Descubra como essas áreas atuam e de que forma elas podem mudar a realidade de várias pessoas
30 de setembro de 2025
Laura Lima dos Santos, estudante de pedagogia da UFMG e bolsista do Núcleo de Ações Educativas e Acessibilidade
A palavra educação está associada, de forma direta e imediata, à imagem das escolas e salas de aula. No entanto, os processos educativos ocorrem nos mais variados espaços da sociedade, desde as comunidades até as ações coletivas organizadas em instituições de caráter social, cultural e educacional. Partindo dessa perspectiva, a pedagogia social se caracteriza enquanto ciência que busca compreender, refletir e desenvolver os processos educativos para além do ambiente escolar. Já a sua dimensão prática é representada pela educação social, na qual as aprendizagens e dinâmicas fundamentadas pela pedagogia social são colocadas em ação, com o objetivo de estabelecer uma conexão entre a sociedade e a educação (Caliman, 2011; Soriano Díaz, 2006).
Frequentemente, os termos “pedagogia social” e “educação social” são abordados como sinônimos. Porém, mesmo que caminhem juntos, é essencial destacar a diferença entre eles. Segundo a perspectiva de Caride (2005), a pedagogia social ocuparia o campo teórico-reflexivo, enquanto a educação social atuaria no domínio da intervenção e da prática cotidiana (Rodrigues; Silva, 2023).
Tanto a pedagogia social quanto a educação social não visam apenas o ensino formal, mas sim a formação integral do ser humano, considerando sua realidade de vida, cultura e condições sociais. Essa perspectiva abrange diversas parcelas da população, como grupos que se encontram em situação de vulnerabilidade ou exclusão social, oferecendo oportunidades de aprendizado, convivência, capacitação profissional e construção da autonomia (Caliman, 2011). Nesse sentido, a pedagogia escolar se concentra na educação dentro das escolas, enquanto a pedagogia social reconhece que a educação é realizada em diversos ambientes, como abrigos, projetos sociais, ONGs, hospitais, instituições culturais e comunidades.
A educação escolar é essencial, porém não abrange todas as questões sociais e não é a única maneira de luta contra a exclusão social (Caliman, 2011). Assim, a pedagogia social e a educação social auxiliam e fomentam parcerias com a educação formal e os espaços físicos das escolas.
Nós não precisamos ir muito longe para encontrar exemplos de ações da educação social em nosso cotidiano: na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) existem diversos projetos sociais, ONGs, entre outros. Vamos conhecer algumas dessas iniciativas a seguir:
Programa de Incentivo à Aprendizagem de Minas Gerais – Descubra. (Créditos: Reprodução/Sistema Ocemg).
Desde 2019, o Programa Descubra, desenvolvido pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em parceria com diversos órgãos públicos, está presente em cidades como Belo Horizonte, Contagem, Sete Lagoas, Uberlândia e Ouro Preto. O Programa oferece aprendizagem e qualificação profissional a adolescentes e jovens em situação de extrema vulnerabilidade social, incluindo aqueles em cumprimento de medidas socioeducativas. A iniciativa promove autonomia, inclusão social e exercício da cidadania, conectando os participantes a oportunidades de qualificação profissional e redes de apoio.
Creche da Ação Social da Paróquia Bom Pastor (CBP). (Créditos: Reprodução/Instagram CBP).
Localizada no bairro Dom Cabral, em Belo Horizonte, a Creche CBP é mantida pela Paróquia Bom Pastor e atende cerca de 95 crianças, até os cinco anos de idade, em situação socioeconômica desfavorecida da comunidade e regiões vizinhas. Com a missão de amparar e proteger a infância, a instituição promove educação infantil, socialização e desenvolvimento pessoal, social e cultural, resgatando valores e reforçando direitos e deveres. A manutenção da creche é garantida por parcerias com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), doações de voluntários e participação da comunidade, além de eventos e bazares. Em parceria com a Pontifícia Universidade Católica (PUC), a creche também promove oficinas de esportes, lazer e natação, fortalecendo o aprendizado e a inclusão social das crianças.
Oficina do CRAS Apolônia, que fortalece vínculos, autoestima e participação social das mulheres da comunidade. (Créditos: Barbara Donadoni/PBH).
Espalhados por todo o país, os Centros de Referência de Assistência Social (CRAs) são unidades públicas do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) que oferecem apoio a famílias em situação de vulnerabilidade social. Em Belo Horizonte, funcionam 36 unidades distribuídas pelas nove regionais da cidade, alcançando mais de 150 mil pessoas por ano. Entre os serviços oferecidos estão a Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), que realiza atividades coletivas, como palestras, oficinas, campanhas, reuniões comunitárias e eventos, para fortalecer a função protetiva da família, prevenir a ruptura de seus vínculos, promover o acesso e usufruto de direitos, e contribuir para a qualidade de vida.
Ceu das Artes Nova Contagem. (Créditos: Janine Moraes/PMC).
O Ceu das Artes de Nova Contagem é um espaço multidimensional de cultura, esporte e lazer voltado à transformação social da comunidade. A iniciativa oferece a crianças, adolescentes e jovens a oportunidade de desenvolver talentos, fortalecer vínculos e projetar novos futuros. O equipamento reúne áreas internas e externas para práticas culturais e esportivas, além de cursos profissionalizantes que estimulam a autonomia e a inclusão social. Sua programação inclui atividades como batalhas de rima, oficinas, modalidades esportivas e ações do programa Fica Vivo, reafirmando o compromisso com a convivência, o pertencimento e a valorização da cultura como direito.
Associação Profissionalizante do Menor (Assprom). (Créditos: Reprodução/Site Assprom).
A Assprom é uma entidade filantrópica que atua desde 1975 na profissionalização e orientação de adolescentes e jovens de famílias em situação de vulnerabilidade social, por meio dos programas socioassistenciais Adolescente Trabalhador e de Aprendizagem. Com atendimento permanente à cerca de três mil jovens, em parceria com órgãos públicos e empresas privadas, a instituição promove inclusão social, exercício da cidadania e desenvolvimento de comportamentos solidários. Além da qualificação profissional, a Assprom realiza atividades de socialização que despertam a autonomia, o protagonismo e a valorização de outras expressões culturais
A pedagogia social nos mostra que, quando a reflexão teórica sobre os processos educativos se alia à prática da educação social, a transformação se torna cada vez mais possível e concreta. Projetos e instituições como os apresentados até aqui estão por toda parte, em suas mais variadas formas e nuances próprias. Por isso, vale a pena pesquisar, visitar e apoiar instituições que fazem a diferença todos os dias. Afinal, ainda que essas ações e instituições possam passar despercebidas em nosso cotidiano, elas são muito mais relevantes e importantes na vida das pessoas do que se imagina.
Referências
CALIMAN, G. Pedagogia Social no Brasil: evolução e perspectivas. Orientamenti Pedagogici, v. 58, n. 3, p. 485-503, jul./set. 2011.
CALIMAN, G. Pedagogia Social: contribuições para a Evolução de um Conceito. In: SILVA, R. et al. (Org.). Pedagogia Social: contribuições para uma Teoria Geral da Educação Social. p. 236-259. Expressão e Arte, 2011.
RODRIGUES, A. de O.; SILVA, S. P. da. Pedagogia Social e Educação Social no cenário brasileiro: para além e aquém dos muros da escola. Revista Lusófona de Educação, Lisboa, v. 60, p. 171-185, 2023.
SORIANO DÍAZ, A. Uma aproximação à Pedagogia-Educação Social. Revista Lusófona de Educação, Lisboa, v. 7, p. 91-104, 2006.
Associação Profissionalizante do Menor.
CRAS (Centro de Referência de Assistência Social).
Lazer e inclusão: CEU das Artes Nova Contagem promove programação gratuita para todas as idades.