[Foto em destaque: Carol Prado / UFMG]

“Capoeira não é minha, é dos africanos. É mandinga de escravo africano no Brasil”. O mestre João Angoleiro citou os versos escritos por mestre Pastinha, para começar a última aula do minicurso Presentificação estética, ética e política afro-brasileira no ritual da capoeira angola, na manhã desta sexta-feira, 21, no âmbito da 69º Reunião Anual da SBPC.

Com silêncio e em meio a concentração e sorrisos, o mestre ensinava a ginga básica da capoeira angola ao grupo de participantes. “A capoeira é a arte de lutar sorrindo”, explicou. Aos poucos, ouvindo a “ladainha” cantada pela roda  que chamava “venha ver, venha ver a capoeira”, mais pessoas se aproximavam.

Tatiana Nepomuceno, expositora no estande da Fapemig, interrompeu seu caminho rumo a uma das conferências  quando ouviu o som dos berimbaus. “É preciso ter mais intervenções como essa, pois é a partir da curiosidade que as pessoas procuram participar e entender a história da capoeira”, afirmou.

Foi assim que Gabriel Gaitan, colombiano que realiza mestrado da UFMG, conheceu o minicurso conduzido por mestre João. Ele acompanhou as atividades no dia anterior, mas não entrou na roda. Hoje, no último dia de programação científica do evento, Gabriel foi convidado a participar. “Eu já conhecia o mestre e acho incrível como a técnica dele mistura elementos de artes marciais, focando na respiração e movimentos calmos. Parece um pouco de tai chi chuan”, comentou.

Gabriel Gaitan (à esquerda) foi o primeiro a entrar na roda de capoeira. Foto: Carol / Prado

João Marcelo Silva, aluno da Universidade Federal do ABC, veio de Santos para receber uma premiação na reunião e ganhou também a oportunidade de “apreciar a energia” que vinha da roda. “Minas Gerais é um dos grandes berços da capoeira. É uma riqueza muito brasileira. Tem que prestigiar”, ressaltou.

João Marcelo Silva sentou na arquibancada na arena para acompanhar a roda de capoeira. Foto: Carol / Prado

Valorização da cultura popular

O minicurso, segundo mestre João, foi conduzido com base na vivência de capoeira que integra musicalidade, filosofia, práticas corporais e domínio do canto e ritmo.”Como festival de saberes, a SBPC incorpora a ciência da cultura popular e contribui muito para o processo de identidade e produção de conhecimento no nosso país”, destaca o mestre. Ele ainda comenta que essa presença tem que ser cada vez mais forte e que isso somente é possível por meio da valorização.

O estudante de Educação Física Donizete Chaves conta que na UFMG há disciplinas que abordam a “cultura corporal do movimento”, como luta e dança. Para ele, o minicurso “não foi só importante para o corpo, mas também para a mente”.

Ao fim da roda, os participantes e espectadores se juntaram para confraternizar, agradecer e se despedir da SBPC. “A capoeira une exus, orixás, anjos e santos. É uma cultura eclética e acolhedora”, finalizou o mestre.

Participantes se confraternizaram ao fim do minicurso. Foto: Carol Prado / UFMG