[Reportagem: Ferdinando Marcos. Foto em destaque: EBC]

Um novo modelo de gestão da pesquisa científica e tecnológica, que atenda as demandas reais e mais urgentes população, como alimentação, educação, energia, habitação, renda, manejo de recursos hídricos e saúde, foi proposto pela professora Maíra Baumgarten, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em sua participação na mesa-redonda Inovação, desenvolvimento e sustentabilidade, realizada na tarde de quarta-feira, dia 19, no âmbito da 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Em sua explanação, a socióloga da UFRGS criticou fortemente o que chamou de “empresarialização” da atividade científica, que tende à privatização e patenteamento dos saberes. “Relacionar tecnologia e inclusão social passa necessariamente pela participação coletiva, não hierárquica, no processo de organização, desenvolvimento e implementação dos conhecimentos. O foco dessas ações deve estar nas demandas cotidianas do povo, que volta a sofrer de forma alarmante com a pobreza. A cultura de inovação não pode ser pensada como salvação para cobrir diversos outros problemas estruturais do Brasil”, analisou Baumgarten.

Maíra Baumgarten: inovação centrada nas demandas sociais. Foto: Ferdinando Marcos / UFMG

A professora Adriane Ferrarini, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, também participou da atividade. Segundo ela, a globalização é marcada não só pela circulação mundial de bens e serviços como também pela pobreza e desigualdade, num paradoxo típico da modernidade. “A ciência convencional não foi capaz de medir as consequências ambientais e sociais desse fenômeno. A desigualdade no planeta está crescendo, e isso é um claro sinal de que devemos repensar nosso modelo”, afirmou Ferrarini.

A professora da Unisinos também defende a ampliação do conceito de inovação de forma a se enfrentar com efetividade os problemas “reais” da sociedade. Um dos modelos citados por ela é a economia solidária, que se baseia no empreendedorismo horizontalizado, organizado por meio da autogestão, a fim de promover a produção de capital e inovação social. “Vêm ganhando força os sistemas que enxergam no trabalho formas de emancipação e colaboração e que se debruçam sobre a melhoria da distribuição dos recursos”, informou.

Adriane Ferrarini, da Unisinos: trabalho como forma de emancipação. Foto: Ferdinando Marcos / UFMG