| Universalização |
Escola que promove a saúdeJORGE HARADA Em 2008, comemoramos 20 anos de promulgação da nossa Constituição Cidadã e de criação do Sistema Único de Saúde (SUS), importantes conquistas da sociedade brasileira e do processo de democratização do país. Nela constam como direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. O SUS é tido como a maior política de inclusão social do Brasil, resultado do movimento da reforma sanitária, já implantado, e que tem como princípios a universalidade, a integralidade e a igualdade. Importantes avanços foram conquistados durante esse período, mas é inegável que muitos ainda são os desafios a serem suplantados. Atualmente, temos como desafio consolidar o SUS e implantar as ações através do Pacto pela Saúde em suas três dimensões: Pacto pela Vida, Pacto de Gestão e Pacto em Defesa do SUS. Entre as prioridades do Pacto pela Vida estão o fortalecimento da atenção básica e a promoção da saúde. É neste contexto que se insere a saúde escolar. A promoção da saúde é definida, na Carta de Ottawa (1986), como o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo maior participação no controle deste processo. Portanto, deve ser realizada com a comunidade e não para a comunidade. O documento descreve também os pré-requisitos para a saúde, ou seja, os determinantes sociais da saúde, como paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e a eqüidade. A promoção da saúde estabelece os seguintes campos de ação:
Diante de um escopo tão complexo, a promoção da saúde não pode ser responsabilidade exclusiva do setor da saúde, sendo necessária uma atuação intersetorial e interdisciplinar. Assim, a Escola Promotora de Saúde torna-se uma importante e poderosa estratégia para o desenvolvimento de ações e de reflexão. Escola Promotora de Saúde é aquela na qual alunos, professores, funcionários, pais e familiares atuam em conjunto para melhorar a qualidade de vida, a educação, a saúde e o ambiente em que vivem; aprendem e se desenvolvem com vistas à melhoria da qualidade de vida das pessoas. Portanto, o objetivo é desenvolver ações para toda a comunidade escolar e de seu entorno, ou seja, num determinado território cuja centralidade seja o espaço escolar. Na construção da territorialização deve-se levar em conta que este é um ambiente vivo, respeitando as realidades locais, o seu contexto socioeconômico e cultural, considerando os fatores de risco e de proteção, as vulnerabilidades existentes e, principalmente, o protagonismo de todas as pessoas que ali vivem e trabalham. A Escola Promotora de Saúde tem como componentes básicos:
Os eixos temáticos a serem desenvolvidos devem considerar a realidade epidemiológica, as necessidades do território e ser decididos coletivamente pelos profissionais da educação, saúde e comunidade. Podem ser desenvolvidas ações que abordem temas como meio ambiente e alimentação saudáveis, atividades físicas e práticas de esportes, instrumentalização técnica de profissionais, melhoria do desempenho escolar, articulação com serviços de saúde, prevenção de fatores de risco e estímulo aos fatores de proteção. No que se refere à prevenção dos fatores de risco, podemos destacar ações voltadas para a prevenção do uso e abuso de drogas, gravidez na adolescência, prevenção às doenças sexualmente transmissíveis, incluindo aids, e prevenção de injúrias físicas intencionais e não-intencionais. No momento em que o meio ambiente consolida-se como tema prioritário, devemos ampliar o debate para além das questões relacionadas ao ambiente físico, que por si só engloba uma pauta enorme, como os resíduos sólidos, o aquecimento global, a camada de ozônio, os reservatórios de água, entre tantas outras necessidades. Mas também há que se considerar que este é um espaço vivo, com relações de poder econômico, político e ideológico, que resulta em opressão individual ou coletiva e, conseqüentemente, em geração de violência na sociedade. Nesse sentido, é fundamental a inclusão de questões relacionadas ao ambiente emocional, no sentido de aumentar a auto-estima, fortalecer a identidade individual e coletiva, propiciar a criação de vínculos e aumentar a resiliência. Devem-se ainda considerar os aspectos sociais, políticos e econômicos permeados pela ética. Só é possível realizarmos ações de promoção de saúde se o reforço da ação comunitária estiver presente na sua essência, pois desta forma estaremos garantindo o empowerment, o fortalecimento de sua autonomia, propiciando, assim, a troca do saber e poder técnico e político entre o gestor e as comunidades, num processo de co-gestão, para que possam ser traçadas as prioridades, estratégias e instrumentos de monitoramento das ações a serem desenvolvidas. Ao intensificar a ação comunitária, fortalecemos os mecanismos de controle e participação social nas políticas públicas sociais, dando-lhes mais sustentabilidade e transformando-as efetivamente em políticas de Estado e não somente de governo. Desenvolver ações de promoção da saúde possibilita, portanto, que os trabalhadores da saúde e da educação amplifiquem o seu potencial de atuação e reflexão, extrapolando as ações sem perder a sua especificidade. Não se trata de desmerecer ou de contrapor o modelo biomédico, mas, dada a complexidade das necessidades da população, essa perspectiva agrega, valoriza e valida as questões comportamentais e, principalmente, sociais, culminando, assim, com a melhoria da qualidade de vida da população. |