranjos, nem sempre ditosos, para tratamento da dependência química, sobretudo, de adolescentes, pois falta estrutura para esse atendimento”, relata Amanda Reinaldo.

Rede

Pesquisa financiada pelo Governo Federal em 2013 e divulgada em 2014 estima a existência, no Brasil, de um milhão de usuários de drogas ilícitas, com exceção da maconha, entre os quais cerca de 50 mil são crianças e adolescentes, e 35% do total consomem crack e similares. Os Centros Regionais de Referências, disseminados por todo o país desde 2010 e vinculados a universidades, compõem rede financiada pela Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas.

O CRR da Enfermagem, que vem oferecendo cursos a cada semestre desde 2011, optou por abrir cada ano letivo com um seminário. “No primeiro ano, reunimos profissionais de todas as áreas, para observar o fenômeno da dependência química sob vários pontos de vista”, relata a coordenadora.