Você já teve medo de uma rocha espacial cair do céu e acabar com o planeta? Isso pode mesmo acontecer?
16 de setembro de 2025
Por João Victor Lima Evangelista,
estagiário no Núcleo de Astronomia do Espaço do Conhecimento UFMG
A ideia do planeta ser atingido por um asteroide está no imaginário humano e já foi tema para muitos filmes como Armageddon (1998), Impacto Profundo (1998), Destruição Final (2020) e Não Olhe Para Cima (2021). Mas qual o verdadeiro risco de um asteroide colidir com o nosso planeta e causar uma catástrofe?
Diversas agências espaciais têm observado o céu ao longo dos anos e registrando o que chamamos de Near-Earth Objects (Objetos Próximos da Terra) para conseguirmos avaliar o verdadeiro risco. Porém, não basta observar, é necessário entender como esses objetos orbitam o nosso Sistema Solar, seu tamanho, velocidade e como seria caso eles entrassem em nossa atmosfera.
Para comunicar ao público sobre o risco desses objetos colidirem com a Terra e causarem um evento de destruição significante, foi desenvolvida a Escala Torino. Pesquisadores da NASA-JPL, que pertencem ao Center for Near-Earth Objects (CNEOS) calculam o risco de impacto desses objetos e produzem um ranking, enquanto outra unidade do JPL, a Solar System Dynamics (SSD), faz simulações e projeções das órbitas desses objetos e suas aproximações com o planeta.
A classificação desses objetos na escala geralmente variam de acordo com as previsões de suas aproximações com o planeta. Quando um asteroide é recém descoberto, geralmente terá uma classificação de risco mais elevada, pois estarão disponíveis poucos dados para os pesquisadores fazerem previsões de sua órbita, gerando uma margem de erro maior, o que eventualmente pode colocá-lo em rota de colisão com a Terra. Após algum tempo, com mais dados e observações, é possível melhorar essa previsão e normalmente o risco é bastante reduzido.
Em conjunto, também é avaliado qual seria a energia liberada pelo impacto do Meteoro. Atualmente o Asteroide conhecido que produziria a maior quantidade de energia ao colidir com o solo se chama 29075 (1950 DA) e a energia seria equivalente a 75 mil megatons de TNT. A nível de comparação, a Tsar Bomb, a maior bomba de hidrogênio já detonada, produziu 50 megatons, ou seja, o impacto seria 1.500 vezes mais energético. A previsão é de que uma colisão só poderia ocorrer no ano de 2880, com probabilidade entre 0,000039% e 0,0039%. Ainda assim, esse objeto não se enquadra na Escala de Torino, usada apenas para asteroides com risco de impacto nos próximos 100 anos.
Representação gráfica da Escala Torino. Todos os asteroides que observamos até o momento se encontram no nível 0 da escala, ou seja, eventos que não teriam consequência ou impacto ou tem baixa chance de ocorrência. (Diagrama Adaptado de ESA).
A fim de acompanhar com mais precisão alguns desses objetos, foi desenvolvida a Escala Palermo, que hoje em dia é bastante utilizada pelos pesquisadores e pesquisadoras. Ela acompanha os objetos de Escala Torino 0, com menor risco de impacto, que atualmente são todos os objetos observados. Quando colocados na Escala Palermo, eles são classificados em uma ordem com a qual devem receber mais atenção (observações e análises). A Escala Palermo é contínua e com valores positivos e negativos, avaliando desde o momento atual até o possível impacto e a energia que seria liberada pelo possível impacto.
Essas duas escalas utilizam uma comparação com algo que é chamado de Eventos de Fundo, que representam o estado natural das coisas. A partir deles, é definido o nível de ameaça para todos os asteroides e cometas conhecidos. Então, sempre que um Near-Earth Object ultrapassa o nível dos Eventos de Fundo (Escala Palermo maior que zero) sabemos que é um evento fora do comum e que merece atenção.
Vídeo gravado por morador da cidade de Chelyabinsk na Rússia, mostrando o meteoro atravessando o céu sob a cidade. (Créditos: Reprodução/YouTube).
Apesar das constantes observações, alguns eventos acabam ocorrendo e surpreendem a gente. Provavelmente o mais famoso foi em Chelyabinsk em 2013, quando um asteroide entrou na atmosfera e cortou o céu da cidade russa, caindo em um lago congelado. Durante sua queda, o meteoro causou diversos prejuízos e danos. Cerca de 1.500 pessoas ficaram feridas, em sua grande maioria por efeitos causados pela onda de choque da explosão do meteoro no ar. Um total de 7.200 edifícios ficaram danificados pelos efeitos da queda do meteoro, gerando um prejuízo aproximado de US$33 milhões. Talvez esse seja um dos poucos eventos bem registrados em vídeos e imagens. O monitoramento constante nos permite cada vez mais prever eventos como o de Chelyabinsk e com a ajuda de outras áreas do conhecimento, buscar respostas para eventos possivelmente catastróficos, como os retratados em muitas produções hollywoodianas.
Referências
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