Foca Lisboa/UFMG |
Os professores Ricardo Takahashi, pró-reitor de graduação da UFMG, e Marcílio Freitas, pró-reitor de graduação da Ufop, participaram de mesa-redonda na manhã desta sexta-feira, 16, para discutir o acesso de alunos ao ensino superior público – e sua permanência – no contexto do advento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), da política de cotas, do Fies e do Prouni. O evento integrou o 1º Congresso de Inovação e Metodologias de Ensino, que termina hoje. O pró-reitor da Ufop apresentou números que representam os impactos dessas novidades em sua universidade. Entre outros índices, Freitas citou o aumento da repetência, a triplicação do número de candidatos por vaga e o aumento da competição, entre instituições, por alunos. “O fato da UFMG ter aderido ao Sisu, por exemplo, impactou fortemente a Ufop. Especialmente em relação aos alunos de medicina. Muitos estão saído da Ufop no meio do ano porque conseguem uma vaga na UFMG via Sisu. Essa é uma das várias questões que teremos de resolver”, assinalou. Ao comentar o exemplo dado pelo professor da Ufop, Takahashi afirmou que o governo e as universidades federais devem tratar questões como essa de forma sistêmica, e não individualizada, pois elas dizem respeito ao sistema universitário brasileiro como um todo. “A conclusão que podemos tirar é de que todas as disfuncionalidades dos modelos anteriores estão presentes no modelo atual, sem que nele estejam presentes as funcionalidades dos modelos anteriores. Já temos elementos para perceber que temos de dar um passo a frente”. Levantamento estatístico relativo à realidade da UFMG após o Enem, o Sisu e a política de cotas está acessível no site da Pró-reitoria de Graduação da Universidade. No decorrer do ano, esses dados subsidiaram série de reportagens que colocaram a graduação da UFMG em perspectiva: noticiaram-se, por exemplo, as várias transformações que ocorreram no perfil discente, como a elitização inicial do público ingressante em função do Sisu, o aumento da mobilidade interna entre os cursos e a constatação de que estudantes beneficiados pelas cotas precisaram de notas maiores para ingressar na UFMG, em 2014, que os não cotistas, no ano anterior. Em sua exposição, Takahashi listou outros problemas advindos das mudanças, como a ociosidade de vagas dos cursos menos demandados, o aumento do tempo de permanência do aluno na Universidade (e consequentemente dos custos por aluno), a ocupação das vagas disponíveis em cursos menos procurados (como Enfermagem) por alunos de cursos mais procurados (Medicina), impedindo o acesso daqueles que, de fato, desejam cursar a formação menos procurada. O exemplo da Ufop Nesse sentido, diz Marcílio Freitas, o desafio da Ufop é similar ao da UFMG: descobrir como cada mudança impactou o perfil da educação superior. “Temos os números, mas ainda encontramos dificuldade para estabelecer as causas específicas de cada mudança”. Na Ufop, a evasão aumentou, mas ainda não é possível precisar se tal evasão se deve ao Enem e ao Sisu, afirma o pró-reitor “É uma questão que tem de ser pensada. Hoje os alunos não entram mais no curso que querem, mas naquele em que conseguem. A mobilidade acaba sendo muito grande”, disse ele, identificando um fenômeno que se repete na UFMG. Marcílio Freitas observou, ainda, que houve na Ufop uma redução no índice de diplomação – de 70% para 50% –, fato que atribui a um ciclo do Reuni que ainda não se fechou. “Com a conclusão desse ciclo, a diplomação deve crescer um pouco, mas ainda assim entendemos que é imprescindível resolvermos a questão da evasão para melhorarmos a diplomação”. A exposição dos pró-reitores Ricardo Takahashi e Marcílio Freitas na mesa Acesso ao ensino superior: Enem, Sisu e mudanças na Graduação da UFMG foi mediada pelo professor Tarcísio Mauro Vago, pró-reitor de Assuntos Estudantis da UFMG. Segundo ele, o cenário descrito por ambos sugerem que “é chegada a hora de se fazer um balanço de todas essas políticas implantadas nos últimos anos” e que essa reflexão deve ser promovida “não apenas pelo governo federal, mas também pelas próprias universidades”.
Em sua participação, o pró-reitor da Federal de Ouro Preto lembrou que a universidade mais que dobrou de tamanho com o Reuni – isso depois de já ter dobrado de tamanho nos anos 90. “Antes do Reuni, tínhamos cinco mil alunos. Hoje, contamos com algo em torno de 11 mil. E houve uma grande diversificação dos cursos. Antes, metade dos alunos cursava engenharia – e vários de farmácia. Isso mudou muito. Se, no início da década de 90, a Ufop contava com nove cursos, hoje ela possui 46, que selecionam cerca de 1.300 alunos em cada semestre", detalhou o pró-reitor.