Festival 2017

O Festival de Inverno da UFMG tem, ao longo de suas quase 50 edições, cumprido com a missão de fomento à formação, investigação e difusão artística e cultural, promovendo Minas Gerais no âmbito nacional e trazendo diversos artistas e pensadores de outras localidades e países. Assim, tem-se estabelecido intercâmbio artístico-cultural entre os sujeitos de diversas linguagens artísticas, bem como entre os da tradição, das ciências e da filosofia. Essa atitude de atravessamento de campos do conhecimento e de transdisciplinaridade foi viabilizada pela estratégia da experimentação em processos de criação. A experimentação como estratégia operadora de processos de criação significa resistir à força do ordinário para seguir em busca de um extraordinário que nos dê direção.

Em uma sociedade que insiste em disseminar “verdades absolutas” e ideias pré-estabelecidas, como as regras do que seria “o correto”, “o justo”, “o belo”, a respeito dos múltiplos temas que se entrelaçam na formação humana, a resistência está na reiteração de que é imprescindível ao cidadão desenvolver a sua capacidade de criar e manifestar o seu ponto de vista singular sobre os fenômenos que percebe, de ter a sua própria resposta às questões que enfrenta, (em vez de, simplesmente, assimilar e reproduzir aquilo que lhe é divulgado e dito como “a resposta correta”). Para tanto, a experiência artística é condição imprescindível, pois é inerente à arte a ação de inspirar as pessoas à liberdade e ao desejo de manifestar a sua própria voz.

Não por acaso, resistir, experimentar e criar, processos que estão na base de todas as edições do Festival de Inverno da UFMG, são noções que constituem a temática da qual partirão as ações formativas e de fruição desta 49ª edição – Poéticas de transformação: Criação e Resistência. Em um momento como o que vivemos, configura-se fundamental a existência de um espaço e um tempo para experimentar tal combinação, criação e resistência, para encontrar o alento de avançar, seguir adiante para realizar o realizável no trabalho sobre si e com o coletivo.

Promover a cultura em tempos adversos à formação artístico-cultural torna-se premente, dada sua natureza crítica e política. Além disso, as atividades formativas e de fruição culturais, especialmente quando promovidas pela experimentação característica dos processos de criação e a decorrente atitude de imersão, fortalecem a autoconsciência e a capacidade inventiva dos sujeitos participantes.

O aumento da carga horária das oficinas, nessa edição, e a proposição de duas residências visam fortalecer a natureza imersiva dos processos criativos que pretendemos para o Festival de 2017. Imergir na atualidade implicará resistir, devido a sua condição de aprofundamento crítico-reflexivo e verticalização criativa. Sob todas as formas, trata-se de mostrar ao outro as imensas possibilidades de resistir.