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Tempo e memria so abordados pelas perspectivas da fsica e da sade no segundo dia de palestras

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016, s 13h06

O que o tempo? Se ningum me perguntar, eu sei. Se quiser explicar a quem me perguntar, a j no sei. Parafraseando Santo Agostinho, um dos primeiros a se interessar pelo tema, Alfredo Gontijo de Oliveira, professor do Departamento de Fsica, ensejou sua tentativa de, luz da fsica, conceituar tempo e memria no segundo dia de palestras do Festival de Vero UFMG e abordar a forma como essas grandezas se relacionam com os demais mbitos do mundo fsico.

Uma particularidade de sua fala foi a abordagem mais subjetiva, no estritamente matemtica, do tempo e da memria no contexto da fsica. Alfredo falou, por exemplo, sobre como a memria humana se estabelece. Memria um processo de resgate permanente. O curioso que, a cada tentativa de resgate, ns a reconstrumos, comentou.

O professor enfatizou o carter complexo da memria. complexo porque o todo da memria mais que a soma de suas partes. Nesse sentido, no se pode compreender o todo compreendendo as partes simplesmente. preciso ir alm disso, ele afirmou.

Alfredo Gontijo tambm explicou a funo exercida pelas cincias. Em um processo crescente de acumulao de conhecimentos, as cincias procuram entender a natureza em sua evoluo, de forma a poder explicar os mecanismos por meio dos quais ela avana.

Segundo o professor, o problema que, nesse processo evolutivo, a natureza est sempre se reconfigurando em estruturas cada vez mais complexas, o que deixa a cincia sempre um passo atrs. O universo est em constante evoluo. um fenmeno que se d espontaneamente. Nesse sentido, em cincia, toda verdade provisria, disse.

Tempo imaginado A tentativa de definir as implicaes do tempo e da memria na existncia humana tambm norteou a temtica da fala de Leonardo Cruz de Souza [na foto abaixo], professor da Ps-graduao em Neurocincias da UFMG. Em sua apresentao, Leonardo abordou a percepo do tempo e o funcionamento da memria na perspectiva neurocientfica.

Ele abordou as enfermidades neurolgicas que afetam a memria, como a doena de Alzheimer. Leonardo explicou que, do aspecto neurolgico, toda ideia de tempo uma representao mental. Do ponto de vista neurolgico, uma pessoa que tem uma alucinao, por exemplo, est representando mentalmente uma ideia de viso tanto como um de ns, ao ver algo, est representando. Porque as coisas que em tese existem ns tambm vemos apenas como representaes mentais, e no como a realidade, problematizou.

Para ilustrar seu ponto, o professor citou um trecho de Grande serto: veredas, de Guimares Rosa: Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. Com o trecho ficcional, o professor quis exemplificar como as representaes mentais so passveis de serem valoradas e manipuladas afetivamente. Aqui, o que Guimares Rosa est dizendo que a percepo do tempo modulvel pelo afeto, sintetizou.

Leonardo fez questo de frisar que, da perspectiva neurolgica, a ideia de tempo no obedece s leis da fsica. Ele explicou como as neurocincias se valem desse arcabouo de conhecimento para atacar problemas de sade. O que fazemos na neurologia cognitiva relacionar um dficit neuropsicolgico com uma topografia lesional, ou seja, buscamos localizar precisamente qual regio do crebro responsvel por alguma dificuldade de processar algum aspecto, por exemplo, do tempo e da memria, de forma a podermos atuar sobre ela, afirmou.

O Ciclo de Palestras do Festival de Vero termina nesta quarta, 3, com mais duas apresentaes no miniauditrio do Conservatrio, a partir das 10h. O Conservatrio UFMG fica na Avenida Afonso Pena, 1.534, Centro. No necessrio fazer inscrio prvia: a participao livre, sujeita lotao do espao.

Fonte: Agência de notícias UFMG