As histórias da capital mineira representadas no ambiente museal
04 de novembro de 2025
Por Fernanda Nascimento Ribeiro, estudante de Jornalismo da UFMG, para a disciplina de Assessoria de Comunicação, sob supervisão de Camila Mantovani
Que ideia vem à sua mente quando pensa em um museu? Uma concepção comum é a de um espaço quieto e frio, onde estão organizados todos os itens necessários para entender a história de um local ou assunto, certo? Mas, hoje em dia, diversos museus não se organizam mais assim.
Buscando se distanciar de uma história única, os museus têm incentivado o reconhecimento e a valorização de perspectivas que vão além dos registros “oficiais”. Por isso, hoje apresentamos uma lista de três museus que contam a história de Belo Horizonte, cada um à sua maneira. As diferentes abordagens se complementam, ampliando reflexões sobre a pluralidade que compõe a capital mineira. Confira a seguir!
Museu Histórico Abílio Barreto: a versão “oficial” da história de BH
O Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB), localizado no bairro Cidade Jardim, zona sul de Belo Horizonte, é o museu mais antigo da capital mineira. O espaço foi construído em um dos poucos casarões restantes do Arraial Curral Del Rei, que foi em grande parte demolido para a construção da cidade. O casarão histórico da Fazenda Leitão foi desapropriado pelo governo da época e, décadas depois, foi restaurado para abrigar o primeiro museu da capital, idealizado pelo prefeito Juscelino Kubitschek e inaugurado em 1943.
Para a inauguração do MHAB, o jornalista e escritor Abílio Barreto, o primeiro diretor do museu, coletou diversos arquivos e objetos que contassem a história do município. O acervo foi constituído, abrigando cerca de 20 mil itens, como periódicos, catálogos, fitas de vídeo e recortes de jornais centenários, mas também móveis, fechaduras e até um bonde elétrico e uma locomotiva a vapor.
Casarão do Museu Histórico Abílio Barreto. (Créditos: Gilvan Rodrigues/Belotur PBH).
Hoje, o MHAB convive com dezenas de outros museus, que se complementam na apresentação de uma perspectiva mais plural de diferentes aspectos da história de Belo Horizonte e de Minas Gerais. Por isso, o acervo busca destacar as transformações sociais vividas e respeitar as lacunas do museu, que não foi originalmente pensado para incluir as histórias de diversas comunidades de BH. Há também um interesse em expor acervos de outros lugares, que destacam o papel de grupos marginalizados na construção da capital, no passado e no presente. Aliás, essa visão questionadora e mais inclusiva da história “oficial” da capital é a principal motivação para a existência de um outro museu em BH, o Muquifu, que veremos a seguir.
Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos: o registro da história de comunidades invisibilizadas em BH
O Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu) está localizado no Morro do Papagaio, conhecido também como Aglomerado Santa Lúcia, na região sul da capital mineira. O Morro do Papagaio é uma das mais antigas e populosas favelas de Belo Horizonte, ocupada por famílias negras há mais de 100 anos.
O Muquifu foi inaugurado em 2012, por iniciativa da comunidade, que buscava preservar sua própria história, invisibilizada pelos registros e museus tradicionais. Localizado junto à Igreja das Santas Pretas, construída por quatorze mulheres negras e domésticas, o museu se destaca como um espaço de reivindicação da comunidade pelo direito de ser representada na história, cultura e religião da cidade. Idealizado por movimentos de jovens e pelo Padre Mauro Luiz da Silva, o Muquifu foi organizado de forma coletiva e mantido com doações dos próprios moradores para garantir a memória da comunidade e de seus antepassados.
Acervo do museu. (Créditos: Muquifu – Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos/Belotur PBH).
O Museu Abílio Barreto e o Muquifu se juntaram, em 2024, para discutir a invisibilização de grupos periféricos e vulneráveis na forma como a história de Belo Horizonte é contada. Ambos apresentaram a exposição “Generosa, Felicíssima e Nicolau: nomes sem histórias e histórias sem nomes”, aberta ao público no MHAB. A mostra resgatou o nome de três pessoas escravizadas que viviam na Fazenda do Leitão, onde hoje está o Museu Abílio Barreto, e buscou, por meio de fatos históricos e fictícios, homenagear registros apagados do museu até então.
Desde os tempos da Fazenda Leitão até hoje, Belo Horizonte se expandiu a ponto de possuir uma viva e diversa comunidade ao seu redor, que influencia e é influenciada pelas decisões tomadas na capital e pelas pessoas que lá vivem. Conhecer a Região Metropolitana também é uma forma de entender mais sobre a capital, não é?
O Espaço do Conhecimento UFMG e a exposição “MetropoliTRAMAS”
Em 2023, foram comemorados os 50 anos da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Em homenagem à data, o Espaço do Conhecimento UFMG inaugurou a exposição “MetropoliTRAMAS”, idealizada por professores de diversas áreas da Universidade, que busca destacar como os diferentes municípios e comunidades no entorno da capital mineira se conectam cotidianamente, por meio do trabalho, do lazer, da educação e da prestação de serviços diversos. Nas instalações, o público é convidado a se envolver com o acervo, exposto de maneira lúdica, com a apresentação de registros sonoros e visuais que contam sobre o cotidiano e as lutas de grupos e de movimentos socioculturais metropolitanos.
Parte da exposição “MetropoliTRAMAS”, no Espaço do Conhecimento UFMG. (Créditos: Fernando Silva/Espaço do Conhecimento UFMG).
Ao olhar para a história compartilhada que estas 34 cidades carregam, ultrapassando as fronteiras oficiais entre os municípios, a mostra busca envolver os moradores da RMBH e fazer com que eles se sintam pertencentes ao território que ocupam. Afinal, é fundamental que, para além de seus próprios limites e particularidades, as cidades possam construir coletivamente condições melhores de vida e de bem-estar para a população.
Referências
Muquifu, um lugar de novas alianças.
Fundação Municipal de Cultura.
Museu Histórico Abílio Barreto.
Espaço do Conhecimento UFMG: Exposição MetropoliTRAMAS.
Conheça o único museu de quilombos e favelas de Minas Gerais.