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Cultura: Por que e para quem?

29 de março de 2022

 

Afinal, você tem cultura? A resposta é simples: sim, você tem! 

 

O conceito de cultura é bastante amplo e definido com focos distintos, a depender-se da corrente de pensamento ou dos estudiosos que a interpretam. Entretanto, o termo está presente em muitos momentos de nossas vidas, em circunstâncias de aprendizagem escolar, em conversas cotidianas entre amigos e família e até em discussões pela internet. Em certas ocasiões, é comum que se haja conflitos ligados ao uso de frases como “você não tem cultura” ou “isso sim é cultura”. Hoje, no Blog do Espaço, discutiremos sobre por que cultura e, principalmente, para quem?

 

Alta Cultura e Baixa Cultura?

 

Podemos começar por um curto panorama acadêmico. Os Estudos Culturais nasceram por volta dos anos 60, principalmente a partir de reflexões do crítico britânico de literatura Raymond Williams. Este campo foi e é essencial para análise e investigação interdisciplinar que explora as formas de produção de significados e da difusão nas sociedades atuais. 

 

Raymond Williams, 1985 (Foto: Mark Gerson/Reprodução)

 

Dentre os trabalhos produzidos, notou-se que termos como ‘alta cultura’ e ‘erudição’ surgiram há muito tempo, datados entre os séculos XIII e XIX na Europa, a partir de referência aos clássicos da Grécia e Roma antigas, criados pelas elites dominantes. A cultura popular, e mais tarde a cultura de massa, surgiram então como modos classificativos de oposição ao que se considerava erudito. Traços dessas definições marcaram nossa sociedade. Na atualidade, não é difícil que se encontre indivíduos que acreditam em formas de cultura superiores a outras.

 

Na tradição ocidental, a alta cultura tem origens históricas nos ideais estéticos e intelectuais da Grécia Antiga e Roma. Dentro do ideal clássico, certos autores serviram como referência ideal de estilo e forma. FreePik (Michelangelo: David, 1501–1504)

 

É comum que se utilize a cultura como sinônimo de sabedoria, educação e refinamento. Neste pensamento, entende-se que títulos universitários, volume de leituras e até a inteligência são aspectos que ditam o quão culturalmente desenvolvido determinado indivíduo é. Aqui, a cultura é uma palavra usada para classificar as pessoas e, por diversas vezes, grupos sociais, servindo assim como uma arma discriminatória. 

 

Pense no Brasil, um país rico em território, com cinco regiões tão distintas, com crenças múltiplas, variadas manifestações culinárias e ampla diversidade. É impossível que se aponte culturas superiores em detrimento de outras, afinal, existem diversas formas de manifestação cultural. Se este exemplo se aplica a um país, imagine em todo o mundo.

 

“Um carnavalesco e um religioso não podem ser classificados em termos de superior ou inferior”, é o que aponta o antropólogo Roberto DaMatta. As relações são complementares, e isto significa que há tanta cultura no carnaval quanto nas missas e procissões.

 

A cultura nos parece uma ótima ferramenta de compreensão das diferenças entre as sociedades e os indivíduos. Como descrito por DaMatta, ela é um mapa, através do qual as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmas. 

 

[Texto de autoria de Fernando Silva, assistente do Núcleo de Comunicação e Design]

 

Referências:

DA MATTA, Roberto. Você tem cultura. Explorações: ensaios de sociologia interpretativa. Rio de Janeiro: Rocco, p. 121-128, 1986.