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Por que os espelhos do James Webb são dourados?

Descubra como os espelhos do telescópio espacial nos ajudam a compreender o universo

 

14 de outubro de 2025

 

Por Eve Mota Reis,

estagiária no Núcleo de Astronomia do Espaço do Conhecimento UFMG

 

Em 2021, na noite de Natal, o foguete Ariane 5 foi lançado no espaço, levando o maior observatório espacial feito na história humana: o Telescópio Espacial James Webb, carinhosamente apelidado de Webb. Idealizado em 1966, o Webb tinha o objetivo de ajudar a explorar as primeiras centenas de milhões de anos após o Big Bang (o chamado “Amanhecer Cósmico”), nos ajudando, portanto, a explorar cada vez mais o passado do universo.

 

Para que o Webb pudesse ser mais potente que seus antecessores, foi necessária a colaboração de 14 países e milhares de cientistas, engenheiros e técnicos. As novas tecnologias tornaram o projeto imponente e desenvolveram elementos marcantes, como os seus famosos espelhos dourados. Esses espelhos, com sua forma de colmeia e coloração dourada, são responsáveis pela identidade visual tão notável do telescópio.

 

Dividido em 18 partes, o espelho principal funciona como um único instrumento, devido ao alinhamento tão bem feito, que se estende por 6,5 metros de altura e dá ao Webb uma área de coleta de luz seis vezes maior do que a do Hubble. É válido ressaltar que quanto maior a área coletora, mais luz vai ser captada e o telescópio será capaz de imagear objetos tênues, que são mais fracos ou possuem pouco brilho. Assim, quanto maior a área de coleta, melhor!

 

Comparação dos tamanhos dos espelhos primários do telescópio. (Créditos: NASA, ESA, CSA, STScI).

 

O telescópio espacial James Webb funciona refletindo a luz do objeto observado de um espelho principal para outro menor, e em seguida para os instrumentos responsáveis por captar essa luz que veio do objeto. A maior parte da luz que o Webb consegue captar é chamada de infravermelha

 

Ao contrário do Webb, a estrutura do telescópio Hubble, não permite que a luz infravermelha seja captada. Isso porque o próprio Hubble emite esse tipo de luz e poderia contaminar os dados. Uma analogia possível seria pensar que se ligarmos uma lâmpada vermelha em uma sala pequena, e nessa mesma sala ligássemos uma lanterna da mesma cor, a luz da lâmpada ofuscaria a luz da lanterna e não seria possível diferenciar uma da outra.

 

Ilustração que representa o caminho da luz no Webb: o espelho primário intercepta a luz vermelha e infravermelha que viaja pelo espaço e a reflete em um espelho secundário menor. O espelho secundário então direciona a luz para os instrumentos científicos, onde ela é registrada. [(Créditos: STScI, NASA, ESA, CSA, Andi James (STScI)].

 

Os espelhos do Webb foram criados de forma a refletir bem especificamente a luz infravermelha, fazendo com que muito mais dessa luz fosse captada pelos seus instrumentos. Os pesquisadores envolvidos no projeto escolheram usar uma leve camada de ouro em todos os espelhos do Webb para que isso fosse possível, uma vez que, quando comparado com alumínio ou prata, o ouro reflete extremamente bem a luz infravermelha. 

 

Se a luz que chega no espelho fosse absorvida por ele, não chegaria até os instrumentos dentro do telescópio e não apareceria na imagem que vemos. Por isso é importante que a luz seja refletida quase que totalmente pelos espelhos. 

 

Lembrando do objetivo principal do Webb de explorar o “Amanhecer Cósmico”, a luz infravermelha é essencial para compreender esses primeiros milhões de anos do universo, considerando que as primeiras galáxias da época emitem exatamente essa luz. 

 

De forma simples, podemos dizer, então, que a razão pela qual os espelhos do Webb são dourados é porque o tipo de luz que queremos estudar é melhor captada pelo ouro. Desse modo, temos mais um instrumento capaz de observar o universo para que possamos entendê-lo cada vez mais.

 

Como uma última demonstração, apresentamos aqui uma comparação interativa da diferença entre uma imagem processada a partir do Webb e do Hubble:

 

 

Referências

NASA’s James Webb Space Telescope Finds Most Distant Known Galaxy

Telescope Overview