(Fotos: Foca Lisboa / UFMG)

A inovação como ferramenta de transformação social e econômica foi abordada em mesa-redonda coordenada pelo presidente da Fapemig, Evaldo Ferreira Vilela, na tarde de segunda-feira, 17. Os participantes da mesa apontaram desafios que precisam ser vencidos, como mudanças culturais e a garantia de legislação adequada, capaz de oferecer segurança jurídica para investimentos.

O professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral (FDC), afirmou que o Brasil não está produzindo conhecimento em profundidade suficiente para gerar inovação nas empresas nacionais, que têm buscado, cada vez mais, soluções fora do país. “O desafio da universidade é criar conhecimento relevante”, enfatizou. Eduardo Albuquerque, professor da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG, abordou os fluxos de conhecimento que articulam os diversos sistemas de inovação no mundo.

“A inovação nunca esteve tão em alta na agenda”, disse Luiz Antônio Rodrigues Elias, ex-secretário executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI). Segundo ele, mesmo com a crise, a maioria dos países desenvolvidos manteve ou aumentou o dispêndio em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), enquanto o Brasil sofre com cortes em todas as áreas. Evaldo Vilela falou sobre as ações de governo estadual para a melhoria da relação entre a ciência e sociedade e enfatizou a importância do investimento em startups.

Morte de empresas

Segundo Carlos Arruda, 77% das empresas brasileiras da década de 1970 não existem mais como entidades empresariais. O índice é considerado muito alto, sobretudo se comparado a outros países, como os Estados Unidos, em que o percentual é 50% menor. “Muitas empresas morrem não por incompetência, mas por não terem conseguido inovar para sobreviver”, comentou o professor da FDC, lembrando que, se antes bastava reagir aos novos cenários, hoje as empresas precisam se antecipar às mudanças e fazer planejamento baseado nas possibilidades de futuro.

Arruda citou o trabalho que desenvolve no Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC, com o projeto Centros de Referência em Inovação (CRIs) que são comunidades de empresas inovadoras, em que gestores se reúnem periodicamente para conversar sobre suas experiências, dificuldades e iniciativas no exercício de suas funções.

Internacionalização

Eduardo Albuquerque mostrou evidências de um emergente sistema internacional de inovação. Segundo ele, em um único ano, trabalhos que geraram patentes nos Estados Unidos citaram artigos produzidos em 81 países, o que corresponde a 42% dos artigos citados. Na Europa, 58% dos artigos citados tinham sido produzidos no exterior e, no Japão, 75%. “Há uma profunda conexão internacional na área de inovação”, disse o professor da Face.

Por meio de estudo em que mediu a rede de colaborações entre pesquisadores de diversos países, Albuquerque afirmou que, em 2015, foram produzidos no mundo 418 mil artigos em coautoria entre pesquisadores de diferentes nações. “Isso corresponde ao tamanho de toda a produção científica mundial de 1993”, informou.

O professor do Departamento de Economia da UFMG apresentou três desafios para a Ciência e a Tecnologia (C&T) global: pobreza persistente associada à desigualdade crescente, cenário de aquecimento global e novas pressões decorrentes de mudanças demográficas, com a ampliação da expectativa de vida.

Ao discutir o papel do Brasil nesse novo cenário, Albuquerque afirmou que o país precisa eliminar a pobreza, investir em energias alternativas e adotar estratégias que possibilitem a ampliação da produtividade. Também é necessário, segundo o professor, que o Brasil busque uma inserção ativa na ordem internacional em construção, com entrada na economia do conhecimento e repense os investimentos em C&T.

Cortes

Ao abordar os cortes no orçamento federal de P&D, Luiz Elias enfatizou que o desequilíbrio na economia mundial tem levado à redução do preço das matérias-primas, o que afetará drasticamente países da América Latina e do Caribe, cuja economia se baseia na exportação de produtos primários.

Elias defendeu a volta do Ministério de Ciência e Tecnologia, que foi fundido ao de Comunicações, para que o Brasil possa pensar a ciência como prioridade. “Essa pauta tem que estar na agenda da SBPC e da sociedade”, afirmou.

Startups

Evaldo Vilela abordou a geração de empregos e de riquezas e informou que em ambientes de inovação, como parques tecnológicos, um doutor empregado corresponde, em média, a mais três mestres, dois especialistas, 17 profissionais de nível superior e cinco de nível médio.

Enfatizou a importância do investimento de empresas em negócios nascentes – startups – e do trabalho que a Fapemig vem realizando ao financiar a inovação. “Estamos provando que Minas Gerais tem grande potencial de criação de uma nova indústria. Belo Horizonte já é um polo importante de investimento em startups”, disse.

Vilela falou ainda sobre a necessidade de segurança jurídica para estimular um ambiente de inovação e anunciou que Minas Gerais está concluindo os trabalhos de elaboração do seu marco legal em C&T.