[Marcha das mulheres na Bahia. Foto: EBA]

Reportagem: Luana Macieira

O tripé gênero, classe e raça deve pautar estudos sobre desigualdade, na avaliação de pesquisadoras que participaram da mesa-redonda Desigualdades, diversidades e diferenças: para onde vamos?, realizada na tarde de quarta-feira, dia 19, durante a 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Segundo a professora Tânia Maria da Conceição Pereira Reis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os brasileiros começaram a questionar a desigualdade de gênero tardiamente, nas décadas de 1980 e 1990. “Somente quando o país começou a questionar a sua democracia é que a questão do gênero começou a ser percebida. A questão da desigualdade no Brasil é difícil de ser vencida porque tem uma origem histórica muito forte”, explicou.

Tânia Reis: desigualdade assentada em fortes bases históricas. Foto: Raíssa César / UFMG

A professora acrescentou que o tripé gênero, classe e raça deve ser considerado para estudos quantitativos e qualitativos sobre a desigualdade. “As melhores pesquisas feitas sobre o assunto consideram as três dimensões. O feminicídio e a mortalidade materna crescem entre as mulheres negras e decrescem entre as brancas. Ou seja, os dois vértices do tripé atuam juntos, o que mostra que cada pilar tem capacidade para gerar desigualdade”, disse.

Segundo a professora Miriam Pillar Grossi, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi na década de 1990 que surgiram os primeiros estudos acadêmicos sobre a mulher. Ela explicou que esses estudos foram importantes para os movimentos sociais, feministas e LGBTTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros).

“Esses movimentos deram origem a muitas políticas públicas, como a Delegacia da Mulher e a Lei Maria da Penha. Quanto mais se estuda a desigualdade, levando-se em conta gênero, classe e raça, com mais ferramentas a sociedade passa a contar para enfrentar o problema”, afirmou.

Miriam Grossi: movimentos de mulheres e LGBTTT deram origem a políticas públicas. Foto: Raíssa César / UFMG

 Estudos comparativos

A professora Elisa Maria da Conceição, da Universidade de Brasília, destacou que estudos comparativos também precisam ser feitos quando se busca entender a desigualdade. Ela apresentou pesquisa em que analisou o modo como a elite percebe a desigualdade, cotejando respostas a questionários aplicados em 1993 e em 2013.

“A desigualdade é um conceito histórico, que nem sempre existiu. Porém, nos dois períodos considerados, a percepção da elite é semelhante em relação aos motivos que geram a desigualdade. Tanto a elite de 1993 quanto a de 2013 veem a desigualdade como consequência da falta de educação entre os pobres e da falta de cumprimento dos deveres do Estado”, disse.

A professora acrescentou que estudos que levam em consideração a percepção das elites são essenciais para o entendimento da desigualdade. “Quando a elite se sente ameaçada pela pobreza e percebe que pode fazer algo a respeito, ela decide agir. Compreender como a elite pensa pode nos trazer ferramentas para combater a desigualdade”, concluiu.

Elisa da Conceição comparou a percepção da elite sobre a desigualdade em um intervalo de 20 anos. Foto: Raíssa César / UFMG