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Nº 1901 - Ano 41
27.04.2015

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Graduação em perspectiva

UFMG inicia discussões sobre a influência do Enem, do Sisu e das cotas no seu ensino

Ewerton Martins Ribeiro

Na manhã desta quinta-feira, 30, a partir das 9h, a Pró-reitoria de Graduação (Prograd) realiza reunião com a comunidade universitária para debater a estrutura do ensino de graduação da UFMG. As discussões terão como mote as mudanças no perfil do estudante proporcionadas pela tríade Enem, Sisu e política de cotas. O encontro ocorre no auditório nobre do Centro de Atividades Didáticas de Ciências Naturais (CAD1) e é aberto ao público, formado prioritariamente por coordenadores de cursos de graduação.

Inicialmente, serão apresentadas informações referentes ao perfil do alunado da Universidade no que diz respeito à adoção do modelo Enem/Sisu e da política de cotas. Também será mensurado o fluxo de alunos na Universidade. Após estabelecer o panorama socioeconômico da graduação, os pró-reitores Ricardo Takahashi e Walmir Matos Caminhas farão avaliação conceitual do desempenho acadêmico dos alunos de cada curso. Serão discutidos temas como evasão, grade curricular, normas de ensino, origem e destino dos alunos de reopção, assistência estudantil e rendimento acadêmico do estudante assistido.

Os pró-reitores farão, ainda, análise comparativa das mudanças vividas pela graduação brasileira. Ao fim do encontro, os participantes serão convidados a debater números e conceitos apresentados.

De volta para o futuro

Além da prestação de contas, a reunião iniciará as discussões de uma ampla revisão da graduação na UFMG. Para Takahashi, a Universidade ainda não teve um momento para refletir qual deve ser, sob a premissa pedagógica, a estrutura da sua formação de base. O pró-reitor lembra que a fundação da Universidade em 1927 se deu com a coalizão de diferentes escolas profissionais e que o modelo que vigora ainda hoje foi herdado desse processo, tanto em suas potencialidades quanto em suas limitações. De acordo com Takahashi, a questão problemática é que, em face dessa genealogia, a UFMG acabou se constituindo em espécie de conjunto funcional em vez de uma unidade.

“Na virada das décadas de 1980 e 1990, com a formulação das normas acadêmicas da graduação, essa discussão foi proposta pela primeira vez. As decisões, contudo, foram tomadas sob a perspectiva administrativa e econômica, e não pedagógica. Naquele momento, não era uma concepção acadêmica de Universidade que estava em jogo”, afirma o pró-reitor. Em razão disso, acrescenta, o resultado acabou sendo “um passo para trás”. “Houve a extinção do ciclo básico e o fortalecimento dos cursos. Esse processo colaborou para a consolidação de cursos endógenos, rígidos, com quase 100% de suas aulas na própria faculdade”, problematiza o pró-reitor.

Europa e Estados Unidos, no entanto, trilharam caminhos opostos investindo nos ciclos básicos. “Em Harvard, por exemplo, instituição absolutamente referencial, os jovens que desejam cursar música e aqueles que querem fazer física entram juntos no college e fazem inicialmente as mesmas disciplinas. Cerca de 30% do currículo de todos os cursos é comum à universidade inteira. Isso gera uma identidade forte. Os alunos entram ‘em Harvard’, e não em um curso específico”, diz.

Segundo o pró-reitor, a graduação na UFMG registrou uma inflexão importante no fim da década de 1990, com o início do processo de flexibilização. “Esse processo foi proposto pela Câmara de Graduação e alterava alguns ordenamentos dos cursos. Foi positivo, mas a lógica por trás não foi mexida. O que se fez foi adaptar o modelo vigente para as demandas da época”, afirma. Nesse sentido, sugere Takahashi, a ideia é que agora os fundamentos da graduação sejam de fato revistos para que a “identidade UFMG” possa ser consolidada, a exemplo do que aconteceu na Europa na virada do milênio.

Na época, explica o pró-reitor, o aprofundamento das relações na União Europeia impusera ao continente a necessidade de ações que resultassem em uma identificação comum. “Daí surgiu o ‘Processo de Bolonha’, modelo de universidade proposto para todo o continente”, afirma o professor. Segundo ele, em virtude dessa unificação, as universidades formataram as suas graduações em ciclos: “Há um primeiro ciclo de três anos genérico para algo que seria um correlato das nossas grandes áreas. Ao terminá-lo, o aluno recebe um diploma que o habilita a trabalhar em postos que não exigem formação superior específica. Esta é cursada em um segundo ciclo, cuja duração é variável”.

Ao apresentar esses exemplos, Takahashi defende que cabe à UFMG pensar um currículo comum para a graduação, abrangendo, ao menos, as grandes áreas. “Deveríamos procurar fazer mais coisas em comum na Universidade do que fazemos”, sustenta.

A reunião de quinta-feira será a primeira de uma série que vai até o fim do ano, quando a Prograd espera ter em mãos subsídios para esboçar os fundamentos do ensino da UFMG nos próximos anos.