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Mulheres na Ciência

15 de fevereiro de 2022

 

Quando você pensa em ciência, quais nomes te vêm à cabeça? Certamente, você se lembrará de clássicos cientistas como Isaac Newton, Albert Einstein e Stephen Hawking. Mas, apesar do que nos conta a história tradicional, o conhecimento que temos hoje, e que temos construído a cada dia, não é um feito exclusivamente masculino.

 

No texto de hoje, em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres e meninas na ciência, iniciativa da ONU e UNESCO que visa fortalecer a participação das mulheres nesse cenário, relembraremos a história de três mulheres cientistas escondidas pela história.

 

Mileva Marić


“Intelectual demais”. “Uma velha bruxa”. Esses são alguns dos comentários que a família de Albert Einstein dedicou à primeira esposa do cientista. Mileva Marić foi uma física e matemática austro-húngara, tendo estudado junto com Einstein no Instituto Politécnico de Zurique, uma das poucas universidades da Europa que admitiam mulheres na época. Mileva era a única mulher da turma e a segunda mulher a terminar o curso no Departamento de Matemática e Física da instituição.


As qualificações de Mileva não deixam dúvida de que foi uma cientista brilhante, às vezes com notas mais altas que as de Albert. A história de Marić enfrenta um dos maiores desafios das mulheres no ramo científico, a maternidade. Se ainda hoje, a criação dos filhos e as tarefas domésticas são impostas as mulheres, no início do século XX não seria diferente. Várias biografias indicam que essa realidade foi responsável por apartar Mileva do primeiro escalão da ciência.

“Apagar da história da ciência mulheres brilhantes como Mileva não ajuda no trabalho de demonstrar que nós mulheres somos tão capazes quanto os homens” – Pauline Gagnon (Física sênior da Organização Europeia para a Investigação Nuclear)

 

Mileva Marić em 1896 (Reprodução / Google Images)

 

Maria Kirch

 

A astrônoma Maria Margaretha Winkelmann Kirch teve uma infância não tradicional para uma criança na Alemanha no final do século XVII. Seu pai queria que sua filha tivesse a mesma educação que os homens, por isso supervisionou seus estudos. Kirch logo mostrou um grande interesse em astronomia e se tornou a aprendiz não oficial de um fazendeiro, que também era um astrônomo autodidata. Em 1692, Maria se casou com Gottfried Kirch, um dos astrônomos alemães mais famosos da época. O casal trabalhou fazendo observações e cálculos para produzir calendários incrivelmente precisos e posições de objetos celestes – incluindo planetas, cometas e estrelas.

Em 21 de abril de 1702, a astrônoma iniciava suas observações de rotina. Na noite anterior, Gottfried havia encontrado uma estrela variável – uma que muda ritmicamente no brilho. Ela também queria ver, então alinhou o telescópio e se preparou para fitar as lentes no ponto flutuante de luz. Enquanto Kirch olhava, ela notou uma mancha difusa de luz em sua visão periférica. Ela reposicionou o telescópio e olhou novamente. Era um novo cometa! Ela acordou o marido para mostrar a ele. No dia seguinte, ele escreveu um relatório para o rei descrevendo o recém-chegado celestial. Mas o nome de Winkelmann Kirch foi omitido do relatório. Foi apenas um pouco antes da morte de Kirch em 1710 que ele revelou que sua esposa foi quem fez a descoberta, quando ele publicou a descoberta no primeiro jornal da Academia de Ciências de Berlim.

 

Embora não seja reconhecido inicialmente, Winkelmann Kirch foi na verdade a primeira mulher a descobrir um cometa – apelidado de Cometa de 1702.

 

Maria Mitchell, pintura (Reprodução / Google Images)

 

Enedina Alves

 

Nascida em 1913, apenas 25 anos após a abolição da escravatura, a curitibana Enedina Alves Marques entrou para a história como a primeira mulher a se formar em Engenharia no Paraná e a primeira engenheira negra do Brasil.

Filha de doméstica, Enedina estudou nas mesmas escolas da filha do patrão para que uma pudesse fazer companhia para a outra. Fez o curso de magistério e foi trabalhar como professora de Educação Infantil no interior do Paraná por alguns anos. Retornou para Curitiba a fim de retomar os estudos e em 1940, ingressou na Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Enedina se graduou em Engenharia Civil, em 1945, sendo a única mulher da sua turma.

Em 1946, começou a trabalhar no Governo do Estado e logo foi transferida para o Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica, onde trabalhou no Plano Hidrelétrico do Paraná, projetando a usina hidrelétrica Capivari-Cachoeira.  Para muitos, a Usina Capivari-Cachoeira foi seu maior feito como engenheira. Dentre outras de suas obras, destacam-se o Colégio Estadual do Paraná e a Casa do Estudante Universitário de Curitiba (CÉU). 


Por seu pioneirismo, Enedina recebeu diversas homenagens: a casa onde ela viveu durante a infância hoje abriga o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); foi imortalizada no “Memorial à Mulher Pioneira do Paraná” ao lado de outras 53 mulheres pioneiras do Brasil, na cidade de Curitiba, entre outras homenagens. 

(Reprodução / Youtube)

 

 [Texto de autoria de Laura Bragança, graduanda em jornalismo e bolsista do Núcleo de Comunicação e Design]

 

Fontes:
Blog da Boitempo; Hypeness; Unifei; Projeto de Extensão Universitária “Meninas e Mulheres nas Ciências” – UFPR; El País e BBC