Conheça importantes expressões culturais e arquitetônicas da cidade
24 de junho de 2025
Por Jonathan Philippe, mestrando em educação e docência pela UFMG e assistente do núcleo de ações educativas e acessibilidade do Espaço do Conhecimento UFMG
Venda Nova é uma das nove regionais de Belo Horizonte (BH), sendo mais antiga que a própria capital, com origem no ano de 1711. Em 13 de junho de 2025, completou 314 anos de história.
O território já fez parte de outras cidades como Sabará e Santa Luzia, e foi por volta da década de 1940 que Venda Nova passou a integrar oficialmente Belo Horizonte, com o plano de ser uma espécie de cidade dormitório para os trabalhadores na época da construção do complexo arquitetônico da Pampulha.
Foi a partir dos anos 1990 que Venda Nova deixou de ser uma cidade dormitório para ter uma infraestrutura mais complexa, contando com escolas, cinemas, teatros e comércios, possibilitando que as pessoas circulassem pela regional sem a necessidade de se deslocarem para o centro de BH. Seu próprio nome tem origem nos relatos populares, que apontavam a existência de uma “venda nova” na rua Padre Pedro Pinto, principal polo comercial da região. Esse marco de localização batizou o lugar.
Belo Horizonte é conhecida por ter muitos centros culturais como o ‘’Circuito Liberdade’’, mas também possui espaços para além da Avenida do Contorno que visam contar a história da cidade e das relações cotidianas. Como comemoração aos 314 anos de Venda Nova, hoje, visitaremos algumas de suas expressões culturais e arquitetônicas, que se reinventam diariamente.
Você já ouviu falar do casarão Azul e Branco, ou casarão da rua Boa Vista? Essa construção de 1884, tombada pelo Conselho do Patrimônio Histórico do município em 2003, se localiza na Rua Boa Vista, esquina com a Rua Padre Pedro Pinto e Avenida Álvaro Camargos. Atualmente, abriga o Centro de Referência da Memória de Venda Nova (CRMVN), um dos principais pontos turísticos da regional que conta a história e cultura do local, por meio de imagens, fotos, e relatos de moradores e personalidades. Esse casarão foi restaurado em 2013 depois de ter passado por um incêndio em 2007.
Centro de Referência da Memória de Venda Nova. (Créditos: Arquivo GERCOM VN/Reprodução – Portal Belo Horizonte).
Esse espaço, repleto de fotografias, reconta a história desde o período em que Venda Nova servia de passagem para os tropeiros até os dias atuais, com o desenvolvimento urbano. Para realizar a visitação do casarão as informações podem ser encontradas pelo contato: ccvn.fmc@pbh.gov.br
Ambiente interno do casarão. (Créditos: Reprodução – Canal de YouTube DIRE VN – 313 ANOS | Vídeo 313 anos de Venda Nova MOV 2)
Além do CRMVN, o Centro Cultural de Venda Nova (CCVN), inaugurado em 2007, também recebe exposições fotográficas históricas, mas que também contam um pouco da Venda Nova atual, com expressões artísticas efervescentes, como batalhas de hip hop, peças de teatro e o trabalho de artistas visuais.
Centro Cultural de Venda Nova. Créditos: Ricardo Laf/PBH
O local conta com uma biblioteca, que permite o empréstimo de livros, quadrinhos e demais materiais, focando em ações de formação e difusão cultural para a população da região. Ambos os locais são gratuitos e abertos à visitação. Para consultar a programação do centro cultural você pode acessar aqui.
Para aqueles que buscam um refúgio na natureza em meio a aceleração da cidade, Venda Nova possui o Parque Alexander Brandt, localizado na Rua Joaquim Gonçalves da Silva, 67, no bairro Rio Branco. O espaço possui mais de 80% da vegetação nativa, com caráter mais contemplativo.
Já o Parque José Lopes dos Reis, também conhecido como Parque Baleares, oferece uma infraestrutura para piqueniques e brinquedos para os mais novos, em meio ao contato com a vegetação e os animais do local.
A regional ainda conta com a segunda maior área verde de Belo Horizonte, o Parque Estadual do Serra Verde. Criado em 2007, conta com 142 hectares e atua como um importante respiro verde na cidade, além de ser um guardião da biodiversidade.
Parque Estadual Serra Verde. (Créditos: Divulgação – Parque Estadual Serra Verde/Reprodução – Portal Belo Horizonte).
A programação do parque inclui trilhas temáticas, diurnas e noturnas, para todos os públicos. Há também ações de educação ambiental com escolas da região, além da recepção dessas instituições de ensino para visitas ao parque. Com sua proximidade aos bairros, o Serra Verde auxilia na preservação dos mananciais, da vegetação e de muitas espécies de animais, frente ao crescimento urbano.
A fé e a festa são movimentos muito marcantes na regional. Em 1750, a primeira Capela Santo Antônio foi inaugurada, e até hoje a praça em frente a igreja é conhecida por ‘’Praça da Matriz’’.
Após essa primeira capela, mais duas edificações substituíram a primeira, e hoje, estão construindo o que dizem ser a igreja definitiva de Venda Nova, localizada no mesmo terreno das edificações anteriores.
Quanto às festividades, muitas são as expressões culturais em Venda Nova, que foram mapeadas em um projeto chamado ‘’Trilhas de Memórias de Venda Nova – BH’’, coordenado pelas professoras Karla Cunha Pádua e Lana Mara de Castro Siman, do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEMG. O site permite às pessoas navegarem pelo mapa por diferentes eixos e festividades que acontecem na regional. Esse projeto pode ser acessado clicando aqui!
Uma das festas mais tradicionais acontecia nas famosas Quadras do Vilarinho: o saudoso “Baile da Saudade’’, realizado desde 1983. O evento ficou conhecido em toda Belo Horizonte em meados dos anos 90, ao ter uma visita do “Capeta da Vilarinho”, que dançou por uma noite inteira nas quadras do baile.
Com o tempo, os bailes foram se ressignificando e se modificando desde seu início. As Quadras do Vilarinho ficaram conhecidas pelos bailes funks, impulsionados pela juventude dos anos 2000, como uma manifestação da modernização das novas juventudes e da necessidade de um espaço para que suas expressões culturais fossem ouvidas e compartilhadas. No final de 2024, as quadras foram colocadas à venda, gerando incertezas sobre o futuro de um espaço que durante o dia era apropriado por pessoas praticantes de esportes e, à noite, pelos bailes funks. Após a venda, as quadras seguem existindo, em um espaço reduzido, mas que continua a reafirmar seu potencial cultural e de lazer para a população de Venda Nova.
Acima vemos que mesmo com a venda de parte das quadras, ela se mantém na paisagem, no imaginário e como importante equipamento de lazer para a população de Venda Nova.
Simbolicamente, terminamos com esse exemplo das Quadras do Vilarinho para ilustrar como Venda Nova vai se adaptando ao longo do tempo com as demandas da população, com o crescimento, e tentando manter sua essência mesmo com as dinâmicas urbanas constantes que modificam e alteram a percepção e apropriação do espaço.
Referências
Venda Nova mais antiga do que Belo Horizonte.
BH em cantos: casarão centenário.
EDUCAR pela Cidade: Regional Venda Nova.
Para Saber Mais
MARTINS, B. V. Venda Nova. Belo Horizonte, MG: Conceito, 2021. 167 p. (BH. A cidade de cada um, 35). ISBN 9786500294354