“No Brasil, a mortalidade juvenil tem raça, sexo e idade. De quase 60 mil homicídios, 48% das vítimas são homens, negros, com baixa escolaridade e idade entre 15 e 29 anos”. Com essa provocação, a professora Andréa Guerra, do Departamento de Psicologia da UFMG, abriu a rodada de apresentações da mesa-redonda Educação integral e juventude, realizada na tarde de quinta-feira, 6, na SBPC Educação, no campus regional de Montes Claros.

Guerra apresentou resultados de pesquisas desenvolvidas desde 2008 sobre adolescência e legislação e alertou sobre os riscos da reincidência quando o adolescente é o autor do ato infracional. “Não costumamos atribuir ao jovem que passa por regimes socioeducativos o protagonismo de sua própria história; as instituições que representamos não reconhecem essa potência transformadora e inventiva. Assim, eles acabam por cumprir uma espécie de destino social marcado pelos ‘3 Cs’: cadeia, caixão ou cadeira de rodas”, afirmou.

Paradigma da potência
O ativista Jailson de Souza e Silva, do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro, defendeu a tese de que a favela não é um espaço de carência, mas um lugar de sujeitos desejantes. “É generalizado o uso das expressões carência e ausência como definidoras das condições de vida nas comunidades populares, e as leituras estereotipadas percebem os moradores como pessoas incapazes de mudar suas condições de existência e, portanto, imersos na pobreza urbana. Se trabalhamos com o olhar do paradigma da carência, nunca veremos a beleza, a alegria, a invenção e o potencial criativo das favelas e periferias. Esse olhar precisa ser substituído pelo paradigma da potência, capaz de valorizar a capacidade transformadora dessas comunidades”, afirmou Jailson, que também é professor na Universidade Federal Fluminense (UFF).

A mesa também contou com a participação de Rogéria Freire, coordenadora da área de Educação Integral da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais.