Notícias

Dimenso poltica das performances trans tema de palestra no Conservatrio

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015, s 13h43

No de hoje que a arte utilizada como ferramenta poltica. comum encontrar obras que discutem a estrutura de poder, a definio de beleza e outros padres vigentes. Na tentativa de derrubar preconceitos, muitas minorias tambm tm realizado projetos artsticos em que seus corpos so objetos de performance, para discutir o lugar que ocupam no mundo. Mas em que medida a produo de narrativas sobre si pode ser uma ttica de resistncia? Essa foi a pergunta que norteou a palestra Performances nas imagens: narrativas visuais LGBTTI como cuidado de si, ministrada pelo professor Carlos Magno Camargos Mendona, do Departamento de Comunicao Social da UFMG, na manh desta tera, 10, no Conservatrio UFMG. Durante o encontro, ele apresentou projetos protagonizados por lsbicas, gays, bissexuais, transexuais, transgneros e intersexuais que prope a discusso da homofobia.

Os corpos humanos so diferentes ao seu modo; cada um tem seus detalhes e a sua prpria forma. Ainda assim, somos humanos, e isso deveria causar uma empatia por semelhantes, criar uma proximidade. Entretanto, os preconceitos nos fazem ver o outro como um ser estranho, e no como pessoa. o caso, por exemplo, do preconceito contra pessoas trans.

Segundo Carlos Mendona, as pessoas esto acostumadas a olhar os corpos trans como exticos e o extico geralmente excludo. Quando olhamos para corpos trans como algo extico, e no pela tica do cotidiano banal, estamos colocando essas pessoas ainda mais margem da sociedade", afirma o professor. Ele explica ainda que os corpos trans so esvaziados de seu peso poltico pelo padro heteronormativo vigente. H um discurso dominante que transforma o corpo trans em algo que no deve ser, em algo que no aceito pela sociedade.

Assim, a representao visual se apresenta como ferramenta de discusso sobre o olhar para os corpos trans. As performances visuais de pessoas trans so narrativas de resistncia em que o sujeito fala por si mesmo, coloca seu prprio corpo em ao. Essas narrativas negociam a relao dos sujeitos com o mundo, restabelecendo os padres de subjetivao e combatendo o preconceito, explica Carlos Mendona.

Texto visual Para ampliar a discusso, o professor faz referncia a um ensaio fotogrfico do Coletivo Alm, que mostra pessoas trans em situaes cotidianas: estendendo a roupa, andando de bicicleta, saindo do banho, deitadas no sof etc. De acordo com ele, esse tipo de texto visual provoca uma quebra porque no imaginamos travestis ou transexuais levando uma vida comum. Os corpos trans no podem habitar a rua, habitar o dia. Imaginamos essas pessoas na clandestinidade, na prostituio, nas sombras da sociedade.

Para o professor do Departamento de Comunicao, a representao vista no ensaio tambm interessante porque no considera o passado desses sujeitos e suas transies, mas o que eles so hoje e suas perspectivas de futuro. Precisamos de representaes que no se prendem ao passado, mas que olham para o futuro e com isso trazem discusses importantes. Porque acima do extico, esses corpos devem ser vistos como pessoas.

Por fim, o professor ressalta a importncia dessas narrativas imagticas na esfera poltica. Vivemos em uma sociedade em que o grande eu majoritrio, branco, heterossexual, estvel financeiramente representa o Estado e exclui tudo que diferente. Essas performances visuais pretendem encontrar possibilidades de descrever o outro contra o eu majoritrio, produzindo quebras e aproximando o que parece estranho. Mostrar isso importante porque funo do Estado reconhecer sua multiplicidade e acolh-la, finaliza.

Silvia Dalben/divulgao Mendona: corpos trans esvaziados pelo padro heteronormativo

Fonte: Agência de notícias UFMG