O cinema como catalisador de experiências educacionais – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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O cinema como catalisador de experiências educacionais

Algum filme já mudou a forma como você vê o mundo?

 

01 de abril de 2025

 

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                                                                                                           Por Jonathan Philippe e Priscila Martins, assistentes educacionais do Espaço do Conhecimento UFMG

 

O cinema é um valioso material pedagógico para professores e educadores, oferecendo um aprofundamento de diversas temáticas, de uma maneira mais envolvente e sensível. Ao utilizar filmes e documentários, os educadores conseguem estabelecer uma experiência imersiva, permitindo que os estudantes se conectem com conteúdos históricos, culturais e sociais. Além disso, o cinema pode contribuir com o desenvolvimento do pensamento crítico, ao estimular a análise de personagens, enredos e diálogos, incentivando os alunos a refletirem sobre diferentes realidades. Para os professores e educadores, o uso de filmes também proporciona uma maneira criativa e eficaz de abordar conteúdos de diferentes matérias e áreas do conhecimento, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico, participativo e acessível. Então, de que forma educadores podem utilizar do cinema para estimular debates significativos? 

 

Antes de estabelecermos as relações entre o cinema e a educação, é necessário fazer um breve panorama dessa parceria. Foi a partir dos anos de 1920 e 1930 que alguns teóricos começaram a defender a ideia do cinema como  ferramenta educativa, antes deste período, o cinema era tido apenas como um recurso de entretenimento e lazer.  Marcos Napolitano (2003) reforça essa ideia sobre o aspecto educativo e como o cinema é utilizado em sala de aula como ferramenta pedagógica. O autor destaca que “o cinema motiva para o processo de aprendizagem” (Napolitano, 2003, p. 12), sendo assim  possível aprender enquanto se diverte. 

 

Um dos teóricos que discutem a relação entre cinema e educação é Alain Bergala em: “A Hipótese-Cinema”. Em seu livro, Bergala (2005), propõe que o cinema não deve ser apenas um suporte didático para outros conteúdos, mas um objeto de aprendizado em si, fazendo com que os estudantes desenvolvam um pensamento e olhar crítico para a linguagem audiovisual. Bergala defende a ideia de que a educação por meio do cinema contribui para a experimentação e a descoberta de uma maneira inovadora e criativa. 

 

Em consonância com essa ideia, Paulo Freire, embora não tenha escrito especificamente sobre cinema, defende uma abordagem pedagógica que incorpora diversos recursos para enriquecer o ensino-aprendizagem. Recursos estes que podem ser artísticos de modo geral, estéticos e visuais, visando despertar o pensamento crítico nos estudantes e promover diálogos sobre realidades sociais, culturais e políticas.

 

Em 2014, Dilma Rousseff, então presidenta da república, sancionou a lei Lei Nº 13.006 de 26 de junho, que acrescentou um parágrafo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O texto diz: “A exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais”. Com esse movimento nota-se uma preocupação em tornar parte da educação o vislumbre de materiais cinematográficos para que muitas alunas e alunos tenham contato com esse tipo de arte, em especial a produção brasileira. 

 

A existência de leis como esta é um suporte muito importante para os professores e educadores conseguirem inserir em seus planos de aulas o contato com o cinema. Em grande parte das vezes será a primeira interação dos estudantes com as produções audiovisuais nacionais e que contam da nossa história sócio política, contudo, é preciso refletir sobre o contexto também em que essas produções são concebidas para melhor aproveitamento e na formação de um pensamento crítico sobre as produções.

 

Os filmes com pretensões históricas sempre irão refletir o imaginário dos que os conceberam e realizaram, podendo assim ajudar a compreender não apenas o passado, mas também a realidade contemporânea que representam. (FRIEDEMANN, 2016, p. 6).

 

Apesar da Lei Nº 13.0006, sabemos que a realidade das escolas brasileiras são muito distintas e muitas não têm a infraestrutura necessária para a exibição de filmes que dialoguem com as disciplinas lecionadas. 

 

Assim, para além das escolas, outros espaços de educação também se apropriam da linguagem cinematográfica para expandirem suas temáticas, podendo assim proporcionar para os públicos o contato com essa linguagem.  

 

Em espaços como museus e centros culturais, o cinema se configura como um instrumento de mediação educativa, conectando diferentes públicos e conhecimentos. Além disso, a experiência coletiva proporcionada pelo cinema,  pode contribuir para interação entre os públicos gerando um compartilhamento de ideias e a criação de significados coletivos e individuais. 

 

Museus e centros culturais utilizam de exibições gratuitas para atrair públicos com temas variados, como animações, documentários e curtas metragens. Essas produções permeiam as programações desses espaços para além das exposições em cartaz, ampliando horizontes e convidando o público a participar de debates e rodas de conversa.

 

Exibição do documentário “Lute como uma menina’’ no Espaço do Conhecimento UFMG. (Créditos: Acervo do Espaço do Conhecimento UFMG).

 

O Espaço do Conhecimento UFMG possui em sua estrutura externa uma Fachada Digital, que exibe curtas metragens e mostras de fotografia, mantendo diálogo com a população transeunte, que cruza a Praça da Liberdade diariamente em seus carros, bicicletas ou a pé.  A iniciativa atrai olhares das mais variadas pessoas, que por muitos motivos não conseguem entrar no museu, ou participar de alguma exibição de filmes e documentários.

 

Fachada Digital do Espaço do Conhecimento UFMG. (Créditos: Kayke Quadros).

 

Para além dos públicos, os espaços culturais utilizam muito do cinema em processos formativos de sua equipe, a partir de filmes e documentários que se relacionam com a cidade em que estão localizados ou com suas exposições de longa e curta duração. A proposta dessa formação continuada, seja em ambiente escolar com professores ou em outros espaços educacionais, é oferecer direcionamentos claros aos educadores, tornando o uso dessa ferramenta mais fluido para ampliar seus sentidos, sua percepção da realidade e a compreensão de conceitos trabalhados em sala. Assim, ao realizar esse tipo de formação com educadores e professores, um novo cenário de mais naturalidade surge, ao inserir essa ferramenta em seus planos de aulas e suas atividades educativas. 

 

(…) nem todos os professores estão preparados para a utilização de alguns recursos; por um lado, por falta de preparo, de outro, pela falta de interesse. Muitas vezes filmes são utilizados por alguns profissionais apenas como passatempo, ou seja, quando se pretende preencher um tempo ou quando não se tem um objetivo definido. Um determinado recurso, que poderia configurar um objeto de construção do conhecimento, resume-se a nada quando não existe preparo por parte do professor. (FRIEDEMANN, 2016, p. 8).

 

É importantíssimo que se amplifique os sentidos ao lidar com a educação. O cinema permeia nosso cotidiano há muito tempo, e assim, nos reservamos o direito de utilizá-lo também na educação, agregando bastante ao processo de formação de professores e estudantes. Ao utilizar esse recurso com os seus alunos com clareza e objetivos, os professores ampliam as possibilidades para formar cidadãos críticos na sociedade. 

 

Desde 2022, uma ação intitulada semana de cinema, em que as redes de cinema vendem ingressos a preços reduzidos como forma de tentar democratizar o acesso das salas de cinemas pela população que não o frequenta por questões do alto custo de se visitar tais sessões. Ingressos que custam em média R$24,00 passam a custar a metade do preço para todas as pessoas. Essa ação foi pensada pela FENEC (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas), e conta com o apoio da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (ABRAPLEX).

 

Em 2024, o Governo Federal anunciou a criação de uma plataforma de streaming que será totalmente gratuita e que terá foco na produção audiovisual nacional. Com essa iniciativa, o acesso a essas produções, que para muitas pessoas é dificultado seja pelo preço dos ingressos de cinema ou pela falta de infraestrutura nas escolas para a exibição dos filmes, será ampliado, permitindo que mais pessoas possam usufruir dessas obras. Professores e educadores poderão, além de levar seus alunos aos cinemas, utilizar produções cinematográficas com mais frequência nas aulas, graças à facilidade de acesso a uma plataforma gratuita. Atualmente, o cinema transcende a experiência tradicional de ir a uma sala de exibição; podemos assistir a filmes em sala de aula, na fachada de um prédio ou até mesmo em nossos celulares. É fundamental que os educadores se apropriem cada vez mais dessa ferramenta, não apenas para apreciar os conteúdos, mas também para cultivar um olhar crítico sobre o motivo de estarem assistindo a determinadas produções.

 

Devemos refletir, então, como o cinema mudou em alguma medida nossa visão de mundo, nossa experiência sobre algum assunto e pensar em como levar essas produções para sala de aula ou para espaços educativos em geral podem amplificar o repertório cultural, social e emocional de nossos interlocutores. 

 

Indicações de plataformas

CURTA ON

BOMBOZILA

ITAU CULTURAL PLAY

SESC DIGITAL – Cineclubinho

VIDEO NAS ALDEIAS

 

Referências

BERGALA, A. A hipótese-cinema. Tradução de Luiz Fernando L. de A. de Almeida. 1. ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2005.

BRASIL. Lei nº 13.006, de 26 de junho de 2014. Diário Oficial da União: Brasília, 26 jun. 2014. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13006.htm. Acesso em: 25 mar. 2025.

FRIEDEMANN, M. R. Ensino de História: o cinema como ferramenta didático-pedagógica. Semana Acadêmica, [S.l.], 2016. Disponível em: https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_publicacao_-_ensino_de_historia_-_o_cinema_como_ferramenta_didatico_pedagogica_0.pdf. Acesso em: 25 mar. 2025.

NAPOLITANO, M. Como usar o cinema em sala de aula. São Paulo: Contexto, 2006.

ROSINDO, E. C. O cinema como prática pedagógica: os desafios na educação escolar do município de Santo Antônio do Içá-AM. 2020. [Trabalho de conclusão de curso de Graduação em Pedagogia] – Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2020. Disponível em: https://riu.ufam.edu.br/bitstream/prefix/6487/4/TCC_ElaineRosindo.pdf. Acesso em: 25 mar. 2025.