A história do Setembro Azul ou Setembro Surdo – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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A história do Setembro Azul ou Setembro Surdo: lutas e conquistas da comunidade surda

 

O ano de 2011 foi o berço de um movimento que, até hoje, busca por direitos da comunidade surda. Neste mês, são lembradas as lutas e conquistas da comunidade surda no Brasil e no mundo. O movimento empenha-se em manter viva a Língua de sinais e a Cultura Surda, além da busca incessante pelo direito à educação de qualidade para a comunidade surda.

 

Setembro, um mês com datas importantes

A escolha do mês de setembro é devida a várias datas que têm grande relevância para a história da educação dos surdos e para a própria comunidade:

 

  • 6 a 11 de Setembro de 1880: Congresso de Milão. Este foi um momento lamentável para a comunidade. O congresso determinou a proibição do uso e ensino das Línguas de Sinais na educação dos surdos, dando preferência ao método oral.
  • 9 de Setembro de 2009: Em 25 dos 26 estados brasileiros, aconteceu o Seminário Nacional em Defesa das Escolas Bilíngues para Surdos.
  • 20 a 26 de Setembro: Semana Internacional dos Surdos. Desde 1958, a Federação Mundial dos Surdos (WFD) celebra anualmente uma semana dedicada à conscientização acerca da História dos Surdos, Línguas de Sinais e Educação dos Surdos e Cultura Surda.
  • 23 de Setembro: Dia Internacional da Língua de Sinais.
  • 26 de Setembro: Dia Nacional do Surdo. Em 1857 foi fundada, no Rio de Janeiro, a primeira escola de surdos no Brasil (atualmente INES).
  • 30 de Setembro: Dia Internacional do Surdo e Dia internacional do profissional tradutor e intérprete.

 

Fotografia da primeira sede do INES e os documentos explicando como ocorreria o curso. Fonte: Acervo INES

 

Ressignificação da cor azul ?

A escolha da cor azul está diretamente relacionada com outro momento triste da humanidade. Em 1933, o governo nazista instituiu a chamada “Lei de Prevenção de Doenças Hereditárias”, que autorizava a esterilização compulsória de quem sofria de doenças hereditárias que pudessem acarretar sérias deficiências físicas ou mentais.

 

§2º Para os fins desta lei, qualquer pessoa que sofre de uma das seguintes doenças deve ser considerado como doente hereditário:

I – Debilidade mental congênita;

II – Esquizofrenia;

III – Desordem circular (maníaco-depressiva);

IV – Perda dos sentidos hereditária (epilepsia);

V – Coreia Hereditária (Doença de Huntington);

VI – Cegueira hereditária;

VII – Surdez hereditária;

VIII – Deformação corporal hereditária significativa.

 

Reichsgesetzblatt (1933): Lei de Prevenção de Doenças Hereditárias. Domínio Público

 

Em 1939, um lado mais assustador da Lei de Prevenção de Doenças Hereditárias entrou, secretamente, em vigor: o programa de eutanásia ou “Operação T4”. O alvo era, novamente, a “vida indigna de ser vivida” (Lebensunwertes Leben). A perseguição e busca pelo extermínio dos deficientes foram “executadas em meio ao silêncio e à passividade geral da sociedade” (ALBUQUERQUE, 2008, p.02). Durante esses três anos, aproximadamente 70 mil pessoas com deficiência foram mortas em câmaras de gás e, embora o líder nazista, Adolf Hitler, tenha oficialmente interrompido o programa em agosto de 1941, as mortes continuaram acontecendo em segredo até o final da guerra, resultando no assassinato de 275 mil pessoas.

 

Para identificar as pessoas com alguma deficiência, os nazistas amarravam faixas azuis em seus braços. Dessa forma, a comunidade Surda escolheu o azul turquesa para representar e mostrar a superação e luta por trás do Ser Surdo e manter viva a memória daqueles que sofreram consequências desumanas apenas por existirem.

 

Marcado por um mês de luta, conscientização e divulgação da cultura e comunidade Surda, o Setembro Azul é um mês muito importante no calendário e é uma data que  celebra e comemora os grandes feitos da comunidade Surda até os dias de hoje. O mês de setembro, portanto, representa as conquistas, realizações e história de uma comunidade que durante muitos anos, vem lutando contra os preconceitos e barreiras e que, ainda hoje, busca espaço, acesso e representatividade.

 

[Texto de autoria de Bárbara Vítor Silva¹, Dinalva Andrade Martins², Matheus Pessoa Fonseca³ e Priscila G. Martins Silva⁴]

[1] Bárbara Vitor Silva (Bolsista do Programa de Apoio à Inclusão e Promoção à Acessibilidade – PIPA)

[2] Dinalva Andrade Martins (Intérprete de Libras do Espaço do Conhecimento UFMG)

[3] Matheus Pessoa Fonseca (Bolsista do Programa de Apoio à Inclusão e Promoção à Acessibilidade – PIPA)

[4] Priscila G. Martins Silva (Assistente do Núcleo de Ações Educativas, Acessibilidade e Estudos de Público)

 

Para saber mais:

NEIGRAMES, W. P. Setembro azul: análise do discurso de 9 professores surdos a partir da linguística sistêmico-funcional. 2019. 112 f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem) – Universidade Federal de Goiás, Catalão, 2019.

ALBUQUERQUE, R. C. de. A Lei de prevenção de doenças hereditárias e o programa de eutanásia durante a segunda guerra mundial. Revista CEJ, 43-51. Disponível em: http://revistacej.cjf.jus.br/cej/index.php/revcej/article/view/961

United States Holocaust Memorial Museum. People with Disabilities. USHMM: 2018. Disponível em: https://www.ushmm.org/collections/bibliography/people-with-disabilities