Conheça alguns resultados da Pesquisa de Público realizada no museu em 2024 e 2025
08 de julho de 2025
Por Cecília Ferreira de Almeida e Silva, bacharel em Turismo, e Marcela Nascentes Possato, estudante de Relações Econômicas Internacionais e bolsista de iniciação científica do projeto “Estudo de público do Espaço do Conhecimento UFMG”
O objetivo de uma pesquisa é, geralmente, descobrir algo novo, investigar algo instigante ou aprofundar os conhecimentos em alguma temática que já foi pesquisada antes. É possível pesquisar em qualquer área do conhecimento, e podemos fazer isso de incontáveis formas: observando o comportamento dos animais, analisando a formação de estrelas, lendo documentos antigos, entrevistando pessoas diferentes, entre muitas outras.
Mas e quando o que gera curiosidade é o próprio museu? E quando se deseja entender quem o frequenta? Quais são as características e opiniões dessas pessoas? Uma “pesquisa de público” é uma boa escolha nesse cenário, porque se aprofunda nas características dos visitantes de uma instituição.
Lendo este texto, você vai descobrir um pouco mais sobre como funciona esse tipo de pesquisa, e conhecer alguns resultados da Pesquisa de Público realizada no Espaço do Conhecimento UFMG nos anos de 2024 e 2025.
Espaço do Conhecimento UFMG. Praça da Liberdade, 700 – Funcionários (BH/MG).
Para realizar a pesquisa, a instituição deve decidir, com base em seus interesses e objetivos, o que gostaria de compreender sobre seu público. Para o Espaço do Conhecimento, o interesse era dar continuidade à pesquisa realizada em 2017 – a primeira feita pela instituição. A de 2024/2025 busca, então, entender o que mudou, o que permaneceu e também algumas novas questões, adicionadas para enriquecer e complementar a pesquisa, que faziam sentido no contexto atual do mundo (que passou por uma pandemia que deixou muitas marcas).
O foco foi o público que visita o museu espontaneamente – ou seja, não foram consideradas as pessoas em visitas agendadas, como as escolares. Era de interesse descobrir o perfil socioeconômico destas pessoas, e também quais foram os efeitos e sentimentos despertados pelo Espaço durante sua visita. Além disso, buscou-se entender as consequências da covid-19 nos hábitos culturais dos visitantes e criar um modelo de pesquisa que pudesse ser uma referência para outros museus e instituições culturais.
Interação com a instalação “Poema-Rio”, da exposição demasiado humano. (Créditos: Cecília Ferreira e Marcela Possato).
Toda pesquisa precisa de uma metodologia: um passo-a-passo para guiar o que será feito no processo de investigação. Para isso, a primeira etapa foi construir um projeto de pesquisa e selecionar uma estudante (bolsista) que ficaria responsável por conduzi-la. Foram estabelecidos três momentos: a observação dos visitantes, um survey (uma enquete com várias perguntas pré determinadas) e a análise dos dados coletados.
Inicialmente, foi realizada uma etapa de observação da dinâmica dos visitantes no cotidiano do museu. Essa observação permitiu compreender as interações estabelecidas no espaço, considerando as relações dos públicos com o ambiente físico, com as instalações e com as demais pessoas presentes, sejam acompanhantes, outros visitantes ou integrantes da equipe do museu.
Para o survey, além da seleção de perguntas, algo muito importante a se considerar é a amostra de respondentes. É preciso ter certeza de que as pessoas entrevistadas realmente sejam o retrato do público como um todo, para que não seja feita uma generalização falsa de quem frequenta aquele espaço. Para isso, com base em um cálculo estatístico, foi decidido quantos questionários seriam aplicados, em quais dias seriam aplicados, qual o intervalo de visitantes entre a aplicação de um questionário e outro, entre outros pontos (que parecem pequenos, mas são extremamente importantes).
Por fim, foram aplicados questionários a 380 visitantes espontâneos. Assim, foram coletados dados objetivos (que vem de perguntas fechadas), e percepções e sentimentos dos visitantes, através de perguntas abertas, onde os entrevistados puderam expressar suas opiniões livremente. As respostas dos visitantes produziram resultados bem interessantes.
Aplicação da pesquisa com visitantes espontâneos do museu. (Créditos: Cecília Ferreira e Marcela Possato).
Quanto ao perfil dos visitantes, foi revelado que a maioria das pessoas que frequentam o Espaço não se diferenciam do público padrão de instituições culturais: mulheres, brancas, de alta escolaridade, residentes em bairros com alta renda de Belo Horizonte e com alta frequência a museus e outros espaços culturais. Apesar disso, foi possível observar um pequeno crescimento da presença de pessoas pretas e pardas no público, entre 2017 e 2024/2025: pessoas autodeclaradas pretas passaram de 9% para 11,1% e o percentual de autodeclarados pardos se elevou de 29% para 32,9%.
Outra evidência de que o público se diversificou foi a ampliação de locais de residência dos visitantes. A maioria dos visitantes (aproximadamente 61%) reside na Região Metropolitana de Belo Horizonte: apesar da maioria se localizar na cidade de Belo Horizonte, quase 15% residem nos municípios do entorno. Os outros 38,7% do total moram em outras cidades do estado de Minas Gerais, em outros estados ou até em outros países.
Visitantes na instalação “Tramas Educativas”, da exposição “MetropoliTRAMAS”, no Espaço do Conhecimento UFMG. (Créditos: Fernando Silva).
A maioria dos visitantes avaliou positivamente a experiência de visita, e entre os aspectos que mais chamaram a atenção, destacam-se o Planetário e o segundo andar (com suas atividades sensoriais e interativas). O quarto andar também teve destaque, principalmente pelos fósseis que compõem a exposição, já no terceiro, a instalação Cosmologias recebeu elogios pela reforma e atualizações feitas. Também foram citados o acolhimento da equipe, a curadoria das exposições e a organização geral do espaço.
Como possíveis melhorias, um ponto frequentemente mencionado foi o desejo por maior interatividade nas exposições, já que muitos visitantes relataram que interagir com os conteúdos torna a experiência mais atrativa, envolvente e memorável. Essas atividades também capturam a atenção de crianças, que é um público importante do museu.
Em relação à mediação, os profissionais foram elogiados por sua gentileza e disponibilidade, mas muitos visitantes trouxeram sugestões. Eles demonstraram não entender totalmente o papel dos mediadores durante as visitas, acreditando que sua atuação era apenas esclarecer dúvidas pontuais. Mas, nossos mediadores podem fazer visitas mediadas! Eles estão ali para enriquecer a visita com explicações e conversas mais aprofundadas sobre os temas apresentados.
Nuvem de palavras formada a partir das respostas do público, que descreveu, em uma única palavra, sua experiência no museu. (Créditos: Cecília Ferreira e Marcela Possato).
Por fim, é necessário compreender a importância desta pesquisa para o Espaço do Conhecimento, e também para seus visitantes. Graças a ela, é possível garantir que os objetivos do museu estejam alinhados com suas práticas educativas, exposições e atividades. Para o público geral, a pesquisa se converte no enriquecimento, melhoria e adaptação dessas ações.
Uma das questões mais importantes a serem pensadas nesse contexto é a democratização dos espaços culturais. Uma das ferramentas utilizadas para avançar neste processo é o trabalho educativo. Cerca de 11% dos entrevistados já haviam visitado o Espaço com a escola antes, onde vivenciaram a experiência completa de uma visita mediada. Essa vivência aproxima pessoas que fazem parte de uma parcela muito mais diversificada da população (em comparação ao público espontâneo do museu), e que muitas vezes não têm acesso aos espaços culturais, por questões de renda, acessibilidade, distância geográfica, entre muitos outros motivos, incluindo a sensação de não-pertencimento e o desconhecimento sobre atividades gratuitas ofertadas. O percentual dos visitantes que já estiveram no museu antes com a escola (ou que acompanhavam alguém que já havia visitado) foi maior para os respondentes autodeclarados negros, demonstrando que as ações educativas voltadas para o público escolar são um instrumento de diversificação do público.
A democratização dos espaços culturais é um tema complexo e delicado, porque envolve aspectos estruturais, que nem sempre estão diretamente ligados à instituição. Assim, o Espaço deve se debruçar em intensificar suas estratégias para atingir novos públicos de maneira mais eficiente. Apesar de ainda haver muito a se trabalhar, o Espaço do Conhecimento segue buscando instigar o diálogo e abrir janelas para novas ideias e discussões.
Se quer saber mais sobre a pesquisa, é só dar play no vídeo de divulgação a seguir!
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