‘Duelo de MCs’, movimento que ocupa o Viaduto Santa Tereza há 15 anos, é tema de novo episódio de podcast

‘Duelo de MCs’, movimento que ocupa o Viaduto Santa Tereza há 15 anos, é tema de novo episódio de podcast

O terceiro episódio da série ‘Corredor Cultural Praça da Estação’, produzido pelo Centro Cultural UFMG, traz um bate-papo sobre uma das principais batalhas de rap freestyle do Brasil, o ‘Duelo de MCs’, símbolo de resistência e de ocupação do espaço público de Belo Horizonte.

O integrante do coletivo ‘Família de Rua’, MC e jornalista Pedro Valentim (PDR) e a artista independente, MC e compositora Colombiana são os convidados para essa conversa.

Ocupação

PDR Valentim. Foto de Flávio Chachar

PDR conta que antes de ocupar o Viaduto Santa Tereza o Duelo de MCs começou na Praça da Estação, na calçada onde hoje funciona o Centro de Referência das Juventudes (CRJ), no dia 24 de agosto de 2007, com aproximadamente 20 pessoas.

“A intenção era fazer uma batalha de MCs, com a proposta de reunir as pessoas do hip hop de BH, dessa cena e da cultura urbana da cidade, em um lugar que fosse de fácil acesso para todo mundo que viesse das periferias, como a maioria de nós”, diz Valentim.

Esse início foi inspirado por um momento que haviam vivenciado uma semana antes, a eliminatória da quinta edição da ‘Liga dos MCs’, primeiro campeonato oficial de rimas improvisadas no Brasil. O evento percorreu por algumas capitais do país, como Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte.

Belo Horizonte

Duelo de MCs Nacional 2016/Divulgação PBH

Na capital mineira a batalha ocorreu no imóvel que sediou a casa noturna Lapa Multshow e PDR relata que foi um dia muito especial para o hip hop de BH. Ele relembra que o seu companheiro da ‘Família de Rua’, Léo (Leonardo Cezário), queria que aquela energia experimentada tivesse continuidade e o Duelo de MCs nasceu nesse contexto.

Os primeiros encontros aconteceram na lateral da Praça da Estação, em um cenário muito diferente do atual, como observa o MC, pois eles não tinham essa perspectiva do direito à cidade e da ocupação dos espaços urbanos. O intuito era que as batalhas acontecessem em frente ao Monumento à Terra Mineira, mas a Guarda Municipal ordenou, já no primeiro encontro, que fossem para o canto da praça.

Viaduto

Permaneceram no local por volta de três meses, até que um dia choveu, estavam com uma caixa de som emprestada e alguém teve a ideia de ir para debaixo do Viaduto Santa Tereza.

“A gente foi parar no viaduto por acaso, por causa da chuva e, a partir de então, a gente entendeu que o Viaduto Santa Tereza seria a casa do Duelo de MCs”, comenta Pedro Valetim.

Memória

Viaduto Santa Tereza. Stênio Lima/PBH

O Viaduto Santa Tereza tem uma história com o hip hop e com as culturas urbanas e periféricas da cidade antes mesmo de ser ocupado pelo Duelo de MCs. Quando o movimento chegou ao viaduto ele estava “meio que esquecido”, recorda o jornalista.

“A memória que a gente tem é de que as pessoas tinham medo, inclusive, de atravessar aquelas escadas, de passar ali, de conviver naquele espaço”, diz. “A partir dessa ocupação do Duelo a cidade foi se conectando de outra forma, passaram a vir uma série de outras ações e o viaduto foi sendo periodicamente ocupado das mais diversas formas”, complementa.

O Duelo de MCs, inegavelmente, contribuiu para essa mudança, pois as pessoas passaram a perceber aquele território de outra forma, se sentindo pertencentes ao local e instigadas a frequentá-lo. PDR conta que o espaço foi se tornando tão potente por conta disso, que as pessoas começaram a se ver ali.

“Foi uma ocupação a partir da horizontalidade, da própria cidade, dos conflitos, da diversidade, e a gente foi se organizando ali, e muitas vezes não se organizando também, e a vida cultural do Viaduto Santa Tereza foi se dando a partir disso”, diz.

Direito à cidade

Colombiana por Lucas Mota

Para além das batalhas, o Duelo de MCs, ao longo desses 15 anos, criou um ambiente para as pessoas se encontrarem a partir das manifestações artísticas da cultura hip hop.

“O projeto se propôs a pensar a cidade, o direito de ocupar os espaços da cidade, o encontro das pessoas, a manifestação da juventude e da cultura periférica de Belo Horizonte”, explica Valentim.

“O movimento se tornou referência, tanto do ponto de vista de resistência e de ocupação da cidade, quanto do ponto de vista de formação, de um processo de aprendizagem e educação, uma vitrine para novos artistas”, conclui o MC.

Ouça o podcast na íntegra e conheça um pouco mais sobre a trajetória do ‘Duelo de MCs’, movimento que transformou o Viaduto Santa Tereza em um palco muito importante para a arte e a cultura do país:

Conheça os trabalhos da Família de Rua, Duelo Nacional e Colombiana no Instagram.

Corredor Cultural 174 Podcast

Corredor Cultural 174 Podcast é um projeto que disponibiliza mensalmente no Spotify conversas com artistas, músicos, escritores, cineastas, agentes culturais e demais pessoas que pensam, respiram e produzem cultura. “Corredor”, pelo fato do Centro Cultural UFMG estar situado no corredor cultural Praça da Estação e também no sentido de espaço de passagem, onde transitam ideias, movimentos e expressões artísticas em Belo Horizonte. “Cultural”, pois a temática será sempre cultura e “174” é o número de localização da instituição na Avenida Santos Dumont.