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Futebol de Várzea

Saiba mais sobre a modalidade que fomenta a economia local e a transformação social em comunidades de BH

 

21 de outubro de 2025 

 

Por Mariana Taveira, estudante de Jornalismo da UFMG, para a disciplina de Assessoria de Comunicação, sob supervisão de Camila Mantovani

 

Quando falamos sobre futebol em Belo Horizonte, você logo pensa nos grandes times, não é mesmo? As partidas, os jogadores e os estádios do Atlético, Cruzeiro e América ampliam o interesse pelo esporte na capital, colaborando com outros setores da sociedade, como a economia e o turismo. No entanto, a modalidade em BH vai muito além desses times! Há muito tempo, o futebol está presente em toda cidade, seja de forma profissional ou amadora. Por isso, no texto de hoje vamos conhecer um pouco mais sobre o chamado futebol de várzea.

 

Partida de futebol de várzea. (Créditos: Rogério Souza Silva/Revista Pesquisa Fapesp).

 

Conhecidas como as famosas “peladas”, as partidas de futebol sem caráter profissional estão presentes em todo o país e representam uma forma de lazer entre pessoas das mais diversas idades. Em Belo Horizonte, o futebol de várzea, usualmente praticado em campos de terra, tem ganhado cada vez mais espaço entre os fãs do esporte na capital. Não à toa, competições como a Copa Itatiaia, o Campeonato Mineiro Amador e a Copa Centenário têm atraído grande público, com destaque para a final da Copa Itatiaia 2024, que reuniu cerca de 13 mil torcedores na Arena Independência.

 

A prática também é incentivada pelas autoridades da capital. Em 2017, a prefeitura de Belo Horizonte, por meio do programa “Várzea Viva”, iniciou a requalificação de campos de futebol, incluindo a instalação de grama sintética e iluminação de LED, além de melhorias em vestiários e alambrados. Coordenado pela Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, o programa busca melhorar a infraestrutura esportiva e promover a inclusão social nas comunidades locais.

 

O que caracteriza o futebol de várzea?

A palavra várzea refere-se a áreas planas e úmidas, situadas às margens de rios, que frequentemente são alagadas e depois formam terrenos férteis. Desde os primórdios do futebol brasileiro, essas regiões são utilizadas para a prática do esporte e, até os dias atuais, o futebol de várzea pode ser caracterizado por sua informalidade e falta de estrutura. Como mencionamos anteriormente, as partidas são disputadas em campos de terra batida ou grama irregular, sem vestiários ou arquibancadas, por exemplo. Os jogadores são amadores, sem dedicação exclusiva ao esporte, e o foco está na diversão, na comunidade e na paixão pelo jogo.

 

A Taça das Favelas, disputada anualmente, é um perfeito exemplo que demonstra como os jogos não profissionais ajudam a popularizar o esporte na cidade e, principalmente, colaborar com a valorização da cultura e com a promoção do bem-estar nas comunidades de BH.

 

Taça das Favelas 2025. (Créditos: Raphaela Potter/TV Globo).

 

Organizada pela Cufa (Central Única das Favelas), a competição é considerada o maior campeonato entre favelas do mundo, com edições masculinas e femininas. Em Belo Horizonte, participam comunidades de norte a sul da cidade, como o time do Alto Vera Cruz, da região leste, e a equipe do Aglomerado de Santa Lúcia, da região centro-sul, que levantou a taça na categoria feminina de 2024.

 

Indo muito além do futebol, o torneio promove a transformação social. Muitos participantes conciliam o esporte com outras atividades, como trabalho ou estudos, e o torneio se torna uma chance de mudar suas vidas. Talentos de diferentes comunidades podem alcançar a visibilidade de técnicos, empresários, mídias, e até de pessoas que nunca notariam a favela se não fosse pelo futebol. A Taça das Favelas não resolve todos os problemas, mas cria uma trinca poderosa de representatividade, oportunidade e ocupação positiva do tempo e espaço. 

 

A importância social do futebol de várzea

Em muitas áreas de BH, o campo de várzea é o coração da comunidade. Não é só onde a bola rola, é onde tudo acontece no dia de jogo. O entorno vira uma mini feira, um boteco a céu aberto, um baile de torcida improvisado. É o verdadeiro caldeirão social da quebrada. 

 

Um exemplo de movimentação econômica são os ambulantes que se fazem presente nos campeonatos e as pessoas que formam renda a partir da venda de um churrasquinho, um feijão tropeiro ou até uma água mineral. É uma oportunidade para muita gente que não consegue emprego fixo e vê na várzea uma chance de sobrevivência. 

 

A várzea é um dos poucos espaços na cidade, onde toda a família pode ir e curtir tudo de graça. Pai, mãe, avô, criança, cachorro… É um verdadeiro evento de convivência e laços comunitários espontâneos e afetivos.

 

Resumindo, ao redor do campo tem tudo: economia de sobrevivência, cultura popular, história oral, fofoca de bairro, solidariedade e identidade. É um ciclo que alimenta o futebol e que o futebol devolve para a quebrada em forma de pertencimento.

 

Campo de várzea. (Créditos: Tiago Lima/Sesc SP).

 

O futebol de várzea em Belo Horizonte é muito mais do que a bola rolando. É o grito da torcida, o cheiro do feijão tropeiro, o juiz improvisado e o craque da comunidade, que dribla a vida como dribla o marcador. É cultura, é sobrevivência, é vínculo.

 

Cada campo de terra ou de grama sintética espalhado pela cidade guarda uma história e um pedacinho da alma de BH. Enquanto os grandes clubes lotam estádios, a várzea segue preenchendo corações nas comunidades. Esse futebol pulsa forte, onde o povo vive, sonha e resiste, reafirmando que a várzea está viva.